Para
começar a tratar este tema apaixonante talvez devamos, antes de mais nada,
elucidar que caminhos percorreremos, e a partir de que perspectiva, do que
denominamos subjetividade contemporânea. Subjetividade que está deslocada,
conduzida, cultivada por um movimento pouco resistente que a engolfa na produção
acelerada de um mundo que deixou a idéia de natureza para o campo do
romantismo, da ignorância e, em alguns casos, da nostalgia. Esta maneira de
situar o passado, implica que o futuro seja considerado com cuidado, como
conservatório de reservas naturais, incluindo espécies protegidas. A
subjetividade moderna está dominada pelo mundo de imagens, das aparências e
da exibição de desgraças.
Poderia,
graciosamente, avançar na direção de palavras que apontam para uma paisagem
apocalíptica. Ainda que com a idéia de que se trate do apocalipse confortável,
o daquelas pessoas perdidas nos pequenos e grandes gadgets
do mundo contemporâneo.
Não,
não me dedicarei ao gosto de angustiar-me construindo para o tema que, hoje,
nos convoca a uma visão de que o mundo é impossível de suportar. Bela
definição do sintoma em psicanálise em relação ao real. De todas as
maneiras, não deixaremos de lado a preocupação que existe em grupos
importantes da sociedade frente à idéia de uma ciência bulímica e de
cientistas - talvez mais do que cientistas - de corporações econômicas ou
de poderes desprovidos de critérios éticos de aplicação. O apocalipse
enquanto representação existe desde sempre. O que mudou foram os meios e os
agentes de sua realização.
A
mesma estrutura do saber, e o alcance obtido por ele junto com a difusão de
suas conseqüências, pode angustiar de tal modo, que a realidade não
corresponde a tanto. Há menos de 100 anos atrás, um grande número de
pessoas se suicidaram motivados pela noticias do choque entre o cometa Halley
e a Terra. Não vamos nem falar sobre a invasão de extraterrestres
magistralmente relatada por Orson Welles (1915-1985). Esta informação,
agitou a opinião pública norte-americana, cuja dose de crença no Outro os
torna uma massa de manobra fácil, modelável para os melhores e piores fins.
Temos talvez aqui um exemplo situado no lugar do sujeito, confrontado com seu
próprio vazio, ao culto de sua autenticidade, de seu próprio
desenvolvimento, de sua expansão e de sua auto-referência. Este sujeito,
claramente distinguido nesta sociedade - em que em maior ou menor grau se
divulga nas sociedades vizinhas - exige um dever: o de viver e o de gozar.
Esta exigência vem com tanta força que nas sociedades mais avançadas foi a
causa do desaparecimento, por exemplo, do direito de se fazer desaparecer por
meio do gosto com seus próprios vícios.
Não
que eu seja defensor do tabagismo. Entendo que há um outro lado desta moeda:
os que dizem que se deve reinventar, se assim um sujeito o desejar, os partidários
do "eu tenho direito ao ar puro", por exemplo. Nós sabemos que se
trata de uma ficção, haja vista que, o smog
que respiramos nas grandes cidades e, especialmente entre “Corrientes e
Talcahuano”,
parece ser uma das piores concentrações do mundo. Eu disse que não iria
desdobrar a longa lista de contaminações, a loucura aparece na dificuldade
de uma sociedade que não sabe o que fazer com seus restos de produção,
sendo ainda mais grave com seus lixos nucleares. Não sejamos ingênuos, o
excesso na produção também é uma resposta ao exorbitante que aparece no
apetite insaciável das demandas de consumo. O gosto pelos novos objetos é
maior do que pelos tradicionais e encontramos verdadeiras comunidades
compostas de consumistas, que partilham seu modo de gozo. tudo isto banhado
numa enorme solidão em que cada um pode encontrar na manifestação de um
desamparo igual ao seu, um consolo identificatório, como aquele que
assistimos nos reality shows. Passemos então à questão da tecnologia genética.
Faz
alguns anos, realizamos uma pesquisa no momento em que começava a difundir-se
em nosso país
a fertilização assistida. Um tema que fervia na sociedade com efeitos práticos
na vida das famílias. Naquele momento, eu me interessava pelo tratamento dado
à questão pela psicanálise, que marca a diferença entre pai e genitor. Era
evidente que o controle da natalidade, a fertilização assistida e agreguemos
a genética reprodutiva, faziam aparecer a disjunção, a clivagem entre o
encontro sexual e a reprodução nos seres falantes.
Salvaguardo-me
aqui do perigo em reduzir o apaixonante tema da genética à clonagem de
humanos. Fazer esta redução seria desconhecer o avanço singular da medicina
quanto aos usos da genética, precisamente, na terapêutica. Talvez nos
convenha seguir o caminho de Alan Trouson - que nos valhamos do chiste - um
australiano que é um dos pais das técnicas de fertilização assistida.
Agora ele se dedica à pesquisa das stem
cells, células recolhidas dos primeiros estágios de desenvolvimento do
embrião. Muitas vezes elas são retiradas dos embriões descartados pela
fecundação in vitro. Estas têm a capacidade de gerar praticamente todos os
tecidos do organismo.
Há
alguns meses atrás, Alan Trouson veio a Buenos Aires. Ele explicou que era
possível criar o músculo do coração, que seria capaz de curar algumas
enfermidades cardíacas. Ele disse: acreditamos que poderemos curar a
cegueira, a diabetes, as doenças do sistema nervoso como o Parkinson,
Alzheimer e a fibrose cística. Quem poderia pensar em semelhante progresso!
Temos
os que garantem que dentro de alguns anos a medicina alcançará a cura de
diversos tipos de câncer. E isto, apenas para mencionar alguns usos da
tecnologia genética. Mas, ainda temos o temor, o mal-estar. Os exercícios
feitos com as raças no século passado nos fazem supor que a genética poderá
ser a vilã da história porque poderá criar os espécimes que Aldous Huxley
(1894-1963) descreveu nas primeiras décadas do século. Esta que nos
angustiaram até nos inteirarmos que se tratava de sua metáfora
anticomunista. Porém, a advertência não é contra os avanços cientificas,
e sim sobre os usos que podem ser feitos pelos aparatos do poder, seja ele político
ou econômico-corporativo. A criação de um exército de clones, foi um dos
temores sentidos por todos, mas vejam o absurdo! Quem precisa de um exército
de pessoas que podem ser destruídas por alguns aviões? Ou como Saramago
dizia ironicamente numa entrevista dada na Internet na época do lançamento
de seu livro: "O homem duplicado": se já somos seis bilhões de
pessoas no mundo, para que clonar mais gente?
A
importância dada pela sociedade à fertilização assistida, foi deslocada
para a terapêutica, primeiramente dirigida ao uso de embriões congelados.
Sabemos que os êxitos são menores que os fracassos. Estes embriões que eram
descartados, podem, agora, ser melhor utilizados pela terapêutica já
existente e pela por vir.
Durante
o século XX, no auge dos desenvolvimentos sociais, produziu-se uma filosofia
humanista da tecnologia. Ela identificava a tecnologia moderna no âmbito da
produção e no uso de artefatos materiais. Inclui tanto os procedimentos, métodos,
processos implicados, quanto os artefatos em si. A advertência feita por esta
corrente era a de que o desenvolvimento da tecnologia moderna iria contra os
grandes êxitos culturais, colocando em risco os valores humanos superiores
incluindo a essência mesma do homem.
Promove-se
um programa filosófico que desconfia da tecnologia e tende a frear ou
interromper o desenvolvimento tecnológico. Carl Mitchan, é um de seus
defensores. Temos uma corrente contrária encabeçada por Bunge. Eles defendem
que o desenvolvimento tecnológico não representa nenhum perigo para a
cultura, pelo contrário, é a chave do progresso humano.
A
interpretação feita pela filosofia tenta integrar a ciência e a técnica
como componentes da cultura ocidental contemporânea, separando-se com John
Dewey da idéia da redução tecnologia ao âmbito dos artefatos materiais.
Considerando-as como fazendo parte do conjunto das capacidades humanas, incluídas
entre os progressos culturais, tal como a linguagem, a lógica e a filosofia
como formas de organização social e política.
Depois
da segunda metade do século XX, assistimos ao desenvolvimento das tecnologias
como forma de vida. As inovações tecno-cientificas moldaram o modo de vida,
tanto na esfera material quanto na interpretativa e valorativa. Chega-se a
falar das tecno-ciências deixando de lado a separação entre elas. É
verdade que todo este progresso, gerou outras complicações. Manuel Medina,
em um texto muito bom, chamado "Ciência - tecnologia - cultura do século
XX ao XXI", caracterizou as inovações cientificas como a proliferação
de híbridos.
Estes
surgem do enredo-confusão das divisões essencialistas e consistem em
produtos entremeados de ciência, tecnologia, política, economia, natureza,
direito e certamente da ética. Quando estes híbridos se produzem, se
implantam, começam a levantar as vozes éticas contra eles, vindas de
diferentes lugares, desde a ciência, a política, a sociedade, a moral, a
religião até a cultura.
Quais
são os híbridos mais comuns hoje? Os implantes eletrônicos no cérebro, a
clonagem de animais, o congelamento de embriões humanos, as pílulas
abortivas e pós-coito, o Viagra, os psicofármacos como o Prozak, os
circunvizinhos da realidade virtual, produzidos pelos computadores, internet,
etc. Mas em que lugares de nossas vidas estão eles, mais ou menos presentes?
Desaparece a demarcação da natureza, tecno-ciência e cultura como sistemas
fechados de objetos puros e, por sua vez, eles vão se delimitando mutuamente.
Em tempos de Projeto de Genoma Humano, pode-se pensar na natureza como um
objeto manufaturado e a ingerência genética, as biotecnologias estão dando
lugar à natureza extraída no laboratório e transformada em Real, na qual se
instala com conservadorismo ecológico, dirigido não só a preservar como
também melhorar as espécies existentes.
Qual
o lugar ocupado pelo saber na ciência? Depois de tudo que expusemos aqui,
podemos entender que a ciência não é uma leitura da natureza e sim um saber
da ciência que se posiciona de forma a determinar o real. Quer dizer que este
discurso implica, não somente, que se possa aceder ao real, senão que se o
toque, o transforme. Os que se dedicam à genética dizem que os avanços não
atingirão o homem, mas sabemos como o toca e como o tocará. Sabemos que nem
os comitês de ética, nem as leis deterão a proliferação de seus objetos
humanos.
Quanto
à psicanálise
Não
precisamos dar um tom trágico ao acontecimento, mas é necessário verificar
que intervenções farão os analistas junto a este modo de funcionamento da
sociedade pertinentes à época. Lacan sempre relevou o aspecto cômico e o
coloca como a saída possível pelo lado do chiste. Entretanto, são saídas
para o quê?
O
discurso da ciência dá a ilusão de um domínio do real que inclui duvidar
dele mesmo. Se se coloca o saber e o real como sendo a mesma coisa - o que
orienta a prática da psicanálise é o real. O sintoma enquanto é aquilo de
que se sofre, não se reduz a um saber no real, e sim a um sentido no real.
Não
vou me deter sobre este ponto. Vou me dedicar a vê-lo pela vertente do cômico.
Tomemos
o aspecto finório desta história. Pensemos: quem seriam os candidatos
humanos a serem clonados?
Por
exemplo: casais que desejam ter um filho, mas por algum motivo não podem
porque um dos dois é estéril ou porque se trata de dois indivíduos do mesmo
sexo. Suponhamos que o fato de não poderem ter filhos pelas vias normais, os
leve a querer clonar um filho. Seria simples entrar num acordo sobre qual dos
dois seria escolhido para ter sua réplica? Clonamos a mim, ou a você? Não
quero nem imaginar o momento em que teremos que receber nos consultórios
pessoas que tragam este tipo de questão! Eu gostaria que fosse ela a clonada
porque não desejaria colocar no mundo alguém tão inseguro, ou tão míope
quanto eu. Ou, ao contrário, sujeito tão narcísicos que querem ter a si
mesmo várias vezes. Escutei falar que existe um banco de espermas daqueles
que receberam prêmio Nobel com finalidades de reproduzir e duplicar gênios.
Eles acreditam que clonar gênios faria com que uma sociedade repleta deles
fosse muito melhor do que é atualmente.
Suponhamos
um homem que ama uma mulher. Por que não quereria tê-la, alguns anos mais
jovem do que é? A dimensão do cômico suscita este modo de situar as coisas.
Obviamente, aponta para o falo, que a esta altura parece um pequeno apêndice
excedente, que podemos esquecer que seja necessário para a reprodução
humana.
Como
dizíamos no começo, isto tem um porquê: a disjunção entre o real da
sexualidade humana e a reprodução animal, que mostra a ausência de uma pulsão
reprodutiva no inconsciente. Como neste lugar há um buraco fundamental, então
algo aparece no seu lugar com a função de não deixar que se escreva.
Para
a psicanálise, o sintoma é isto que vem neste lugar, com um aspecto de
regularidade, de lei que é particular a cada sujeito, com um aspecto de real
que também é próprio a cada um. Há um saber que, ao nível da espécie não
está inscrito no real, aquele que para cada sujeito se mostra em seu sintoma.
Este saber que não está inscrito no real concerne à sexualidade, aquele com
a qual cada um se arranja como pode. Com este acontecimento uns se viram
melhor que os outros.
Ao
nível dos animais, encontramos o instinto que dirige de forma típica e
invariável a escolha do parceiro para cada espécie. Ao nível do desejo, nos
falantes se verifica que o que se coloca é mais da ordem de uma pergunta. É
com perplexidade que cada um trata o problema. Sabemos que ao nível da pulsão
não há nada que assegure o lugar do Outro no nível do sexual. Se há
sintoma, não há saber no real que diga respeito à sexualidade.
Como
é possível captar, na experiência analítica, a ausência de saber no real?
Notamos nos relatos que escutamos, os que situam cada caso, aquilo que para
cada sujeito implica uma função determinante na sua vida, uma desventura que
o marca e pode dizer que isto não estava escrito e nem previsto. Um mau
encontro diante do qual alguma instância se divide e, que nos relatos do
sujeito, ele a toma como a causa de sua orientação sexual ou da falta de
eleição sexual. Mas, também podemos verificar algumas palavras investidas
libidinalmente, que atraem a libido e que levam o sujeito a decidir sobre os
investimentos fundamentais que condicionam os modos por meio dos quais se
relacionará sexualmente. O gozo sexual se apresenta sob as espécies do
traumatismo, como preparado pelo saber, desarmônico com o que se apresenta
ali. A contingência se mostra pela constância que captamos nestes casos. A
constante é a variabilidade mesma. A variabilidade é que não há um saber,
neste sentido, pré- inscrito no real. É a contingência que decide o modo de
gozo do sujeito.
A
genética é ética?
Alejandro
Tomassini Bassols
escreve que no seu estudo sobre genética, sociedade e filosofia, o que
determina os indivíduos não é um novo fenômeno, que agora podem fazer com
maior esmero e de forma mais eficaz. Ele tem razão. Mas, por acaso, a contingência
fica reduzida à necessidade, ao simples desejo veemente? De fato, não há
saber que a reduza efetivamente com sucesso. Lembrem-se do filme sobre a mosca
e aí teremos um exemplo da contingência elevada ao sujeito-mosca.
Teremos
mudanças nas famílias a partir da técnica genética aplicada à reprodução
humana? Sim, certamente. Serão mudanças aterrorizadoras? Não acredito.
Dependerão também da contingência. Freud entende que a família é o Édipo
e o motor é a castração. Cada um, clonado ou não, terá que se haver com
este laço e com a neurose infantil que é a construção que o sujeito
inventa para responder ao enigma sobre a relação dos pais. A novela familiar
implica no ciframento em que se presentificam os desejos do pai e da mãe. A
catástrofe se apresenta quando, pelas vias mais normais, o filho é produto
de um não-desejo.
O
Nome-do-Pai não tem que padecer da ausência da pessoa. Às vezes se padece
de ume presença maciça quando, por exemplo, o pai impede a mãe de ocupar-se
de seus filhos. Ele, que irá advir como sujeito, ainda que nascido pela mediação
da ciência, terá que se situar na estrutura do Outro, no desejo que o gerou
e implicará fazer-se responsável por ele. O que não coincide com o
nascimento e é uma evidência de que os genitores podem ser substituídos.
Lacan
deslocou a questão do casal, pai e mãe, para o vinculo homem e mulher. Aí
se situa o abismo, este vazio que assinala a falta de simetria entre os sexos.
Lacan assinalou nos anos 60 que a força do costume poderia levar mulheres
revoltadas falicamente a serem inseminadas artificialmente a partir do esperma
de um grande homem, não se trataria necessariamente de uma concepção de uma
reivindicação fálica típica da histeria, nem a reivindicação de sujeitos
sadeanos a gozar como lhes aprouver de um direito universal a tudo.
Pensamos
que poderia se tratar de um anúncio profético, de uma tentativa brutal de
volta de uma submissão do gozo feminino a um fundamentalismo. Como aliás,
temos visto nos últimos anos. Mas, imaginemos um fundamentalismo que tenha
como objetivo, por exemplo, a instalação de uma raça de grandes homens.
Isto não seria um problema especifico das mulheres, nem dos pais, nem
produzido por uma tecnologia genética. Se existe algo de uma histeria nisto,
é porque sabemos como historicamente foi objeto de sacrifício e perseguições,
até que Freud descobriu uma maneira de escutá-la, o que diminuiu
parcialmente este efeito.
Se
o gozo feminino é rechaçado, vemos a clara expressão da falta de simetria
na sexualidade humana, nem a ignorância, nem o desvario do olhar, nem a ignorância
nem a impugnação pela ciência podem mudar o que uma decisão política pode
sustentar.
Para
encontrar alguma resposta para isto, a análise dos sujeitos poderá juntar
entre suas conseqüências, o que lhe oferece a lógica coletiva e o que a ação
analítica consiga efetivar no pacto social.
Lacan
se perguntava, muito no começo de seu ensino : por que os planetas não
falam? Em principio, porque se deslocam e reaparecem sempre no mesmo lugar.
Mas nós os fizemos falar e seria um grande erro deixarmos de nos perguntar
como isto se fez possível. Durante muito, muito tempo eles arrastaram um resíduo
de uma época em que tiveram uma maneira de forma existência subjetiva. Nunca
se sabe o que pode acontecer a uma realidade até o momento em que,
inscrevendo-a numa linguagem, a reduzimos. Só estamos seguros de que os
planetas não falam, quando calamos sua eloqüência, ou seja, quando a teoria
newtoniana produziu a teoria do campo unificado sob uma forma que veio a ser
completada depois, mas que já era perfeitamente satisfatória para todas as
mentes humanas.
A
teoria do campo unificado está resumida na lei da gravitação que consiste
essencialmente em que haja uma fórmula que mantenha tudo isso junto. Agora
podemos lançar a perguntar: os genes falam?
O
problema de saber se falam não fica resolvido pelo fato de não responderem
ainda que possuam uma linguagem. Não estamos tranqüilos, um dia algo pode
nos surpreender. Não caiamos no misticismo, dizia Lacan, não terminarei
dizendo que os átomos e os elétrons falam. Mas, por que não?
Tudo
é como se fora. Em todo caso, a coisa se demonstraria a partir do momento em
que começaram a nos mentir. Se os átomos nos mentissem, se fossem espertos
conosco, ficaríamos convencidos com justificativa para tal.
A
comunidade analítica tem uma função a cumprir em um trabalho que ultrapassa
os limites do consultório, assim como a comunidade cientifica franqueia os
limites do laboratório.
Há
uma voz em cada disciplina que deve ser escutada, dando razões, encontrando
argumentos, opondo posições, em uma palavra, dando uma orientação contra o
silêncio.
Tradução:
Rachel Amin de Freitas.
Revisão
Técnica: Tania Coelho dos Santos.
N.T.: Referência a duas ruas na cidade de Buenos Aires (Argentina).
Argentina. MEDINA,
Manuel Ciencia-tecnología-cultura
del siglo XX al XXI. Barcelona: Anthropos, 2000. BASSOLS,
Alejandro Tomassini- Genética,
sociedad y filosofia.