A ciência não é para a psicanálise um ideal a atingir. Mas a psicanálise, bem como a ciência,
não ignora que o real é impossível porque não há relação sexual. O saber enraíza-se
primitivamente na pulsão, no significante-mestre arbitrário. O princípio que funda um campo de
conhecimento qualquer, não é verdadeiro ou falso. É sempre um neologismo, uma invenção. O
progresso das ciências as leva, muitas vezes, a esquecer essa origem obscura do saber no gozo.
Chegam a acreditar que o saber está no Real.
A invenção da ciência tende a se instalar como uma nova tradição, esquecendo-se do acaso, da
novidade de sua origem. Lacan opõe a ciência, no sentido forte do termo, à tradição. A tradição
é o esquecimento das origens. O psicanalista está destinado a recolher esses efeitos de
desconhecimento, tudo que ela exclui de seu campo: o sonho, o ato falho, o lapso, o sintoma. Se
compreendemos esse laço estrutural entre a ciência no sentido forte e a invenção da psicanálise,
o que vou dizer agora não vai parecer um paradoxo. Como o sujeito (o psicanalista, inclusive)
sobre o qual a psicanálise opera, é somente o sujeito da ciência, é preciso constituí-lo para
levá-lo a fazer a experiência de um outro Real, o do sintoma. A formação do espírito científico,
é uma das condições da educação de um psicanalista capaz de ler o inconsciente como desvio, como
Witz, como invenção do sentido, como sintoma que irrompe no saber estabelecido. É o que
esperamos da pesquisa no ISEPOL.
Tania Coelho dos Santos