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Este
título parece considerar que um tipo clínico pode ser descrito
a partir da divisão entre masculino e feminino. Poderíamos
pensar, ao contrário, que uma clínica estrutural transcende os
gêneros. É verdade que pegamos o hábito de falar da histeria
no feminino e da neurose obsessiva no masculino. Lacan raramente
faz objeção a esta dissimetria, mesmo assinalando que “o
histérico não é obrigatoriamente mulher e o neurótico
obsessivo não é obrigatoriamente homem” (1968-69, p. 386).
Dora permanece o paradigma da histeria e o Homem dos ratos, o do
obsessivo. Nada disso impede que Sócrates seja considerado histérico,
não somente devido a seus sintomas, mas também devido ao
questionamento do mestre. Existe uma especificidade da neurose
obsessiva feminina que a atualidade faz reaparecer? A clínica
dos TOCs estimula uma reflexão contemporânea sobre a obsessão.
Problemas
de diagnóstico
Uma
primeira observação diz respeito aos sintomas obsessivos (ou
considerados como tal) que podem ser observados em sujeitos
femininos, mas que não comprovam a estrutura. É o caso dos
mecanismos de defesa e de ritualização descritos por Anna
Freud em Le moi et les mécanismes
de défense (1936) ou segundo as premissas da Ego psychology, ou, então, nos exercícios de interpretação das
defesas de Otto Fenichel (1953).
Não
basta a mania de arrumação, nem de arrumar a cama
perfeitamente todas as manhãs, ou de organizar meticulosamente
sua biblioteca para ser obsessivo. É quando se teme que os
livros mal arrumados caiam na cabeça de alguém próximo que
algo vai mal (inclusive porque o risco aumenta ao arrumar). Também
não é suficiente que haja uma clivagem entre o objeto de amor
e o objeto de desejo numa mulher para que faça parte do tipo clínico
em questão. Freud tornou célebre o rebaixamento do sujeito
como condição para o desejo no homem, mas este rebaixamento não
sofre discriminação na repartição entre os sexos, a prova é
que existe um rebaixamento histérico. Karen Horney (1922-37)
descreveu muito bem esta antítese da estrutura e do sintoma em
“A feminilidade inibida”, que é um clássico da clínica.
Sintomas como a idéia fixa em sujeitos femininos, descritos por
Janet, atravessam todas as estruturas clínicas e devem ser
opostos à estrutura da obsessão, que implica em um pensamento
e uma verbalização muito precisos, em formações reativas,
etc. (o vimos com o Homem dos ratos). É o fato de não
distinguir essa estrutura significante com o comportamento
ritualizado que explica o sucesso dos TOC, entidade trans-clínica
e, mais exatamente, trans-estrutural, que pode designar tanto um
sujeito esquizofrênico, quanto um autista, quanto um neurótico.
Na
literatura analítica clássica, uma questão diagnóstica se
coloca concernindo à melancolia e à obsessão. É o caso de
uma jovem paciente de Abraham com um ritual para dormir: toda
noite ela se vestia impecavelmente arrumada como se esperasse a
morte. Sua identificação com o pai morto não afastava a
melancolia (Abraham,
1965, p. 16-122). O doente de Daniel Lagache, em seu “Deuil
pathologique” (1965), realiza um suicídio melancólico no
exato momento em que o tratamento se direcionava para a elucidação
de um luto impossível de fazer: o de seu filho, morto por
acidente na casa de uma mulher que não o queria lá, pois
achava que ele atrapalhava e demonstrava seu ódio de diversas
maneiras.
Esta
superposição de uma estrutura qualquer e um sintoma obsessivo
se verifica também na psicose. Um caso de Hanna Segal (1974),
comentado há pouco na seção clínica, dava a ilustração da
suplência pela dúvida de uma estrutura paranóica em um homem.
O sujeito passava duas horas por dia tentando resolver um
dilema: deveria ele tomar um banho de banheira ou digitar na máquina
de escrever? Uma mulher, notoriamente paranóica, descreve um
ritual imutável no momento do aperitivo: pistaches e amendoins
sempre antes das nozes ou nada.
Vale
lembrarmos do comentário sobre o Retrato
do artista, de Joyce, feito por Jacques-Alain Miller (1977,
p. 16); o ego de Joyce, construído “como um retrato”, dá
forma a um imaginário de segurança, é um eu obsessivo. Se
ficarmos atentos à ideologia da personalidade na qual “se
construir” se torna o trabalho de uma vida, percebemos que o
sintoma tem um belo futuro pela frente. Nossa teoria da psicose
não se opõe ao fato de que um sintoma obsessivo possa permitir
a estabilização de uma psicose ordinária. Vimos, no CPCT, um
indivíduo sem documentos, instalado na ambivalência entre a
identificação com um pai idealizado e a rejeição das insígnias
de sucesso social, se revelar um megalomaníaco delirante.
Lembremos
ainda que o episódio obsessivo da neurose infantil do Homem dos
lobos, de Freud, deve ser reconsiderado à luz de sua crise
paranóica de 1926. Isto é, são o sentido e a função do
sintoma que determinam sua estrutura e não a observação de um
comportamento. Existe um mundo entre a defesa contra impulsos sádicos
ou perversos, em um ritual de conjuração, e bater com a cabeça
na parede dez vezes ao dia para resistir a um impulso suicida.
Lacan
nos apontou esta distinção entre o sentido e a estrutura em
seu “Introduction à l’édition allemande d’un premier
volumes des Écrits” (2001), particularmente no caso da
neurose obsessiva, pois afirma que um caso de neurose obsessiva
não ensina nada sobre outro do mesmo tipo. Isto para dizer a
que ponto o sentido e a função do sintoma não seriam, a
priori, legíveis a partir de padrões e parâmetros que, de hábito,
se ligam à obsessão. É um assunto importante, pois serve para
saber se devemos dar ocasião ao sujeito de superar suas
defesas, derrubá-las, como se diz, para fazer advir um desejo
recalcado, ou se, ao contrário, as estabilizamos e até mesmo
encorajamos, na medida em que elas fazem objeção, como no caso
de uma dúvida permanente, a uma passagem ao ato.
O
sintoma no feminino em Freud
Não
é que faltem na clínica freudiana, os exemplos de sintomas
obsessivos. Entretanto, eles são mais comumente implantados na
histeria como a própria estrutura da neurose. A partir do
momento em que Freud faz da neurose obsessiva um dialeto da
histeria, devemos poder colocar em função da história de uma
neurose feminina, sintomas obsessivos tais como rituais,
defesas, obsessões, em momentos cruciais da história da
neurose em uma mulher. É o caso do exemplo escolhido por Freud
em suas Conférences d’introduction à la psychanalyse
(1916-17 [1915-17], p. 329-348), o caso da “mulher dos
tapetes”, que foi comentado por Esthela Solano-Suarez (1993).
Ainda
nos lembramos deste ritual vaudevilesco, por meio do qual uma
mulher frustrada por um marido impotente, repete,
incansavelmente, diante de sua arrumadeira, uma cena que
desmente a falha das relações sexuais durante a noite de núpcias:
a prova é uma mancha vermelha no tapete, simples deslocamento
dos sinais da defloração, que uma “ausência eterna de
leito”, como diria Mallarmé, não pode mais fornecer. Nos
dois casos, Freud recorre a um clichê que demonstra que as
perturbações de caráter e as manias de arrumação procedem
de uma frustração pela qual o homem é responsável no casal.
O esquema parece ser o das neuroses ditas atuais, distinguidas
por Freud das psiconeuroses em torno de 1895. Esthela Solano
recolocou o eixo deste caso na função do olhar do Outro,
notadamente o da Outra mulher, para acentuar o fantasma
irrelevante do homem.
Entretanto,
os exemplos deste tipo estão longe da análise de uma neurose
infantil e de seus avatares na vida adulta, como é o caso da
neurose do Homem dos ratos. Em 1913, Freud descreve um caso pelo
qual se interessou em 1911, como o testemunha uma carta a
Ferenczi (1914-19, p. 263). Nestes casos, os sintomas obsessivos
descritos são imputados a uma regressão da libido a uma etapa
do desenvolvimento da sexualidade. A percepção não é, de
forma alguma, estrutural. É questão de uma mulher frustrada
das alegrias da maternidade em razão de uma esterilidade do
marido. As relações sexuais se fazem mais raras, a mulher
desidealiza o marido. Ela se abstém de relações sexuais e sua
libido regride ao estado sádico-anal isolado por Freud em
seguida ao artigo de Jung: “Haine et érotisme anal” (1973).
Freud
ressalta, sobretudo, o fato de que os sintomas obsessivos apareçam
tardiamente durante o casamento. A neurose é precedida de um
trauma, seguido de uma histeria de angústia. Freud questiona,
neste caso, sua tese segundo a qual a neurose obsessiva é um
dialeto da histeria, isto é, um documento escrito em duas línguas
distintas, mas de conteúdo idêntico. No presente caso, a
neurose obsessiva é uma segunda experiência que desvaloriza
completamente a primeira, no lugar de ser uma reação nova ao
trauma da histeria. Aqui também é a impotência do marido que
dá início à série de sintomas. Uma esterilidade do marido a
priva de filhos, o que reativa sua insatisfação; as relações
conjugais se deterioram, o homem que já é estéril se torna
impotente; a vida sexual regride pela desvalorização da vida
genital a um estágio anterior: a organização dita sádico-anal.
Na
época, Freud fazia questão de trazer à luz a existência de
pulsões parciais, isto é, um modo de gozo que exclui o
genital. Resulta deste mecanismo uma neurose de caráter que
Freud imputa a uma frustração de gozo sem grande
originalidade, em vista dos clichês sobre mulheres briguentas,
mesquinhas, fofoqueiras e problemáticas. Apenas o traço de
avareza aponta uma relação ao objeto correlacionado com o
erotismo sádico-anal. Entretanto, é a reação a esta pulsão,
isto é, sua recusa que, sob a forma de dúvida e de formação
reativa, é o osso da neurose: encontramos o conflito entre a
hiper-moralidade do lado da defesa do amor de objeto e o ódio
dele. Freud trata, então, em termos de desenvolvimento de estágios
e de regressão, uma posição subjetiva que era, até então,
articulada de uma maneira mais estrutural, a saber, a partir de
significantes religiosos. É o caso, notadamente, no artigo
fundamental “Actions compulsionelles et exercices religieux”,
que contém numerosos exemplos de rituais femininos todos
relativos ao impossível da relação sexual (Freud,
1907, p. 137). Parece que no período de 1907 a 1914
muitas observações surgem sobre os sintomas femininos, como
testemunham as cartas a Jung. Entretanto, sua descrição
continua fragmentária e não atinge o paradigma do Homem dos
ratos.
É
o momento de aprofundar as afinidades da neurose feminina com a
religião. Um caso de Hélène Deutsch dá a idéia disso. É
uma professora de escola católica que, “no momento de sua análise,
tinha tentado fugir do mundo, tornando-se noviça em um
convento” (1970, p. 105). Ela parecia apresentar um quadro de
estupor catatônico. De fato, seu corpo não podia ser tocado
por medo de ser sujado pelo contato de outro. Um grave delírio
do toque gera uma série de rituais de conjuração, de anulação,
de inibição, de interdição, muito característico da defesa
obsessiva contra rituais onanísticos e sádicos.
H.
Deutsch desdobra as características em uso nos anos trinta
relativas ao desenvolvimento da libido, à regressão sádico-anal
e à autopunição. Entre o onanismo e as pulsões assassinas
ordena-se toda uma gama de sintomas pela severidade implacável
do superego. As tendências destrutivas da pessoa sofrem a
inversão característica dos avatares do sentimento de culpa: o
masoquismo interior e as tendências ascéticas superam o
sadismo exterior. Recorrer a um vocabulário emprestado do energético
em termos de conflito de forças não traz, entretanto, nada de
feminino.
É
verdade que alguns anos mais tarde, H. Deutsch verá no
masoquismo uma característica da libido feminina, um ponto de
vista muito controverso, além do fato de que a culpabilidade e
as pulsões pré-genitais deixam muito pouco espaço para o
inconsciente. É o inconveniente de uma teoria dos estágios da
libido. O gozo pulsional oculta toda referência ao desejo,
termo maior na decifração da obsessão no Seminário V, de Lacan (1957-58, cap. XXIII). A equivalência do
erro sexual e da contaminação faz certamente parte da
sintomatologia obsessiva nas crianças. Na paciente, a origem da
obsessão remonta ao episódio de jogos sexuais com o irmão,
morto, desde então, de sífilis; a paciente, criança, se
atribui responsabilidade: “seus dedos sujos, contaminados pelo
onanismo, contaminariam o mundo inteiro com a sífilis” (Deutsch,
1970, p. 111), uma extrapolação que autoriza todas as especulações
sobre o que Lacan condensou no matema Φ0.
Mais
convincente em relação à especificidade feminina é o final
deste tratamento com resultado terapêutico mínimo. A paciente
toma as rédeas. Ela se livra de seu sentimento de culpa graças
à religião: “Une sublimation réussie [...]. Prières
et pénitences devenaient le substitut pour les rites
obsessionnels apparemment absurdes” (Ibid,
p. 113). Será a pobreza da doutrina da feminilidade que
explica este resultado ou a gravidade do caso que, fora do
discurso, só acha solução no laço social à igreja?
Temos
dificuldade em acreditar que uma tal sintomatologia seja produto
do recalque. Em todo caso, um ódio tão grande da sexualidade e
uma tal intensidade na necessidade de expiação restam impossíveis
de tratar pela psicanálise. O caso é uma incitação a unir,
mais ainda, a afinidade do gozo feminino com o Nome de Deus;
mas, sabemos que é mais a experiência mística que convida a
isto (Lacan,
1972-73).
Lacan
mostrará, nos anos 55-60, a insuficiência de uma teoria da
fixação e do desenvolvimento, em sua crítica dos conceitos de
ambivalência e de agressividade pré-edipiana, que alguns
promoverão, incessantemente, depois de Melanie Klein, nos anos
cinqüenta. Lacan vai ao contrário desta orientação. Como,
para a histeria, é o schéma L (Lacan,
1966, p. 904) que vai servir de quadro conceitual à decifração
do desejo obsessivo, pois coloca em função a estratégia do
sujeito em relação ao Outro: não sustentar o desejo, mas
visar sua destruição e sua anulação. Nos anos 1957-58, Lacan
precisará esta função do grande Outro na neurose obsessiva
feminina (1957-58, p. 388)
O
caso de M. Bouvet
É
a partir do artigo de Bouvet (1950) que Lacan elaborou o
essencial de sua reflexão sobre a obsessão feminina. A decifração
deste caso, se faz primeiramente no Seminário V, e mais especialmente no capítulo XXV do Seminário
V, “La fonction du phallus dans la cure”, em seguida,
Lacan retorna ao assunto no Seminário VIII, tratando agora de manejo da transferência
(1960-61, p. 290-303). De fato, qualquer correlação entre um
tipo neurótico e a feminilidade passa, necessariamente, pelo
complexo de castração e a dissimetria que ele induz na menina
em relação ao menino. Para Bouvet, é a inveja do pênis que
parece fazer apelo à neurose obsessiva.
O
sujeito em questão é uma mulher de cinqüenta anos, casada e mãe
de dois filhos. Os sintomas da paciente colocam claramente em
evidência um tipo de agressividade especialmente obsessivo,
caracterizado por obsessões de tema religioso, que têm um ar
compulsivo, isto é, que se impõem a ela de maneira incoercível
em contradição formal com suas convicções. É a
hiper-moralidade e a luta contra tendências perversas, que
caracterizam a neurose obsessiva, conforme a definição de
Freud: “a moral se desenvolve às custas das perversões, que
ela reprime” (1906-1908). Por esta razão, as obsessões
sozinhas não caracterizam a neurose obsessiva: é necessário o
conflito moral.
Esta
mulher é cativa de pensamentos que assediam a alma, “desarmônicos
quanto à alma”, segundo a fórmula de “Télévision”
(1973, p. 512). A lista das obsessões: pavor obsessivo de ter
contraído sífilis, obsessões infanticidas que motivam a
interdição do casamento de seu filho mais velho.
Estas
obsessões começaram com seu casamento e, foram se agravando à
medida em que ela começou a procurar diminuir suas
possibilidades de gravidez. Mas, com apenas sete anos, a menina
era parasitada pela idéia de envenenar seus familiares; como
resposta a isto, ela tinha que dar três batidas no chão e
repetir três vezes: “eu não pensei nisso”. Na puberdade,
ela desenvolve a obsessão de estrangular seu pai e jogar
alfinetes na cama dos pais para espetar a mãe.
Nesta
época a paciente tem vergonha de seu pai e vivencia,
dolorosamente, a educação religiosa imposta pela mãe. São,
sobretudo, obsessões de tema religioso que interessam a Lacan,
notadamente, frases injuriosas ou escatológicas, blasfêmias e
pensamentos sacrílegos. Ela insulta tanto Deus quanto a Virgem
e, adiciona: “Eu odeio a imposição de onde quer que ela
venha, seja de um homem ou de uma mulher. As injúrias que eu
direciono à Virgem Maria, com certeza, já as pensei a respeito
de minha mãe” (Bouvet,
1950, p. 51).
Lacan
retém especialmente uma imagem imposta: a imagem dos órgãos
genitais masculinos no lugar da hóstia. O medo da danação que
se seguiria, dá às suas defesas este aspecto de “armadura de
ferro-velho” comparável àquela que é assinalada por Lacan
à respeito do Homem dos ratos (1959-60, p. 239).
As
coordenadas edipianas da paciente não dão inteiramente conta
da intensidade de suas obsessões, nem da ambivalência em relação
à mãe, nem das recriminações direcionadas ao pai em razão
da submissão deste último à sua mulher. Notamos, sobretudo, a
transferência desta agressividade para a pessoa do analista.
“Sonhei que esmagava a pontapés a cabeça do Cristo, e esta
cabeça parecia-se com a sua” (Bouvet, 1950, p. 58). Através de associações, ela entrega a
seguinte lembrança: “Eu passo, todas as manhãs, a caminho do
trabalho, diante de uma funerária onde estão expostos quatro
Cristos. Ao olhar para eles, tenho a sensação de andar sobre
seus pênis. Sinto um prazer agudo e angústia” (Ibid.,
p. 58). Todas as insígnias da potência de um homem são objeto
de agressivo rebaixamento. A menina ataca os pênis: por um
lado, como o que ela não tem, e por outro, como símbolo da potência
que lhe falta, para assegurar sua independência em relação ao
desejo de sua mãe. Esta última, a tiranizou por toda a sua
vida.
Bouvet
resume este fantasma à oposição kleiniana da agressividade
oral. Por exemplo, a respeito de um sonho em que seus próprios
seios são transformados em pênis: “não está ela a reportar
sobre o pênis do homem, a agressividade oral dirigida,
primitivamente, contra o seio materno?” (Ibid,
p. 55). Entretanto, a observação põe muito pouco em relevo a
pulsão oral, salvo em dois pontos correlacionados à palavra:
primeiramente, ela se cala em análise; em seguida, ela sonha
estrangular seu pai. Lacan se aplicará a distinguir esta onipotência
da palavra como objeto parcial, seio ou pênis (1962-63, p.
311). No mesmo contexto, Lacan desqualifica uma análise fundada
no ter e na frustração, opondo o ser do sujeito e suas
identificações.
A
regressão ao pré-genital não explica nada: a afirmação pela
paciente da onipotência do falo é completamente correlacionada
à sua insurreição contra o saber suposto do analista. Ela o
faz calar-se. A intolerância ao significante do Outro,
notadamente à vontade materna, mascara um ódio do pai que não
tem nada de pré-genital. Bouvet acredita ler nesses afetos
transferenciais, como num livro aberto, o que foi a relação da
paciente com seu pai. Entretanto, é a intolerância à
interpretação e à transferência negativa que estão no cerne
da observação.
A
análise de Bouvet somente repousa sobre o imaginário da inveja
do pênis e da castração masculina. Todavia, este clichê não
discrimina em nada quanto à questão da escolha da neurose. Ao
invés disso, Lacan faz girar a cura, não em torno da inveja do
pênis e do desejo de um homem, mas sobre o desejo da mãe e do
falo como significante do desejo. Na infância, a pessoa foi
objeto do desejo da mãe: numerosas cenas descrevem sua dependência
ao mesmo tempo vital e passional. O que ela destrói é esta
dependência da imagem fálica desejada pela mãe. De fato, ela
rivaliza, não com o pai nem com a mãe, mas com um desejo do
falo, mais além dela mesma. Lacan aplica a lei geral do desejo
obsessivo: “destruir os sinais do desejo do Outro”; neste
caso, é ela mesma que ela destrói, no sentido em que está
identificada com estes signos. “É a ti mesmo que estás
destruindo; é isso que seria necessário lhe fazer
reconhecer” (Lacan,
1957-58, p. 454)
O
problema então, não é ter este falo, é sê-lo. Assim, ela
está em rivalidade com seu marido, na medida em que seu marido
é o falo. Na época, Lacan maneja a dialética do ser e do ter
e do desejo de reconhecimento, dialética esta, que vale tanto
para o homem quanto para a mulher. De fato, o neurótico, em
geral, quer sê-lo, é o caso da paciente.
Na
provocação que ela manifesta em relação aos homens, ao
vestir-se de forma sexy, ao fetichizar seu corpo, notadamente
com os sapatos de salto alto cujo preço concorre com o das seções,
ela é o falo. Lacan se refere à análise do espetáculo de máscaras
descrito por Joan Rivière (1964, p. 261). Uma variante da fuga
assimilada a uma coqueteria caracteriza uma paciente que vela
diante dos homens sua traição e sua agressão imaginária:
Ela
procurava sobretudo, ao assumir a máscara da inocência,
assegurar sua impunidade. Era verdadeiramente uma anulação
obsessiva de sua proeza intelectual, os dois aspectos formando a
‘dupla ação’ de seu ato obsessivo, sua vida inteira tendo
sido uma alternância de atividades masculinas e femininas (Rivière,
1964, p. 261).
Joan
Rivière torna assim compatíveis, um semblante de sedução com
a denegação de um fantasma de onipotência fálica.
A
paciente de Bouvet também se apresenta como “tendo o que ela
sabe exatamente não ter” (Lacan,
1957-58, p. 453). Neste caso, é o ódio ao homem e a destruição
das insígnias de potência que estão em primeiro plano, é
possível que o termo destruição, tão freqüentemente
utilizado por Bouvet, tenha sido utilizado pela própria
paciente.
De
fato, há duas máscaras: numa ela é o falo, fetichizando seu
corpo para enganar o desejo masculino, esquivando-se, a outra
que nega que ela tem o falo, numa concorrência rivalitária,
roubado por meio do contrabando, numa agressiva provocação.
Esta última destrói a imagem fálica por meio de uma
desvalorização obscena: ela apaga o próprio apagamento da
coisa através desta crueldade. Este apagamento duplo dos
rastros é a tradução que Lacan dá para o Ungeschehenmachen
de Freud (tradução literal: fazer com que não tenha
ocorrido). Este modo de apagamento, é do que trata a lição de
14 de março de 1962 em “Le Séminaire, livre IX:
L’identification”. É necessário ainda dizer que o afeto do
ódio por si só não discrimina quanto ao tipo clínico. Aliás,
a passagem de um teatro de máscaras agressivo ao outro é
sempre possível na história do sujeito, como testemunha a história
amorosa das adolescentes.(Cottet,
2006, p. 67-75). Faremos a mesma observação em relação à
identificação ao falo, que vale para a neurose em geral e não
para a neurose obsessiva em particular; é a estratégia em relação
ao desejo do Outro que é determinante.
A
neurose obsessiva se caracteriza pelo desvanecimento e a afânise
do desejo, porque, ao destruir o desejo do Outro, é o próprio
desejo que o sujeito atinge. Dado que Lacan faz tudo se
relacionar ao ser, em detrimento de um imaginário da possessão,
a estratégia de Bouvet lhe parece incoerente. Bouvet dá à sua
paciente o falo que, de fato, lhe falta como uma mãe
bem-intencionada. Ela responde a este presente enviando-lhe seu
próprio filho à análise. Esta generosidade reduz a angústia,
enquanto os sintomas não regridem.
O
interesse da observação de Bouvet, reside no fato de que ele
acredita fundar uma especificidade na neurose obsessiva
feminina; o pré-genital e a inveja do pênis são grandes
estrelas na época. Lacan acredita ser mais fundamental a relação
com a palavra e, notadamente, o status do verbo e do reservatório
de significantes que é o Cristo-rei. É esta onipotência que
é objeto da destruição.
O
pequeno phi da blasfêmia.
Obviamente,
a estrutura significante do gozo está em primeiro plano na
observação. Podemos comparar os intervalos significantes a um
buraco, um espaço aberto que encontramos na fobia. É a presença
real do gozo. O significante religioso enquadra a utilização
obscena da palavra. Na missa, a paciente de Bouvet ouve “abram
seus corações” ao que ela adiciona: “abra seu ânus”.
É
essa degradação do falo, designado por phi minúsculo (j),
que Lacan formalizará quatro anos mais tarde em seu Seminário VIII através da escrita: A◊j
(a, a’,
a’’, a’’’...) (Lacan,
1960-61, p. 299). A fórmula convém ao rebaixamento do falo
simbólico na paciente: ela se oferece à demanda obscena do
Outro, conservando-se todavia fechada ao amor: o significante da
falta no Outro é trazido à pulsão anal, como encarnação
exatamente da demanda.
Aliás,
esse rebaixamento do objeto dá seu acento de perversão à
obsessão. Podemos ler sob este ângulo os romances eróticos de
Georges Bataille, que acumulam as cenas de degradação do
objeto feminino entre missa negra e sacrilégio. Em Minha
mãe e Madame Edwarda
fica revelada notadamente a equivalência do sexo exposto e de
Deus. Mas é, sobretudo em História
do olho, que encontramos o maior número de analogias com a
obsessão da paciente. Bataille se compraz nos cenários de
profanação da hóstia: “justamente, continuou o inglês,
estas hóstias que vês são o esperma do Cristo em forma de
bolinhos.” (BAtaille,
1928, p. 112)
Uma
nota biográfica fornece uma das chaves do romance: Bataille
conta a degradação real de seu pai cego e doente. As palavras
obscenas do pai delirante, misturadas às cenas de decadência,
sofrem uma conversão erotizada, formando um nó de gozo
transgressivo sobre um fundo de teologia.
Nos
absteremos aqui dos debates sobre o mistério da transubstanciação,
que eram muito conhecidos por Bataille e também por Lacan, a
saber, que a hóstia seja, de fato, o corpo real do Cristo e não
seu símbolo; pão e vinho se convertem em carne do Cristo:
discussões infinitas resultaram disso após o concílio de Latrão
em 1215, em seguida no Concílio de Trento em 1551. Os Cristãos
do Oriente e os Ortodoxos inquietaram-se com este
“metabolismo”, e em seguida, também os Protestantes. A
paciente fez eco disso, em sua religião particular. Será que o
excremento pode ser assimilado a uma parte do corpo de Cristo?
(as especulações do Homem dos lobos sobre o traseiro do Cristo
atualizam estas polêmicas).
Resta,
que a vestimenta perversa do fantasma no obsessivo favorece uma
freqüência maior da obsessão sexual no homem, pois ele é o
sexo frágil com relação à perversão. Em Freud, é a
assimetria do complexo de castração, o recalque da sexualidade
em uma, o supereu no outro, o trauma da sedução passiva na
menina, oposto à atividade sexual precoce do menino. A paciente
de Bouvet, justamente apresenta uma exceção: quando era uma
criança pequena, ela teve uma atividade sexual precoce com
meninas, um esquema “ativo” muito mais determinante do que
os traumas anteriores.
Podemos
também aventar outras razões: a partir do Seminário
XVI: D’un autre à l’autre, Lacan introduz a variável
do saber, sua relação com o gozo e sua assimetria nos dois
sexos: não estamos mais na dialética do desejo do Outro que
resume uma passagem de “Subversion du sujet et dialectique du
désir...” (Lacan,
1960, p. 813-814). Os dois termos do fantasma são implodidos.(Ibid,
p. 824) É certo que Lacan põe a mulher do lado da insatisfação
e da intriga infundada. Ocorre que encontramos o mesmo binômio
no Seminário XVI, mas articulado nos termos dos quatro discursos:
particularmente S1 e S2 como termos do
saber.(1968-69, p. 335). Em resposta aos impasses do gozo, o
obsessivo negocia um tratado com o Outro, excluindo-se como
mestre (contrariamente ao que acreditamos). Sua relação com o
saber permanece marcada pela interdição. Ele só se autoriza a
tê-lo, mediante um pagamento sempre renovado. É a dívida
interminável. A forma histérica está no espectro oposto e se
encontra mais especialmente nas mulheres, justamente, pois ela não
se toma por A Mulher. Esta definição da mulher como uma
“dentre outras”, será a grande inovação do Seminário
XX; a mulher não existe como A; seu gozo não é totalmente
barrado pelo Um fálico.
A
operação matemática que “subtrai o a
ao Um absoluto do Outro” projeta a relação sexual rumo a um
ponto infinito. O argumento matemático é difícil; ele
especula sobre a seqüência Fibonacci (Lacan,
1968-69, p. 335-336).Lacan ainda não avança ainda a hipótese
do gozo suplementar, mas já não se contenta com os clichês clássicos
sobre o recalque de seu desejo. É muito mais o caso de que a
histérica “promova o ponto infinito do gozo como absoluto”.
O que é uma razão para que ela “recuse qualquer outro” (Ibid.,
p. 335).
Em
contraste, a estratégia obsessiva tem a estrutura repetitiva do
batimento anulação-restituição que coloca mais o pequeno a
em série. Poderíamos, para simplificar, procurar um enlace
especificamente obsessivo de RSI, teríamos então, como
especificidade do real, o osso de um gozo impossível de atingir
e contra o qual o sujeito se protege como numa fortaleza de
Vauban. Para o simbólico, é a inflamação do grande Outro e
do mestre. O obsessivo não quer se tomar por mestre, mas “supõe
que o mestre saiba o que ele quer saber” (Lacan,
1968-69, p. 385). E ele o anula perpetuamente. Para o imaginário,
a fortaleza narcísica do obsessivo coincide com sua mortificação:
assim, ele está na procrastinação.
Quanto
ao objeto a, Lacan retém menos as características do objeto anal, que
aquelas do olhar e da pulsão de “se exibir”, onde se
concentra a oblatividade obsessiva: mostrar uma imagem de si
mesmo. Os diferentes seminários acentuam respectivamente o eu,
o significante, o objeto olhar. O caso de Bouvet seria paradigmático
nesse sentido.
Para
retornar aos exemplos, podemos achar o quadro clínico
precedente muito restritivo de tão marcado que ele é pela
educação religiosa e outros significantes obsoletos; não
podemos exigir do sujeito contemporâneo que tenha obsessões
religiosas estruturadas como as elucubrações do Concílio de
Latrão.
A
mãe e a criança
No
que tange às obsessões femininas, é freqüentemente sobre o
objeto criança que os sintomas se cristalizam: ambivalência e
idéias de morte. Freud, ele próprio, mostra que defesas
especificamente obsessivas do tipo formação reativa,
isolamento e anulação da agressividade não são específicas.
Também funciona assim com a ambivalência na histeria. “La
haine contre [...] choix
d’objet.” (Freud,
1925, p. 86). Uma mãe que não quer sê-lo e que deixa cair seu
filho, é o que Lacan chama de mãe fálica, como Clitemnestra
na Electra de Giraudoux (Lacan,
1962-63, p. 144). A categoria de obsessiva ou histérica aqui é
secundária.
Um
exemplo: uma mulher de uns quarenta anos, mãe de dois filhos,
é paralisada por uma inibição. Ela é jornalista, mas não
consegue assinar seu trabalho: ela só escreve para que outra
pessoa recolha os frutos do sucesso e o dinheiro no seu lugar.
Essa dependência, que a aliena dos frutos de seu trabalho, a
revolta; ela suscita essa raiva feminina, onde é frustrado seu
desejo por reconhecimento. Ela se escraviza, seu nome nunca
aparece em seu trabalho. De repente, ela não escreve mais para
o autor e também, ao jogar seu bebê fora junto com a água do
banho, não escreve mais para ela. Ela se apaga em sentido
estrito, ao apagar seu nome, que é o de seu pai, não o de seu
marido.
Ao
mesmo tempo, ela pensa em um acidente que poderia acontecer com
sua filha mais velha. As condições do nascimento desta lhe
provocaram um sentimento de estranheza, como se sua filha não
lhe pertencesse, como se não fosse seu prolongamento ou sua
imagem. A paciente fica à distância de sua própria imagem; em
sua divisão, ela se construiu uma imagem de mãe totalmente
artificial.
Ela
é a mais velha de uma família, na qual os meninos demoraram a
chegar para o pai, e ela passou muito tempo aterrada pelos
gritos deste quando criança. “Todas umas idiotas”, dizia o
pai, do gênero feminino em geral. Uma fórmula significante foi
particularmente isolada e decifrada: o equívoco: os gritos do
pai, o “escrito do pai”1. Ela teve de trabalhar
duro para superar suas limitações, estudar e ganhar títulos
pelo seu saber.
O
sucesso profissional, considerado como uma realização viril,
geraria uma inflação, que parece verificar o paradigma
obsessivo; o sentido gozado que ela atribui ao nome do autor
contém uma inflação fálica impossível de suportar. Ela se
auto-anula e se retira da cena literária, o que torna seu
frenesi narcísico compatível com sua modéstia. O enlace de
uma inibição intelectual, no lugar de ideais superegóicos
contrariados pelo veredito paterno, e o embaraço que causa a
presença de uma criança vai no sentido do sintoma. Ela duvida;
e procura tudo no pensamento. Entretanto, não há nenhum
rebaixamento do falo neste caso.
Diríamos
muito bem, que para ela, ter sucesso é imitar um homem; este
paradigma dá, muito bem, conta da inibição do pensamento pelo
conflito que grassa entre maternidade e feminilidade; auto-punição
e pulsão mortificante? Apostaremos mais nas confusões
contemporâneas da identificação...
Não
tentamos, em todo caso analisar “a defesa antes da pulsão”,
segundo o clichê consagrado, procuramos questionar a insatisfação
do desejo de nossa escritora, como conseqüência do parasitismo
de seu pensamento, muito mais do que das dificuldades relativas
à criança.
O
que parasita a paciente é muito mais seu nome próprio. Esta
denominação tomada ao pé da letra a incomoda: ela contém o
significante de um excesso, de uma quantidade supernumerária;
este significante a sobrecarrega. Ela sacrifica muita energia
para carregá-lo. Acontece que ela se serve dos significantes de
seu nome como de uma blasfêmia para se aliviar. A despeito
desses sintomas “obsessivos”, a paciente não é
ritualizada, não tem impulsões, nem culpabilidade: não
confundamos a inibição do amor pelo ódio na neurose obsessiva
com uma demanda de amor desapontada... Aqui, a ambivalência é
relativa ao desejo do pai que ela apóia, e não à sua destruição.
As
apostas para a direção do tratamento
No
que tange às apostas da direção da análise, vemos o
interesse que existe em distinguir uma estratégia da reivindicação
fálica e da insatisfação, de uma estratégia de usura na qual
o sujeito se consome ao se mortificar: “nada mais difícil do
que colocar o obsessivo ao pé do muro de seu
desejo”.(1960-61, p. 300) De fato, é como impossível que ela
o apóia.
É,
sobretudo, no caso da obsessão que a resposta à demanda é a
menos apropriada. É nesses casos que medimos até que ponto uma
análise, conduzida a partir do dom da palavra ou de reparação,
é caduca; ela transforma a psicanálise em religião, o que é
o cúmulo para um sujeito obsessivo; fazer de uma religião
duas. Também nas advertências relativas à demanda de falo -
à qual não é aconselhável ceder para não fixar o sujeito em
sua cólica (Lacan,
1966, p. 261-281). Lacan ainda faz ,certamente, uma alusão à
Bouvet e à sua ausência de distinção entre desejo e demanda.
Não
é impossível pensar que, haja vistas à polêmica política
que havia à época na SPP, Lacan tenha se servido do caso Renée
como um paradigma do que não deve ser feito: reparar,
satisfazer uma demanda de reconhecimento, propor uma nomeação
(ao contrário da vacilação calculada para a histérica),
tantos problemas que o passe tornou sensíveis e aos quais
Esthela Solano consagrou alguns artigos. Há, então,
provavelmente, uma incidência da decifração lacaniana da
neurose obsessiva feminina sobre os princípios gerais da direção
da cura, e é uma boa razão para enriquecer a clínica. No que
concerne à atualidade do tipo clínico, podemos pensar que os
parâmetros da neurose obsessiva habitualmente utilizados,
envelheceram: uma atmosfera de religião e de convento envolve
os casos da literatura clássica. A ideologia feminista, a luta
dos sexos e o ar do tempo vêm embaralhar as diferenças
estruturais estritas e dar mais amplitude à reivindicação fálica
ordinária do que à blasfêmia. A destruição das insígnias
do Um fálico não milita obrigatoriamente em favor da obsessão:
tanto a paranóia quanto a histeria podem se expressar assim. É
verdade que a destruição do significante Deus na questão do
gozo feminino a partir do Seminário XX: Encore poderia relançar o debate.(1972-73, cap. V).
Nota
1.
N.T.: Em francês,
existe uma homofonia entre les
cris (os gritos) e l’écrit,
o escrito.
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Texto
recebido em: 13/08/2007.
Aprovado
em: 20/09/2007.
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