Jane
tem cerca de 40 anos e dois filhos de um casamento anterior. Sua
demanda de análise gira em torno de uma dificuldade: custa-lhe
movimentar-se, a inércia a impede de agir, não consegue “se
colocar” no exercício de sua profissão, em que pese a precária
situação econômica a que se vê submetida desde a sua separação.
Esta dificuldade contrasta com o que relata acerca de sua
juventude, durante a qual teve uma excelente situação
profissional, viajou para a Europa, tomou decisões difíceis, aí
incluída a de trocar seu abastado marido por um homem com o
qual, contudo, não se atreve a conviver e, portanto, a
oficializar a relação.
Daniel,
pelo contrário, é um jovem decidido a experimentar sua
homossexualidade em todas as oportunidades que se lhe
apresentam. Possuidor de um par de títulos universitários de
graduação e pós-graduação, se desempenha sem problemas como
docente em diversas carreiras. É uma solução transitória que
lhe permite ter longas férias para escrever, sua verdadeira
paixão. Contudo o afetam permanentes eclosões de desmatitis
atópicas mal diagnosticadas, que ferem suas mãos,
cotovelos, partes do peito, a parte posterior dos joelhos e com
freqüência lhe impedem de trabalhar, seja na universidade,
seja em sua casa.
Pâmela
tem 53 anos e está numa encruzilhada. A empresa que criou e
dirigiu por mais de quinze anos e que lhe permitiu
sustentar a criação de suas filhas quando ficou viúva,
está a ponto de “afundar”. “Esgotada e doente de remar
contra a maré em um meio que se tornou muito competitivo,
largou o leme” e já não pode distinguir qual é a causa do
quê, se as dores das dificuldades da empresa ou a empresa de
seus transtornos. Diz que “o sofrimento a acompanha” por
toda parte.
Pablito
é um menino que tem insônia e que embora tenha 11 anos ainda
faz xixi na cama à noite. Seus desenhos e breves sonhos estão
povoados de monstros e malfeitores armados com metralhadoras que
o assediam. Interrogado acerca disso, manifesta, de forma
bastante transparente, seu sentimento de culpa e necessidade de
um castigo encarnado pela voz do feroz supereu materno.
A
lista de exemplos poderia continuar com outras inibições,
outros sintomas e outras angústias, mas sempre poderíamos
encontrar na diversidade de um a um, um ponto em comum: o corpo
afetado do parlêtre.
O
que é o corpo?
Esta
pergunta assim colocada é, na verdade, incompleta. Para respondê-la
convém delimitar o universo no qual teorizamos e ao qual nos
referimos. É o que chamamos de discurso analítico (Lacan, 1969-70).
A
partir desta perspectiva tentaremos precisar um termo muito
transportado por discursos como o da medicina, o da biologia, o
da filosofia, quando não no discurso que chamamos de comum.
Entre
todos eles e o discurso analítico há diferenças essenciais, a
ponto de podermos sustentar que este último vai, em sentido
contrário, ao sentido comum. Em geral nos encontramos com uma
constante: o corpo, inteiro ou fracionado em partes e órgãos,
é assimilado ao modo da res-extensa
cartesiana, uma unidade substancial com um saber próprio que
garanta sua nutrição, crescimento, desenvolvimento e reprodução.
Além
disso, esta idéia de corpo gera a necessidade de uma estrutura
diferenciada, designada como alma ou mente (por sua vez
diferente do cérebro), sede das percepções, emoções,
sentimentos, vontade e memória, responsáveis pelo seu bom
funcionamento.
Entre
ambos, extensão e pensamento, se constitui um indivíduo, a
pessoa, sujeito do direito, capaz de formar uma célula maior, a
família e a sociedade, como conjuntos desses ditos indivíduos.
Ambos
estão estreitamente relacionados, pois o perceptum, ou o
mundo supostamente objetivo, é exterior ao percipiens e
este necessita de seus sentidos para incorporá-lo e utilizar
suas capacidades de ser falante.
Como
já forma parte do acervo cultural, não creio necessário fazer
demasiada insistência na revolução conceitual provocada por
Freud com relação ao corpo. Desde os seus primeiros trabalhos
acerca das “Paralisias orgânicas, motrizes e histéricas”
(1893 [1888-1893]), ele diferencia o corpo anátomo-biológico
de outro corpo, ligado ao simbólico e especialmente destinado a
por a descoberto as verdades mais secretas do sujeito, sem que
este o saiba ou disponha as coisas de outro modo. Seus vários
exemplos clínicos dão conta deste descobrimento, fazendo com
que a própria definição da doença gire em círculos. Com
freqüência, Freud indicava, para perturbação e escândalo de
sua comunidade, que esta doença devia ser decifrada em um código
completamente alheio ao orgânico, onde o desejo reprimido pelo
próprio sujeito – e não pelos mandatos paternos, como se
costuma dizer – desviava a libido de seu
caminho previsto.
Aparece,
então, um corpo simbólico no qual a dita libido inscreve
mensagens codificadas que perturbam, inibem, modificam a inervação
nervosa anatômica como como
ocorre na histeria ou nos pensamentos, no caso das neuroses
obsessivas, que o erotizam
O
mesmo ocorre com a sexualidade, pois a diferença entre os sexos
parece simples. Assim, a identidade sexual não é da ordem do
puro feito biológico da reprodução. Ser homem ou ser mulher não
é jamais ser simplesmente macho ou fêmea da espécie humana. O
pertencimento a um sexo é função do desejo e do gozo, assim
como a noção de gênero é uma construção cultural que
procede das variáveis pelas quais uma sociedade se faz
representar.
Para
o homem não há “relação naturalmente sexual”, por isso o
homem se diferencia da lei da natureza. Quando se trata de dar
nome, diz Lacan (1975-76),
Adam se transforma em Madam, pois utilizou a língua
de Evida, diz, jogando em francês com o equívoco entre
Eva e vida (Eve,vie). Por esta via, encontra a nomeação que
faz laço, o sinthoma.
Dois
ensinos
Lacan
deixa claro, na primeira parte do seu ensino, a emergência
deste corpo, resultado do enlaçamento entre imaginário e simbólico
(Miller,
2002). O interessante é que a questão do corpo segue
sustentada até o final, pois no seminário sobre Joyce, do ano
de 1975-76, podemos ler elaborações acerca da consistência
que o corpo outorga.
No
que chamamos o segundo ensino, Lacan nos surpreende com precisões
inesperadas, que são a conseqüência da virada de sua teoria a
partir do seminário Encore (1972-73).
O
que apresenta neste segundo período que parece revolucionar
tudo o que transmitiu antes?
A
linguagem, até então ferramenta privilegiada para a domesticação
do gozo e a subseqüente mortificação do corpo, é concebida,
em troca, como uma fonte mais de satisfação. Como se deduz,
este giro conceitual modifica drasticamente a prática, a direção
da cura e ainda a clínica.
Uma
nova topologia ocupa a cena, o nó borromeano localiza o imaginário,
o simbólico e o real a respeito do necessário: o furo que
assegura a possibilidade de enlaçamento dos três registros.
Novas
considerações acerca da vida constroem o que J.-A. Miller (2002)
denomina uma biologia lacaniana. Segundo apresenta na
aula chamada “O ego de Joyce”, a vida para a linguagem,´quer
dizer para o falasser, é muito diferente do que se chama a vida
no discurso corrente.
A
biologia, a medicina, a fisiologia, têm definições bastante
homogêneas da vida e da morte. Para todas essas disciplinas a
vida é uma propriedade dos
seres organizados que evoluem desde o nascimento até a
morte desempenhando funções que lhes são comuns. Implicam o
crescimento, o metabolismo, a reprodução que se encontram
tanto em animais como em vegetais.
Bichat
elaborou sobre esta concepção sua célebre definição segundo
a qual “a vida é o conjunto de funções que resistem à
morte”.
A
morte, em oposição, é a cessação definitiva da vida para
qualquer organismo biológico.
Às
vezes a morte se defende cercando-se de valores simbólicos ao
que a psicanálise considera uma segunda morte, como no caso de
Antígona, que Lacan comenta no Seminário
7: a ética (1959-60). Na antiga Grécia, por exemplo,
falava-se da morte civil, assim como a religião chama morte da
alma à condenação eterna dos pecadores às penúrias do
inferno.
Para
a psicanálise não se trata disso já que ela parte da dupla
vertente em que se manifesta a eficácia da linguagem como
produtora de vida e também como agente de mortificação.
Como
sabemos algo da vida?
Por
meio de representações. Graças a elas o simbólico introduz
sentido. O sentido é o que Lacan, em RSI
(1974-75), chama “nossa debilidade mental”, que a linguagem
introduz nos sistemas da natureza. Mental vem de mens em
latim, mas em francês este termo faz equívoco com a primeira
pessoa do singular do verbo mentir. A debilidade é mental
quando encontra suas raízes no próprio corpo. De um corpo se
supõe que primeiro tem unidade, logo funções especificadas em
órgãos.
Dizer
unidade é dizer consistência, é o que está junto, que tem
uma relação de proximidade. Uma idéia pode ter consistência,
assim pensa a filosofia. Quer dizer, que uma idéia tem corpo.
Por analogia dizemos que um computador ou um automóvel têm
corpo. O que não quer dizer é que um corpo seja vivente, diz
Lacan. Daí a necessidade do parlêtre. O ser falante é
portador de um corpo diferente do corpo animal, para o qual as
noções de vida e de morte funcionam de outro modo.
As
pulsões – dito de outra forma, o percurso da libido - são
resultado da vida da linguagem pois dão lugar ao que, para o
suporte somático, significa a morte. E acrescenta: “Estas
pulsões dizem respeito à relação com o corpo, o que, para
nenhum homem, é simples.” Conservemos esta afirmação e
tomemos o que se destaca: o homem tem com seu corpo uma relação,
ou seja, é algo diferente de si mesmo. O corpo é e permanece o
Outro. A rigor não está nem no lugar do sujeito nem do objeto,
nem é completamente exterior, nem está entre os objetos de
gozo, por isso falamos do estatuto do corpo.
A
forma do corpo
Esta
primeira inferência é a base da construção psicanalítica
acerca do corpo. Para a psicanálise o importante é que o corpo
não está dado de saída, que não “somos” corpo senão
que o temos e para isso devemos nos apropriar dele de
alguma maneira.
Não
é fácil ter um corpo. É uma orientação lacaniana para a clínica
considerar as dificuldades do sujeito com seu corpo. Um exemplo
são as experiências de despersonalização do sujeito histérico
ou os fenômenos de insensibilidade, de indiferença, etc.
O
mais simples é a operação que enlaça o imaginário de seu
reflexo especular e o simbólico da estrutura no estádio do
espelho e que nos proporciona em primeiro lugar a forma do
corpo. Este corpo parece ser tão só o corpo da bolsa, esférico,
que nos outorga um corpo ideal ao que imediatamente nos sentidos
atraídos, nos fascina com sua completude.
Contudo
Lacan não deixa de nos advertir acerca do engano desta
completude pois toda bolsa, diz, necessita da corda para
fechar-se. É a mesma expressão do furo. Neste caso, o simbólico
faz a corda que amarra, pois esta forma ideal está sustentada
por um traço significante. No estádio do espelho o corpo se
volta como objeto de amor porque há um olhar exterior ao
espelho para o qual o sujeito se volta. Isto lhe permite, ao
mesmo tempo, separar-se da imagem fascinante, criando uma hiância
para o surgimento do sujeito e a construção do corpo, já que
por meio desse ponto exterior fixa a relação imaginária, e o
autoriza a pensá-la como sua de fato.
É
um corpo que, havendo sido inicialmente a sede de um gozo em sua
totalidade, tal como é tomado e manipulado ao nascer, se
transforma no corpo mortificado, atravessado somente pela vida
que resta nos furos pulsionais.
Devemos
inferir, então, que não há narcisismo primário, como se diz,
o narcisismo é sempre secundário, depende destas operações
que logo Lacan (1964) chamará de alienação e de separação,
sem as quais a pulsão não
tem suporte, não tem objeto ao redor do qual traçar o seu
percurso e retornar ao seu ponto de partida.
Trata-se
de uma boca que se beija a si mesma, como ilustra bem o mito de
Narciso. Mas para isso deve contemplar-se no espelho e amar essa
imagem exterior e da qual nunca pode saber com certeza se lhe
pertence.
Há
toda uma clínica sistematizada sobre os problemas com o corpo.
Para o sujeito sempre é difícil regular-se sobre um corpo que
lhe é exterior, o corpo é sempre um objeto do qual se sente
separado, por isso tenta alcançá-lo e isso dá lugar a
diferentes modalidades da neurose e da psicose.
O
obsessivo faz de seu corpo um Eu ideal, paradigmático do
masculino e se sente perturbado por um alter-ego. Em troca, do
lado feminino, aparece a imagem perturbadora da Outra mulher sem
cujo corpo não parece conseguir um para si. Há também experiências
fora do limite próprio corporal onde a barreira do amor
narcisista cai e provoca a destruição do corpo total ou
parcialmente.
Por
último, na psicose, o sujeito fica desprovido do corpo e deve
apelar permanentemente para as imagens que se lhe outorgam
transitoriamente. O tratamento do autismo está dirigido,
especialmente, a proporcionar um corpo ao sujeito que está na
linguagem mas não dispõe dela.
Por
isso é fundamental passar pela experiência analítica, isso
permite no final fazer-se um corpo, identificar-se a ele, sair
dessa extraterritorialidade forçada. A pergunta é: a que corpo
se identifica o sujeito ao final da cura?
Para
responder a esta questão vamos entrar na segunda maneira de
fazer-se um corpo: não a partir da imagem, mas do furo nela
mesma, o não especular, os furos pulsionais.
O
corpo vivo do gozo
Em
torno de 1963, quando Lacan nos dá o Seminário
10: a angústia, ele desenvolve esta segunda possibilidade
de fazer unidade com os fragmentos do corpo: a articulação da
pulsão a suas bordas corporais, a boca, o ânus, o olho, etc.
É como se, ao invés do sapato, se tomasse a fôrma com a qual
ele é fabricado. Não é uma substância, mas o que lhe dá um
suporte. Representa isso com o esquema dos dois espelhos que
acolhem o ramalhete real das flores no vaso.
Com
o decorrer dos seminários subseqüentes, Lacan avança decidido
nesta direção.
O
que é que circula por esses furos? O trajeto, o percurso da
pulsão, que nem se desvia de seu objetivo nem a substitui e nem
a metonimiza. O percurso se cumpre dando ao sujeito uma certeza
acerca do seu gozo. Dita certeza é um apoio importante para
dar-lhe consistência corporal.
Eric
Laurent diz que o objeto a, que é fundamento do enforme
de a, que chamamos fôrma, como assinala
Lacan no Seminário 20:
mais, ainda (1972-73),
se representa pelo trajeto pulsional, o vazio em torno do qual
se produz a repetição do circuito. Há que assinalar que assim
como a imagem do espelho se articula ao significante, o objeto a também está ligado ao espaço entre os
significantes, à hiância na cadeia, o vazio median.
Quer
dizer que para obter um corpo por meio do vivo destes gozos
pulsionais, também faz falta estar em um discurso. Esta afirmação
implica que algo se deve por em jogo que faça laço entre
significante e significado, entre o sujeito e o Outro.
Só
que já não se trata do ponto do ideal onde o Nome-do-Pai, único,
garanta a operação. Este ponto de exceção pode ser qualquer
um. E, quando Lacan apela à topologia dos nós, demonstra com
facilidade que qualquer dos três anéis, Imaginário, Simbólico
ou Real, que compõem o nó borromeano, estão em condições de
ser considerados agentes do enlaçamento e outorgar um corpo ao
sujeito.
Agora
vejamos, como conduzir esta operação que se parte do vazio?
Um
modo de explicá-la é pelas operações de união e interseção
dos círculos de Euler por meio de cuja lógica vemos
constituir-se o sujeito por um lado e o objeto pelo outro.
Diferenciam-se
porque no primeiro caso se tomam os elementos dos conjuntos e no
segundo caso se delimitam os conjuntos vazios incluídos em cada
círculo. É o objeto
a em sua consistência real.
O
que nos demonstra esta operação?
É
uma maneira de dar unidade ao corpo sem passar pela identificação
à forma. Como afirma Eric Laurent, é um corpo em seu saber
fazer com o objeto a,
o corpo furado no imaginário pelo objeto
a, mas sem que o pai seja agente da castração do
vazio do gozo. Deduz-se também por este feito que,
conceitualmente, o Nome-do-Pai
não é equivalente da castração. Podem não coexistir, como
demonstra a proliferação de sintomas contemporâneos, as inibições,
as passagens ao ato próprias de nossa época, a angústia que
apela a todo tipo de defesa.
No
lugar da imagem, o que outorga a consistência imaginária é a
experiência da pulsão, mas encarnada em algum Outro, o qual dá
origem ao sintoma. A relação com o sintoma dá conta de um
narcisismo diferente, localizado a partir da identificação ao
sintoma.
Qual
é o problema neste caso?
Este
corpo organizado pelo sintoma pareceria carecer do amor que
introduz a dimensão do Nome-do-Pai em qualquer uma de suas versões.
Os
exemplos clássicos de Lacan são Joyce, que não parece sentir
apego pelo seu corpo, ao contrário, quer deixá-lo cair ao ser
golpeado, e Marguerite Duras que, como Joyce, se sustenta de sua
obra e não da imagem do seu próprio corpo.
Contudo,
Lacan sabe que, sem algum de tipo amor, o gozo está sempre
desregulado, sem limites.
O
que não pode faltar
Cabe
então a pergunta acerca de como, dessa forma, se organiza o
corpo desta outra maneira.
E
Lacan bem nos faz compreender que o significante introduz a noção
de um mais além do vivente e esta idéia, por sua vez, engendra
um amor pelo próprio simbólico, com certa significação de
eternidade com a qual o vivo não se implica.
É
o que J.-A. Miller isola muito bem quando intitula seu livro de El
lenguaje, aparato de goce
(2000). Não é o mesmo o amor ao pai como puro
significante, ligado ao gozo e instrumento da père-versión,
que o pai morto do Estádio do espelho.
Lacan
se deu conta de um erro conceitual. A linguagem tem dupla função:
produz satisfação pelo uso de lalangue e
simultaneamente conserva a propriedade de significar a existência
de uma dimensão que a mortifica.
É
uma qualidade do simbólico em seu aspecto de pulsão de morte,
e o pai a encarna quando o considera aparelhado não como o
vazio de gozo e sim com o vazio do furo pulsional, o mais vivo
do corpo.
Para
concluir, uma reflexão acerca da identificação ao sintoma,
que é o saldo ao final da análise: o que é que acontece?
Por
um lado, sabemos que se opera uma passagem do sintoma como
acontecimento de corpo, quer dizer, exterior ele mesmo à sua
incorporação.
Por
outro lado, a cura impõe um processo de desnarcizinação, quer
dizer, como em Joyce, um deixar cair o corpo sustentado pela
imagem para dar lugar ao que Lacan denomina narcisismo
radical, quer dizer, ao narcisismo sustentado pela
identificação ao próprio modo-de-gozar.
No
final da experiência analítica todos somos como Joyce ou
Duras: deixamos o sentido que emerge pela copulação do imaginário
com o simbólico, pelo “sentido gozado”. Ou dito de outra
maneira, pelo modo singular de viver a pulsão; o que equivale
à identificação ao sintoma como modo de se construir um corpo
em transferência.
Referências
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Miller,
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(2000) El lenguaje,
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(2002) Biología lacaniana y acontecimiento de cuerpo. Buenos
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Texto
recebido em: 15/11/2007.
Aprovado
em: 21/12/2007.
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