É
um fato comprovado a extensão que a prática do psicanalista
tem hoje em dia; ela não se limita ao consultório, os
analistas estão nos juizados, nas escolas, nos centros de atenção
ao menor, nos presídios, etc. Por isso mesmo, na hora de
intervir nesses lugares, é importante saber a partir de onde
intervir, para que nossa prática não fique diluída nem
confundida com outros discursos, mas conserve os princípios que
regem a sua ética.
O
presente artigo constitui uma intenção de traçar coordenadas
que orientem a intervenção analítica nos sintomas que a
subjetividade da atualidade assume.
Toda
intervenção analítica no campo do social requer uma operação
na qual o sujeito deve ser extraído desse campo. A psicanálise
como procedimento é uma experiência que opera sobre um
sujeito, e é só a partir do respeito a essa singularidade que
se pode esperar uma ação no social.
O
conceito de sociedade não determina nenhum sujeito, é um anônimo.
Para a psicanálise, porém, o social não é anônimo; ele
responde ao laço que um sujeito estabelece com o Outro. Lacan
definiu o sintoma social quando justamente não há laço social
e, nesse sentido, foi precursor do que atualmente ocorre nas
violências, abusos sexuais, toxicomanias, delitos, crimes, que
dão conta, cada um ao seu modo, de uma subjetividade que
prescinde do laço com o Outro.
A
estrutura do Outro Social muda e os sintomas variam de acordo
com o discurso vigente de cada época.
Freud
traçou um eixo que divide as águas do que é e do que não é
psicanálise ao redor do nó central do inconsciente e da
sexualidade. A psicanálise não é um idealismo que progride em
direção da eliminação da neurose e nem do sintoma.
Para
pensar os sintomas sociais, seguiremos a pergunta que Freud se
faz no “Mal-estar na cultura”, é ali onde se coloca a relação
existente entre a neurose e o Outro Social.
I-
O sujeito e o Outro Social
A
cultura em Freud não foi pensada como conhecimentos ou saberes
universitários e nem como obras de arte. Para a psicanálise, a
cultura é laço e, tratando-se dos sintomas sociais, é necessário
fazer uma leitura da época na qual a subjetividade se inscreve
como resposta. Do mesmo modo, também é preciso repensar se as
respostas que Freud encontrou ainda são vigentes ou se devemos
inventar novas respostas para novos sintomas.
Se
a subjetividade varia, o mal-estar em si mesmo é o irredutível
que atravessa toda época e lugar. Freud não teve uma posição
idealista. Tanto no “Mal-estar na cultura”, como no texto
“Totem e tabu”, Freud situa, com a pulsão de morte, um
irredutível que traça um horizonte ético que exclui toda a
intenção idealista de progresso ao nível do social. Educar a
pulsão é um impossível. Para Freud, Eros como força que une
e faz os laços não era mais poderoso que Tânatos que os destrói.
Há
um horizonte a-social que não é contingente à época, mas o
irredutível da própria pulsão, que se satisfaz de um autismo
que prescinde do Outro. A pulsão é a-social, mas o
inconsciente não.
O
inconsciente é um discurso, por isso mesmo é político e a
partir desse discurso do Outro se lhe atribuem identificações
que governam o sujeito. O inconsciente é esse Outro que é político1.
Daí que, se a pulsão é a-social, o inconsciente não o é. O
inconsciente é social enquanto dá conta da relação do
sujeito ao discurso do mestre.
Freud
situa o ato parricida no coração da genealogia da cultura,
como fundante da lei pela qual o sujeito se introduz no social.
Não se trata só de matar o pai, mas de fundar um pacto para a
distribuição do gozo e garantir que ninguém ocupará o seu
lugar. Assim, ato parricida e ato social são dois movimentos
articulados.
A
família como função de transmissão
A
família é o primeiro Outro do sujeito e também pode ser
objeto de estudo sociológico, jurídico, pedagógico. Abordá-la
a partir da psicanálise, no entanto, requer delimitar a
especificidade da dita abordagem.
Tanto
Freud, em seu texto “O mal-estar na cultura”,
como Lacan em “Os complexos familiares”,
localizam a família mais além de sua função biológica. A
família tem uma função de transmissão e é o espaço onde o
sujeito faz a experiência do inconsciente. Ali interpreta o
desejo do Outro encarnado nas figuras parentais. Mamãe, papai e
bebê são lidos a partir dos lugares que ocupam na estrutura edípica
e, a partir da metáfora paterna, trata-se do Nome-do-Pai, do
Desejo da mãe e dos objetos a.
Os
analistas abordam a família a partir do axioma lacaniano da não
relação sexual. A inexistência da relação sexual entre os
sexos leva cada família a inventar seu próprio mal-entendido.
O mal-entendido é de estrutura, as formas de organização da
família não são. É a partir das figuras parentais que essa
relação sexual é captada pela criança como pai/mãe. “A
família está essencialmente unida por um segredo, por um não
dito [...] É um desejo não dito, é sempre um segredo: de que
gozam a mãe e o pai” (Miller,
2006, p. 341).
Sua
união não depende dos laços legais, mas de um segredo (Miller,
1997). A família é coisa do inconsciente e não uma
questão de reprodução biológica.
Os
analisantes falam de suas famílias porque são figuras do
Outro: do pai degradado, do pai idealizado, do pai carente ou do
pai tirano, falam do pai do mesmo modo que se fala do sintoma.
A
partir de 1938, Lacan se referiu ao declínio da imago paterna.
Em seus textos “Os complexos familiares” e “Contribuição
da psicanálise à criminologia”, afirma que a família não
fica reduzida à sua função biológica, mas que tem um papel
de transmissão de um resto.
Em
1938, Lacan situa o pai como aquele que deve encarnar a
autoridade. Muito cedo adverte acerca da relação existente
entre o declínio dessa autoridade e os crimes.
A
mudança nos laços familiares é um fato constatável. Cada vez
mais, a família passa a ser questão do Estado, que busca
regular os laços cada vez mais desintegrados.
As
novas configurações familiares de parcerias monoparentais, os
avanços científicos tais como bancos de esperma, as provas de
paternidade através do DNA, o pedido de legalização das
parcerias gays bem como os pedidos de adoção fazem com que, se
para a psicanálise a família é coisa do Inconsciente, a
Sagrada Família seja somente coisa da Igreja.
Do
mal-estar da época freudiana ao mal-estar atual
Cada
época tem seu modo de viver a pulsão e se presentifica como
essa exigência impossível de satisfazer. Isso traça, a partir
de Freud, um irredutível que impede a satisfação plena e a
felicidade para o sujeito. Mas, na época vitoriana na qual
Freud viveu, a neurose era o resultado da renúncia ao gozo e o
discurso do Outro social propunha a renúncia à satisfação na
compensação de uma vida com ideais mais virtuosos. A
hipocrisia burguesa era a resposta a esse discurso. Essa restrição
é localizada por Freud como a causa da neurose e ligada ao pai
e ao social. Era uma época na qual a satisfação devia se
ocultar, não era bem visto dar a ver o gozo de cada um. Não é
que não se gozasse, mas que o gozo estava velado. Não era a época
do Grande Irmão2.
O
discurso atual variou a proposta, não propõe o mesmo que na época
freudiana. Já não se promove a renúncia. Ao contrário, se
promove não só um empuxo a gozar, mas que este se diga e se
mostre. Esse empuxo ao gozo já não encontra os diques e
limites que havia antes.
Lacan
chamou discurso capitalista àquele discurso que produz um
sujeito insatisfeito e dividido não pelo inconsciente, mas pelo
mercado do consumo.
Jacques-Alain
Miller (2005) propõe
para a atualidade o discurso hipermoderno, no qual não é o
Ideal que governa o sujeito. O lugar de comando é ocupado pelo
objeto de consumo. O sujeito está dividido não por não alcançar
o Ideal, mas por não alcançar o gozo.
Para
Lacan, foi Marx o inventor do sintoma, porque foi quem deu forma
discursiva ao mal-estar do assalariado, enquanto o capitalista
ficava com um a mais de seu trabalho. Seu idealismo o levou a
pensar que essa desigualdade distributiva podia ser resolvida.
Isso que Marx tematiza como mais-valia Lacan nomeia como
mais-de-gozar, a recuperação de um gozo perdido inerente ao
sujeito falante, seja patrão ou assalariado. Esse mais-de-gozar
ilimitado é o que hoje ocupa o lugar de comando. O Outro
social, por meio do consumo, promove um mais-de-gozar cada vez
mais sofisticado e alijado do laço social.
Cada
discurso promove um laço. Em 1969-70, Lacan estabeleceu em seu Seminário
17 o Outro sob a modalidade de quatro discursos, como quatro
modos diferentes de distribuição do gozo: o discurso histérico,
o do mestre, o universitário e o discurso analítico. São
maneiras diferentes de tratamento do gozo e da tentativa de sua
recuperação através da função de mais-de-gozar.
Surge
assim a questão acerca dos dispositivos que cada época dispõe
para localizar seu mais-de-gozar. Ao sujeito insatisfeito que
descobre a psicanálise lhe é oferecido uma série de objetos
para sua satisfação que anulam sua divisão subjetiva. A esses
objetos Lacan os chamou de gadgets
(Lacan, 1969-70).
O
discurso capitalista produz em série esses objetos gadgets,
que cumprem a função de tamponar a castração e assim o
mestre moderno deixa de estar encarnado no pai. O mestre moderno
hoje triunfou sobre a autoridade do pai; é mais, está mais
para o mercado que para o pai. Um novo discurso se impõe ao
sujeito pela via dos meios massivos de comunicação que nos
falam sob regulação, como devemos viver, quantos filhos ter,
como educá-los, o que comer, são os manuais da vida. Este último
produz um novo tipo de subjetividade e de sintomas. Os laços já
não são estabelecidos com um pai que traça um estilo de vida
de acordo com os seus ideais, mas esse pai é substituído por
um manual e uma mulher pode ser substituída de forma mais
satisfatória pela droga ou pelo computador. O discurso
capitalista incidiu na subjetividade promovendo uma nova relação
entre o sujeito e o modo de gozar. Promoveu um tipo de satisfação
que não passa pelo Outro deixando ao sujeito um gozo autista,
com o qual se geram mais sintomas sociais. Com os gadgets,
o sujeito fica em um gozo autista que não faz laço com o
Outro.
A
que nos referimos quando falamos em sintomas sociais, uma vez
que, para nós analistas, o sintoma é singular, é de um
sujeito? Lacan definiu o sintoma como o modo particular que o
sujeito tem de gozar de seu inconsciente, mas quando esse gozo não
passa pelo Outro do inconsciente, quando se rompe o laço, temos
o sintoma social, do qual surge no nosso mal-estar contemporâneo,
a destruição desse laço que se traduz num fechamento do
inconsciente e isso nos leva à pergunta: o que fazer? Não
saber o que fazer é o que atravessa a nossa época. Miller e
Eric Laurent traduzem o mal-estar na cultura como impasse
ético (Miller, 1996-97).
A
reprodução assistida, os bancos de esperma, as clonagens
produzem, a partir da ciência, a possibilidade de engendramento
sem laço sexual. Fica por investigar que conseqüências
produzirão nos sujeitos, e não é fácil, atualmente, fazer
uma leitura dos sintomas frente a esse impasse ético.
O
discurso contemporâneo que torna homogêneo o próprio gozo foi anulado e, com ele, a função
de exceção que encarna o pai. O semblante do pai fica
homogeneizado com a posição dos filhos, os filhos podem
recorrer ao juiz, e à falta de ficar anulada a dimensão da
causa, se pedem e se buscam responsáveis por todas as partes.
Lacan denominou isso de a era da criança generalizada, já que
ninguém se faz responsável pelo seu gozo.
A
criança generalizada
A
“criança generalizada”, expressão que Lacan utilizou para
qualificar a posição de irresponsabilidade do sujeito
contemporâneo, bem pode ser agregada ao titulo do filme A
criança3,
ao qual quero fazer uma referência. O filme trata de um casal
de adolescentes que vivem na rua, são “as crianças da
rua”, mas de um país desenvolvido.
O
laço é o grande ausente e a segregação é quem desempenha o
papel protagonista. Não se mostra qualquer laço familiar, nem
o diretor oferece elementos que permitam um deslizamento até
“a compreensão” de seus atos por intermédio de sua
constituição familiar. O filme mostra somente um encadeamento
de fatos. Ela está grávida e tem um bebê. Ele se dedica a
roubar. Pode obter tudo o que quer roubando sem limite algum. O
filme prossegue até localizar um limite.
O
drama se desencadeia a partir do momento em que tem que
registrar esse sujeito que é o seu filho e dar-lhe uma filiação
por meio do registro com o seu sobrenome. Nesse momento preciso,
ocorre-lhe que essa criança pode ser uma mercadoria e,
outorgando ao filho um valor de troca, vende-o.
Esse
episódio marca um limite para ela que se traduz na ruptura do
laço entre as jovens crianças. Ele lhe diz que podem fazer
outro e ela exige e obtém a restituição de seu filho.
O
filme mostra claramente como é inoperante o limite proveniente
dos semblantes da lei, e como esse limite chega para ambos pela
via do laço amoroso. A ela, pelo laço com seu filho; a ele,
pela identificação com uma criança que é detida pela polícia
em um delito que ele mesmo induziu. Esse episódio o leva a se
fazer responsável por seu ato e sozinho se entrega à polícia.
Como
poucos, os irmãos Dardenne, diretores do filme, souberam
representar a criança generalizada como posição da
subjetividade contemporânea. A criança é a mãe, a criança
é o pai, a criança é o bebê, a criança são os pais
ausentes dessas crianças. Todos somos crianças. Só se sai do
lugar de ser uma criança quando um sujeito se faz responsável
pelo seu ato. E, nesse sentido, é inteligente e valioso por
parte dos Dardenne o fato de não incluir aspectos familiares
que levem à compreensão da vítima, via uma narratologia de
sua vida, que contribua para desresponsabilizar os atos do
sujeito, sejam quais forem os determinismos do Outro.
II-
O declínio da autoridade paterna e sua incidência nos sintomas
atuais
O
declínio da autoridade paterna na atualidade é algo mais que
evidente, mestres, pais, juízes e sacerdotes se unem na mesma
queixa nostálgica acerca do pai. Mas, a partir das categorias
analíticas, esse declínio é conseqüente e correlativo a um
declínio da primazia do Nome-do-Pai enquanto significante que,
no campo do Outro, articula um desejo à lei.
Lacan
e Freud não tiveram a mesma posição a respeito do pai, nem
ocuparam os mesmos lugares na comunidade analítica. Há em
Freud uma relação entre a autoridade encarnada no pai e a crença,
a qual se manifesta como figura do destino.
O
pai como figura do destino é uma bússola para o sujeito e uma
análise torna claras as marcas que essa autoridade deixou. A
internalização dessa autoridade, perpetuada por meio do
supereu, marca o consentimento por parte do sujeito à causa
localizada na lei do pai.
Nos
pacientes bussolados pelo pai, este aparece por onde queira e
ali se escutam queixas traduzidas como “outra vez meu pai”.
O neurótico está doente do pai, mas nas novas formas que o
sintoma assume encontramo-nos cada vez mais com pacientes nos
quais parece que nada tem a ver com o pai. Eles se surpreendem
diante da pergunta insidiosa do analista por esse determinismo,
pois nem recordações infantis eles têm. Seus sintomas parecem
não ser respostas à autoridade encarnada no pai como causa e
isso instaura um efeito de descrença.
A
neurose atual, os novos sintomas, ou como quer que os chamemos são
uma resposta a esse declínio da autoridade na qual já não se
crê nem no pai, nem no inconsciente. O problema parece ser não
tanto o declínio de sua autoridade, mas a crise enquanto
descrença. A censura de Hans dirigida ao pai a respeito da
falta de um limite quando ele dorme com sua mamãe - “você
deve ficar chateado” -, evidencia a função paterna como
falida, mas o pai estava no centro de sua neurose e Hans crê no
pai e na autoridade de Freud. Há uma autoridade que é garantia
de boa fé e o temor de Hans em relação aos cavalos dá conta
de que o sintoma fóbico é um deslocamento do temor ao pai.
Mas
os diques pulsionais como vetos à satisfação que Freud
localizou no pai e em seus substitutos já não se sustentam do
mesmo modo. Hoje, não adianta nada invocar o nome do pai. Os
mestres já não podem tocar as crianças, porque correm o risco
de serem acusados de abusadores. O dito “você vai ver quando
papai chegar...” tampouco serve, porque já nem há papai que
venha e, em caso de ele existir, o pai tomou outra forma.
Juan
Carlos Indart (2004) destaca isso de uma forma muito precisa
quando alude ao pai professor, amigo, conciliador, e indica que
para a psicanálise “há uma nova maneira de pensar o vínculo
social e é o que se estabelece entre um que manda e outro que
obedece”. Com a contribuição de Lacan, essa referência se
escreve em nossas letras psicanalíticas pelo significante S1
em relação ao S2. Lacan nomeou como discurso do
mestre aquilo que Freud chamou de complexo de Édipo como nó
patogênico da neurose. Indart nos propõe pensar as novas
configurações sintomáticas a partir de uma Clínica que não
tem origem no discurso do mestre, mas que parte do discurso
universitário.
Um
discurso define um laço social e por isso é preciso saber não
só onde o sujeito está posicionado no discurso, mas também
quem é o seu parceiro. Assim, os sintomas descritos por Freud
respondem a um discurso no qual o pai impera como mestre.
Lacan
ingressa na psicanálise pelo lado da sociologia. Em seus
trabalhos “Complexos familiares” (1938) e “Introdução à
função teórica da psicanálise em Criminologia” (1950), nos
adverte acerca daquilo que mais tarde chamará de “os signos
de uma degeneração catastrófica”, signos de um giro no
discurso. O pai que manda é o pai localizado no discurso do
mestre. O juiz, o mestre, ou aqueles que Freud chamou
substitutos do pai são figuras que encarnam a autoridade do
mestre, mas Lacan adverte acerca do declínio dessa autoridade e
também sobre o aumento dos crimes no nível social quando a
ordem paterna é substituída por uma outra ordem, qualificada
como ordem de ferro (Lacan,
1973-74, aula 10).
“A
psicanálise demonstrou que se a menina ou o menino não entram
no discurso do mestre, eles não entendem o que é a lei, e nem
que haja alguém que mande e alguém que obedeça” (Indart,
2004). Isso não é uma questão de tirania, mas de que
ali a castração se articula como amarração do desejo com a
lei.
Recentemente,
no Seminário 17, O avesso
da psicanálise, por meio dos discursos, Lacan formaliza o
perfil desse novo mestre que introduz uma nova ordem, porque não
está certo de que se trata de uma nova autoridade.
Cada
discurso situa diferentes dominâncias que marcam distinções a
respeito da autoridade em jogo e a primazia do pai se situa no
discurso do mestre, que é o discurso do inconsciente. Ali se
cumpre a função de interdição marcada pela barreira da
impossibilidade entre o sujeito e o objeto. A autoridade a
encarna no significante primeiro que comanda o saber.
O
mestre moderno, Lacan o localiza no discurso universitário. No
discurso universitário não é o pai o que manda, mas quem se
identifica a um saber e se dirige a um objeto. Constitui uma
nova autoridade? Como situar ali uma autoridade quando não se
trata do laço entre dois sujeitos? A prevalência lhe dá um
saber que bem pode ser anônimo, e ele se dirige a um sujeito
que bem pode estar na posição de objeto para que o rigor lhe
seja aplicado, não o rigor da lei, mas o do saber a ser
avaliado ou estudado.
Para
que a lei seja operante, ela deve estar localizada no lugar de
agente de um discurso, a partir de onde comanda o laço. Juan
Carlos Indart (2007) situa o lugar de inoperância no qual se
localiza a lei no discurso universitário: “A lei está no
lugar da verdade, quer dizer, em um lugar inoperante em relação
ao qual o sujeito está separado por uma barreira infranqueável”.
Essa
citação de Indart é útil para entender que, como apelos à
lei, as transgressões respondem a sujeitos que querem um
mestre, tal como Lacan responde aos estudantes do maio francês.
Mas a questão é outra, quando a lei é inoperante, nem
incompreendida nem desconhecida, não se trata de sujeitos que
foracluem o Nome-do-Pai, nem de perversos, nem de débeis
inimputáveis, mas simplesmente do fato de que a lei não opera
neles como limite.
O
discurso universitário, declinado em protocolos avaliativos,
propõe qualificações que não representam um sujeito.
A
dominância já não é exercida por um sujeito que, em posição
de mestre, encarna um desejo articulado a uma lei. Ela é
exercida por um saber anônimo que não transmite nenhum desejo.
Ali não se trata do amor por um mestre, nem por um substituto
paterno. Tampouco se trata de um saber que possa ser lido na
perversão paterna. Trata-se de um saber anônimo, que se dirige
a um sujeito reduzido a um objeto a ser avaliado. Por isso,
nesse seminário, Lacan usa o neologismo astudado
para dar conta da posição de objeto do sujeito, esteja ele ou
não na universidade. Não se trata da universidade, mas do
discurso moderno de toda a sociedade, seja ela composta por
estudantes ou não. O discurso universitário está nos meio
massivos, nos dispositivos, nas pesquisas. A televisão nos
informa constantemente que não há impossível. A barreira da
impossibilidade que sustenta a castração não está entre o
sujeito e o objeto, porque o próprio sujeito é um objeto. Essa
barreira se situa entre o sujeito e o significante mestre.
O
discurso universitário oferece a possibilidade de pensar a clínica
dos sujeitos desbussolados, desidentificados4.
O
declínio na autoridade do pai se deduz do declínio do discurso
do mestre e produz um déficit de duas questões:
-
déficit
na função do “não”;
-
déficit
na crença no inconsciente.
Essas
duas dimensões apresentam um desafio na própria prática da
psicanálise para reinstalar não o pai, mas o significante
mestre, do qual Lacan nunca disse que se pode prescindir. Se,
por um lado, é possível prescindir do pai, por outro, não é
possível prescindir do significante mestre, porque é ele que
representa o sujeito.
O
declínio da autoridade do pai é acompanhado por um declínio
no discurso do mestre do inconsciente. Confrontamo-nos com uma
clínica que se apresenta, cada vez mais, sob a forma da angústia,
da depressão, de patologias do ato e não pelo sintoma.
As
novas configurações sintomáticas
O
que é novo nos novos sintomas? O novo é uma preocupação
permanente porque implica uma questão sobre as categorias a
partir das quais é possível ler a irrupção do novo.
O
pensamento de Alain Badiou, atravessado por Lacan, propõe-nos
uma forma de pensar o novo. Em seu livro El Siglo
(2006), ele sustenta que o novo deste século foi
subjetivado como um imperativo e isso levou ao empuxo de romper
com o velho.
Levado
à sua máxima pureza, o projeto emancipador do homem novo rompe
os laços porque, para que algo seja totalmente novo, é preciso
a ruptura com toda a tradição que possa ligar um sujeito a uma
autoridade que encarne um laço. A destruição da autoridade
levou à aniquilação do sujeito detrás do homem novo.
A
ciência contribuiu para isso. Se Badiou chama este século de o
século do crime, é porque, findas as ideologias, o século não
se apresenta por meio de promessas, mas dos cumprimentos. “É
o século do ato, do presente absoluto e não o anúncio de um
porvir” (Badiou,
2006, p. 83).
O
homem novo acaba sendo um homem sem atributos, um homem tão
novo que nada se pode predicar sobre ele. É a pureza absoluta,
porque para predicar sobre ele devo devolvê-lo ao Outro.
Quando
um sujeito em análise fala de sua família, embora fale mal,
como é de se esperar, esse sujeito não é um sujeito sem
predicados. Fala de seus laços com o Outro. A psicanálise
requer um sujeito com atributos. O progresso que proclama um
homem novo desligado da família não é um preceito da psicanálise.
Não se trata de estar nem pró nem contra a família, mas dos
laços de um sujeito. “Os signos do declínio do Nome-do-Pai
devem ser lidos na transformação do registro do amor e não no
da autoridade nem no dos ideais”
(Brodsky, 2006).
Quando
um sujeito chega à análise com seus padecimentos, busca-se o
seio em relação ao qual eles apareceram. Não se trata de
restituir a família, mas os laços do sujeito ao Outro. O
sujeito que busca por intermédio de uma análise os
significantes aos quais está sujeitado nunca será um homem sem
atributos.
Jacques-Alain
Miller, em uma conferência proferida em Comandatuba (Miller,
2004), nos dá uma orientação para pensar o novo. Se,
em Freud, tínhamos sintomas caracterizados pela dominância do
Ideal sobre o gozo, essa dominância já não é mais exercida
pelo Ideal. Ela é uma ditadura determinada pela dominância do
objeto a sobre o
ideal. Não se trata mais de uma ditadura do pai que encarna
proibições. Trata-se de uma ditadura do gozo. A clínica atual
nos confronta com sujeitos que se apresentam mais do lado da angústia,
da depressão e das patologias do ato do que do lado do sintoma.
O declínio do discurso do mestre e o giro até o discurso
universitário tiveram sua incidência sobre isso.
Ao
declinar a função do veto paterno, encontramo-nos com os vaticínios
de Lacan: proliferação de patologias do ato, violências,
sujeitos em conflito com a ordem pública. A dimensão social do
sintoma, que condena cada sujeito a reger-se pela ditadura do
mais-de-gozar, faz com que se rompam como nunca os laços
matrimoniais e provocam a dispersão da família. A violência
no seio da família é levada aos juizados, numa escala nunca
vista. Confrontamo-nos assim com sujeitos agentes de sintomas
sociais, nos quais não se verifica um sintoma subjetivo, no
qual é preciso crer para que ele se constitua como tal.
Demissão
da função paterna
Com
a desagregação e a dispersão da família, o pai não só
deixa de existir no discurso do sujeito, mas também na
realidade ou, se ele existe, pode se demitir de sua função.
A
clínica de sujeitos desbussolados, que não consentem em se
fazer representar pelo significante, requer rifar certos obstáculos
para o que é o clássico trabalho da análise. É assim que, no
nível da configuração dos laços familiares, encontramo-nos
com duas classes de fenômenos: sujeitos descrentes do pai, mas
também com pais que se demitiram de sua função.
A
pergunta que surge então é: qual é essa função?
Lacan
usa o termo demissão no Seminário 23: o sinthoma, para se referir ao pai de Joyce.
O
dicionário da Real Academia Espanhola define este termo como
“renúncia a um emprego ou função”. Então, não se trata
ali da recusa do significante do Nome-do-Pai, como em Schreber,
mas da dimensão da função de um pai encarnado que se demite
da transmissão de um desejo, que certamente não é anônimo. O
pai do qual se espera a transmissão de um saber ao filho é um
pai vivificante e não um pai morto. Lacan define esse pai vivo
como versão ou perversão paterna.
Quando
o pai é tomado pelo sujeito como a lei, encontramos a entrada
na psicose. Ali se dá conta do encontro com Um pai de um saber
absoluto. Mas não é disso que se trata com estes sujeitos
desbussolados. Com eles, encontramos pais encarnados que se
demitem da transmissão, não do saber como absoluto, mas de um
saber particularizado, o que também produz efeitos destrutivos.
Encarnar quer dizer que alguém, um sujeito, deve emprestar um
corpo a essa função e esse emprestar um corpo implica que ali
há um desejo.
Hoje
em dia, confrontamo-nos com uma clínica que é mais o efeito de
pais que se demitem da função de transmissão do que aquela
outra clínica que é efeito do pai extraordinário de Schreber.
O pai da lei e o pai-versão não são opostos. O “não” que
se põe em jogo com a interdição subsidiária da lei é condição
necessária para a construção de uma versão do pai.
No
lugar do pai como portador de uma interdição, aparece outra
coisa que não é o pai. Há uma relação entre a dimensão da
função paterna e algo que Lacan assinala na aula 10 do Seminário 21: os não tolos erram, ou Os nomes do pai. Ali, Lacan afirma que a anulação desse “não”
é signo de uma degeneração catastrófica. Diz que o
Nome-do-Pai foi substituído por outra coisa. “O desfiladeiro
do significante pelo qual passa ao exercício esse algo que é o
amor é muito precisamente esse Nome-do-Pai que é não só ao nível
do dizer e que se emite pela voz da mãe ao dizer não para um
certo número de proibições”
(Lacan, 1973-74).
É
interessante destacar o caráter dessa substituição, porque não
se trata de um substituto paterno, mestre ou juiz, tampouco se
trata do sintoma cumprindo a função do pai, mas a função do
limite é substituída por outra função que encarna o social.
Há ali uma função que se substitui por outra. Não se trata
de substituir o pai por outro elemento que cumpra a mesma função.
Trata-se da substituição da própria função da lei.
Substituir
o elemento e conservar a função implica que também se
conserva uma ordem. Porém, ao se substituir uma função por
outra, o resultado é uma alteração na ordem. O Nome-do-Pai é
substituído por uma outra função, por uma ordem que substitui
o Nome-do-Pai em sua função de laço. A essa função Lacan a
chama “nomear para”. Transcrevo abaixo uma citação de
Lacan:
É
bem estranho que aqui o social toma um predomínio de nó e que
literalmente produza o argumento de tantas existências; ele detém
esse poder de ‘nomear para’ ao ponto que, depois de tudo, se
restitui com isso uma ordem que é de ferro, que designa essa
marca como retorno do Nome-do-Pai no real, tanto que
precisamente o Nome-de-Pai foi rejeitado [...] Por acaso esse
nomear para não é o signo de uma geração catastrófica?
(Lacan, 1973-74,
19/03/1974).
Vemos
aqui que não se trata do destino traçado pelo pai, mas pelo
social. Isso que Lacan chama “os signos de uma geração
catastrófica” alude a que essa nova função já não
articula o desejo à lei.
No
mundo atual, com as transformações no nível das novas
configurações familiares, a interrogação é a seguinte: quem
encarna essa função de traçar um limite que enlace o sujeito
não ao pai, mas a um desejo articulado à lei?
III-
Abuso sexual
No
ano de 1912, Freud escreveu o texto “Sobre a tendência
universal à depreciação na esfera do amor”, no qual fica
explicitado que o laço ao parceiro sexuado é feito sob certas
condições: para gozar dele devo degradá-lo. Diz Freud:
Esta
necessidade de um objeto sexual degradado, ao qual se enlace
fisiologicamente a possibilidade de uma completa satisfação,
explica a freqüência com que os indivíduos pertencentes às
mais altas classes sociais buscam seus amantes, e às vezes suas
esposas, em classes inferiores (Freud,
1912)
Mais
adiante, no mesmo texto, Freud acrescenta que “a psicanálise
verá com bom grado que se utilizem suas descobertas para
substituir o nocivo pelo proveitoso”.
Ele
nos adverte sobre uma degradação que é geral. Na época de
Freud, a degradação recaía sobre a eleição do objeto
amoroso numa mulher de classe inferior, porém o lugar do objeto
amoroso era ocupado por um sujeito. O abuso sexual bem podia ser
um dos signos dessa geração catastrófica.
Hoje
em dia, que forma a degradação toma? Não estamos assistindo,
por acaso, a uma degradação tal que, no lugar do objeto
amoroso, o sujeito, que deveria estar ali, é substituído por
uma substância química que se consome, ou pelo computador ou
toma uma criança como objeto sexual?
A
degradação atual chegou a tomar a forma de aniquilação do laço
por meio da violência ou simplesmente por meio da solidão na
qual o sujeito contemporâneo fica cada vez mais escondido.
Longe
de esgotar o controvertido tema sobre o abuso sexual, faz-se
necessário uma contribuição para pensá-lo a partir da psicanálise.
A questão ficará aberta, em última instância, no caso a
caso. Os chamados “abusos sexuais” são de diversas índoles.
É difícil determinar qual ato é catalogado como abuso:
encontramo-nos com uma bolsa de fenômenos na qual tudo vai
parar ali. O dicionário enciclopédico Encarta localiza: abuso de confiança, abusos de autoridade, abuso
de poder, abuso ou assédio sexual. Mas, dentro de tanta dispersão,
há uma marca que é comum aos diferentes tipos colocados nesse
catálogo, “trata-se de um excesso” e isso sim é
conveniente à leitura que fazemos do mal-estar de nossa
civilização.
O
abuso sexual em crianças merece uma reflexão. Não entrarei
naquilo que se dá chamar abuso de gênero.
Comecemos
por traçar algumas coordenadas que localizem a partir das
categorias analíticas uma resposta acerca do lugar da criança
para a psicanálise.
Em
seu trabalho “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”,
Freud deixa marcadas as bases da sexualidade infantil e rompe
com a pretendida inocência da infância. Ele situa uma antecipação
da libido a respeito da eleição do objeto incestuoso que, no
complexo de Édipo, logo sucumbe à repressão e continua num
longo período de latência como inibidor do sexual. A latência
que Freud localiza como essencialmente humana marca um tempo de
espera a respeito da eleição de objeto. Para o animal, a ordem
natural não está pervertida. Quando se desencadeia o instinto
sexual, aparece junto a resposta na busca do objeto. Só o ser
falante se antecipa ou se demora e o seu objeto não lhe é
natural, mas o resultado de uma eleição. O tema é indagar
sobre em que base se efetua essa dita eleição.
A
psicanálise constata a antecipação do gozo sexual na criança
antes de produzir-se a eleição de objeto sexual. A criança
elabora sua condição erótica e suas fixações libidinais vão
constituir os signos de seu gozo por intermédio dos primeiros
objetos investidos libidinalmente no seio da família (Miller,
1997).
A
primeira corruptora do corpo da criança é a mãe. É ela quem
marca o corpo da criança e lhe confere uma erogeneidade, e é a
partir dessas marcas que a criança se separa da mãe e goza de
uma parte de seu próprio corpo. Freud descobre que os primeiros
objetos investidos pela libido são de caráter incestuoso.
“A
relação sexual não existe, só existe na família”, é uma
referência de Lacan (Miller,
1997). A família é um vínculo social baseado na proibição
da relação sexual. Os objetos familiares são interditados
como objetos sexuais e essa escolha deve fazer-se fora da família,
mas justamente é dentro da família onde se elabora a condição
amorosa que determina a eleição do objeto erótico. Esses traços
imaginários organizados por um traço do ideal levam escondidas
as insígnias e as marcas do gozo5. Freud encontra o
aspecto pulsional do amor: essa é a condição amorosa e o
ideal, desse modo, vela o gozo. O fantasma dá conta da posição
de gozo do sujeito; a maneira pela qual cada sujeito imagina o
gozo é já uma versão do gozo.
Por
que o fantasma é perverso? Porque, frente ao impossível do
sexual no que se refere a estabelecer uma relação ao Outro
sexo a partir de uma relação sexual entre o homem e a mulher,
o fantasma fundamental põe em jogo a relação ao Outro do gozo
encarnado na figura dos pais. Daí se deduz que, na infância, a
única relação que o sujeito pode encontrar é a relação
pai-mãe.
O
que é uma criança para o casal parental?
Rastreamos
algumas respostas que Freud e Lacan nos deram. Em Freud,
encontramos a criança situada a partir do narcisismo fálico
dos pais, correlativo ao ideal, onde a criança é situada como his
majesty the baby (sua majestade o bebê). Como diz Joan
Manuel Serrat, em sua canção, “Às vezes os filhos nos
aparecem e nos dão a primeira satisfação”. Essa criança é
amada ternamente.
Mas
não é essa a corrente que se faz presente nos abusos sexuais.
A corrente que se faz presente aí é a da criança degradada.
Ela não tem somente um valor de uso, ela tem um valor de gozo e
de troca no mercado da prostituição infantil. Tomar a criança
antecipadamente como objeto sexual não é idêntico à antecipação
da sexualidade pela criança.
O
que ocorre com a latência, hoje em dia, como tempo que marca na
estrutura esse impasse sexual? Que respostas temos hoje frente
ao impossível sexual? São algumas interrogações a partir do
descobrimento freudiano...
No
seminário A lógica da fantasia, Lacan faz uma referência
à criança não como resultado da união amorosa entre a mãe e
o pai na qual a criança é uma majestade, mas como a própria
metáfora do que não se une ao nível do gozo entre eles.
Apresenta-se a criança não como metáfora do amor que une, mas
como metáfora daquilo que não os une. Ele toma a criança sob
as coordenadas da não relação sexual.
A
verdadeira razão da referência à criança, em psicanálise, não
é pois em nenhum caso a de uma germinação. Mas somente esta
essência problemática: o objeto a,
cujos exercícios nos deixam admirados, não importa onde, é
executada nos fantasmas da criança
(Lacan, 1966-67,
26/04/1967).
Que
a criança não seja produto de uma germinação não nos
autoriza a tomá-la como produto de uma reprodução biológica.
Havíamos visto dois modos de tomar a criança na parceria
parental: uma pela vertente amorosa, como resultado da união e
amor recíproco entre o pai e a mãe, é um véu, responde ao his
majesty the baby como fruto e resultado de uma completude
ideal de acasalamento com êxito e feliz. A criança, na
vertente do Ideal que une o pai e a mãe, não é o mesmo que a
criança como resto da não-relação entre pai e mãe. Por essa
via, a criança é tomada como objeto a
e ali fica localizada como metáfora da não relação sexual.
Nessa perspectiva, a criança assume o valor, não de Um ideal
inexistente na cópula. Como objeto a, ela se presta a assumir um valor de gozo, como aquilo que se
separa e resta entre um e Outro dos parceiros parentais.
O
que é a criança sob o horizonte de não relação sexual?
Elejo
essa perspectiva, já que são várias as que podemos tomar para
abordar a complexa temática, porque parto da hipótese de que o
abuso sexual é a resposta sob a forma de uma colocação em ato
dos fantasmas perversos, que Freud encontrou como respostas ao
impossível sexual. O abuso elide a questão da castração
entendida não só como o “não reintegrarás o teu produto”
que pertence à lei da interdição do incesto, mas a castração
entendida como não relação.
A
vertente que põe em jogo os abusos sexuais obviamente não é a
corrente terna. Ela abre as portas para pensar a perversão
paterna, quando foraclui aquilo que Lacan nos diz do pai como
pai-versão enquanto transmissão de uma versão de seu gozo a
partir de ter uma mulher como sua parceira. O que ocorre quando
seu parceiro é a criança? O que dizer também nos casos em que
se verifica o consentimento nos dizeres do menor?
O
abuso sexual é correlativo ao empuxo contemporâneo a uma
satisfação não articulada à lei de interdição, e a um
empuxo à denúncia de culpados quando já não há responsáveis.
Fazendo-nos de seus porta-vozes, retomamos o sonho freudiano: como
a psicanálise atualmente pode, com seus descobrimentos,
substituir o prejudicial pelo proveitoso?
Um
discurso não supre outro e dizer, a partir do discurso analítico,
que posição tem uma criança na parceria parental, não
substitui o lugar do que é uma criança para o discurso jurídico,
definido por lei. Mesmo sendo difícil avaliar a cumplicidade da
criança com seu sedutor sexual, isso não implica a absolvição
do adulto, mas o que se interroga são os meios de que se valem
como provas.
Lembrar
que a criança é um sujeito quer dizer não só que está
atravessado pela linguagem, mas que também tem um corpo erógeno,
portanto goza, e se goza do seu corpo também pode
envergonhar-se de seu gozo. Lacan (1969-70) situou bem a
dignidade que outorga esse sentimento de vergonha.
Por
acaso, se foi “vítima de um abuso”, não é outro abuso
incitar-lhe a falar? O que dizer do direito de calar? Que lugar
de respeito tem esse direito ao silêncio? O imperativo da denúncia
encobre, muitas vezes, não só os avatares de cada família,
mas também um discurso que busca culpados quando já não há
responsáveis. Por acaso o imperativo da confissão, confissão
que não é outra que a do gozo, não encobre a obscenidade na
qual está imerso esse mundo do espetáculo do gozo?
Em
seu artigo “Novas inscrições do sofrimento da criança”,
Eric Laurent (2008) se ocupa desse tema e é interessante nos
determos em algumas questões. Ele afirma ali que a necessidade
de castigo conceituada por Freud como “ser pego pelo pai”,
Lacan a localiza como pai-versão, enquanto a versão que o
sujeito se faz do gozo do pai. Esse suposto gozo é inconfessável,
“não se pode pôr em palavras”. Mas quero destacar o lugar
em que Eric Laurent localiza a perversão, não do lado do
abusador, mas do lado do Estado. “A intenção de reintroduzir
o gozo no Outro é uma das formulações que Lacan deu da
perversão”. Frente à falta de gozo no Outro, o perverso a
preenche com a certeza de que no Outro há gozo e ele se faz
encarregado de reintroduzir essa falta. Essa certeza de gozo que
o Estado espera como verdade do discurso da criança é o que
localiza como perversão do Estado e localiza o “paidofílico”
mais do lado do fora do sentido.
Como
psicanalistas, sabemos do pudor que encerra um gozo e a criança
não está isenta disso, o irresponsável é o adulto que cala
seu delito. Não merece ao menos um questionamento pensar acerca
da insistência posta na confissão da criança com as provas
testemunhais?
Que
a criança seja responsável de sua posição de sujeito é uma
outra questão, é que a partir da não assunção da
responsabilidade subjetiva de quem cometeu o delito e o
silencia, se inscrevem cada vez mais as provas testemunhais na
criança. O sujeito é responsável pelos seus atos, mas não
pelos atos do outro.
O
imperativo de declarar reduplica o abuso e está se convertendo
em algo inversamente proporcional à impotência dos juízes e
peritos quando não obtêm a resposta de responsabilidade no
abusador. Tornam-se mais implacáveis para obtê-la por parte
das crianças.
Se,
no estado de direito, o sujeito é livre para entrar e sair,
para falar e calar, esses também são os direitos da criança.
Mas, em nome da saúde mental, não só tiram os direitos do
sujeito louco, como também do sujeito criança, enquanto o
priva de seus direitos de escolher entre a palavra e o silêncio.
É
certo que a criança tem direito a se calar e ninguém pode
obrigá-la a fazer o contrário, é tão certo isso como o
empuxo à denúncia a partir dos meios familiares, os meios de
comunicação. Se a psicanálise entra do mesmo lado que os
direitos humanos, é interessante refletir acerca do alcance
desse enunciado. Recordemos umas palavras de Alain Badiou a
respeito dos direitos da criança:
A
questão não obstante consiste sempre em conhecer o preço que,
em matéria de definição do homem, se paga por qualquer ampliação
de seus direitos. Pois uma igualdade é reversível. Se a criança
tem os direitos do homem, isto pode significar que é um homem,
mas também tem por condição que este aceite não ser mais que
uma criança (Badiou,
2006, p. 102).
IV-
A criança generalizada do mundo globalizado: a responsabilidade
na época atual
Que
tipo de responsabilidade cabe à psicanálise na época
contemporânea?
O
debate acerca da responsabilidade é crucial no mundo atual
globalizado. Os acontecimentos, ao produzirem-se por uma
multiplicidade de causas concatenadas em uma rede simultânea,
trazem aparelhado na subjetividade a dificuldade de localizar o
lugar da causa que, por sua vez, se traduz em uma dificuldade
para situar o responsável. O lugar da causa e a
responsabilidade estão intimamente relacionados e esse laço se
vê perturbado por essa concatenação de causas. Não estamos
na época do governo do Um, mas do múltiplo.
Numa
época na qual se oferecem todas as condições para que ninguém
se faça responsável, é lógico que todos os discursos e
disciplinas falem da responsabilidade.
Sendo
o gozo o campo sobre o qual a psicanálise opera, a
responsabilidade na psicanálise está especificada pela relação
que o sujeito tem com o gozo implicado em seus atos. Daí que
Lacan, no “Discurso de encerramento das Jornadas sobre a infância
alienada”, qualifica a pessoa maior como quem se faz responsável
por seu gozo. O fato de que não haja “pessoas maiores” –
tal como disse Lacan – marca a entrada de um imenso número de
pessoas no caminho da segregação; é a época da “criança
generalizada”, aquela que não se faz responsável por seu
modo de gozar nem por suas conseqüências.
A
responsabilidade para a psicanálise é sempre em relação a um
sujeito, diz respeito a uma singularidade e não a uma massa;
pelo contrário, na massa, os sujeitos são irresponsáveis.
O
direito distingue entre responsabilidade civil, pela qual se
atribui a alguém enquanto autor de um ato prejudicial para
outro sujeito a obrigação de reparar as conseqüências
danosas que se derivem de sua ação, e responsabilidade penal,
pela qual se imputa a alguém a autoria de uma ação delituosa
em relação à qual é obrigado a receber uma pena.
No
terreno filosófico, a responsabilidade moral localiza a
perspectiva na qual o sujeito deve reconhecer-se como autor de
seus atos ante a própria consciência e ante a sociedade. A
afirmação da liberdade é a condição necessária para a
responsabilidade. Uma pessoa é moralmente responsável do que
fez somente se tivesse podido atuar de forma distinta, quer
dizer, se tem a possibilidade de opção. Assim, a
responsabilidade abre o debate acerca da liberdade e do
determinismo do sujeito. O debate acerca da conduta moral do
sujeito moderno se inicia com Kant, para quem o ato moral situa,
por parte do sujeito, uma escolha entre a lei universal da razão
e a renúncia aos interesses particulares em nome do imperativo
moral, e isso pressupõe uma decisão por parte do sujeito. Mas
em seu texto “Kant com Sade”, Lacan põe manifestadamente o
reverso gozoso dessa moral.
Que
perspectivas, que eixos se tomam para delimitar a
responsabilidade para o sujeito da psicanálise?
Em
Freud, o tema da responsabilidade aparece em seu texto “A
responsabilidade moral pelo conteúdo dos sonhos” (1925).
Situa ali um eixo que concerne à responsabilidade a respeito
das formações do inconsciente em que, longe de eximir o
sujeito de sua responsabilidade, amplia seu horizonte. Conclui
que o sujeito deve se fazer responsável pelo conteúdo de seus
sonhos.
Mas
não é o mesmo sonhar com que se mata o pai e o ato de matá-lo.
No inconsciente, aloja-se um desejo que em si mesmo é
transgressor, mas outra é a questão acerca dos limites com que
cada sujeito conta a respeito de seus atos.
Culpa,
responsabilidade e castigo são categorias utilizadas tanto pelo
discurso analítico como pelo jurídico. Entretanto, para o
discurso jurídico, há uma continuidade entre elas. O sujeito,
se é culpado, é responsável por um ato tipificado como
delito, portanto deve receber uma sanção.
Para
a psicanálise não há tal continuidade. O sujeito é culpado
de um ato não cometido e pode gozar eternamente de sua culpa
sem se fazer responsável, também pode cumprir uma condenação
e isso não implica sua responsabilidade subjetiva ou pode se
decretar inimputável e o mesmo sujeito exigir uma sanção que
lhe devolva sua condição de sujeito responsável. Por isso,
para a psicanálise, não existe amparo algum sob nenhuma lei de
inimputabilidade. Para a psicanálise, há terrorismo da
responsabilidade. Lacan, coerente com Freud, chega a situar um
terrorismo da responsabilidade enquanto coloca um sujeito sempre
responsável. “De nossa posição de sujeitos somos sempre
responsáveis” (Lacan,
1965, p. 837). Ali o sujeito é responsável enquanto está
situado como resposta do inconsciente. Isto é diferente de ser
situado como determinado por um mecanismo organicista. Lacan
responde ao discurso psiquiátrico organicista localizando um
interjogo permanente entre causa e consentimento. A causa vem
pelo determinismo do Outro, mas o sujeito fica localizado no nível
da resposta que outorga como consentimento ao Outro ou como
recusa também. E daí o terrorismo da responsabilidade e a
impossibilidade ética a partir da psicanálise de colocar um
sujeito como vítima.
Se
por intermédio da culpa o sujeito se liga ao Outro, por meio do
ato ele se desliga. Só pode assumir uma responsabilidade a
posteriori do ato religando-se ao Outro, ali se verifica a
relação com as conseqüências de seu ato. Há sujeitos que
ficam identificados ao ato e não querem falar disso, sujeitos
arrependidos, sujeitos que reivindicam o ato, sujeitos que não
têm uma explicação e desejam encontrá-la, outros que não a
tem e tampouco a querem buscar, sujeitos que se fazem carregados
das conseqüências e sujeitos que culpam
o outro.
O
supereu e as fórmulas da sexuação
Retomarei
uma pergunta feita por Jorge Aleman, em seu livro “A experiência
do fim”: a
responsabilidade frente ao retorno do recalcado é a mesma que a
que se espera do sujeito que responde ao imperativo categórico?
Com
o paradoxo do supereu se deduz uma perspectiva que, no
concernente à responsabilidade, traça outro horizonte. Em um
caso, se trata do retorno do recalcado e, em outro, do retorno
do real do gozo encarnado no imperativo categórico que ordena
ao sujeito gozar.
Mas
o imperativo categórico não se articula do mesmo modo quando
se insere em uma lógica que conta com uma exceção que
delimita e diz ‘não’ quando não existe um que diga não.
Este último se aparenta com a caracterização que fazem J.-A.
Miller e E. Laurent, da época atual como a do Outro que não
existe como único.
Com
as fórmulas da sexuação, Lacan traça um horizonte que vai
mais além do posicionamento sexual de um sujeito. Com elas também
podemos fazer uma leitura dos sintomas que diz respeito ao atual
mal-estar contemporâneo. Seguindo a repartição traçada por
Lacan a respeito da modalidade de gozo que é a masculina,
regida por um limite fálico, faz a uma classificação que tem
a exceção como limite e por outro lado, a repartição
feminina que se rege pela lógica do não-todo fálico e não
tem uma exceção que delimite o gozo. Uma se rege pelo finito e
outra pelo infinito. Seguindo a Milner (2004), as democracias
ilimitadas se regem por uma lógica onde não prima o reino do
Um, mas ao contrário, a inexistência desse Um que diga não.
A
partir disso, retomo uma observação de Juan Carlos Indart5
a respeito do imperativo categórico: “O imperativo universal
kantiano colocado ao nível do simbólico como Ideal ou a
imaginarização de uma completude não é o problemático. O
problemático se apresenta quando esse Universal quer ser
realizado como um todo no real”.
O
universal funciona como um todo de ficção no imaginário e o
simbólico não traz aparelhados os problemas. A questão se
torna problemática quando essa moral quer se elevar no real à
categoria de constituir um ato que se articula do “todo x”.
O imperativo kantiano rege a lógica masculina, mas, ao passar
para o lado feminino da sexuação, o “não existe um” é
lido como universal negativa, como nenhum, a conseqüência
disso é o extermínio da diferença no real. O universal (como
categoria simbólica) nunca pode ser alcançado no real.
Toda
orientação na qual o Ideal se queira fazer passar ao real fará
aparecer essa classe de “extermínios” que se produziram a
partir da Segunda Guerra Mundial até aos fundamentalismos
atuais.
A
partir das Antimemórias,
de Malraux (1968), Lacan faz uma alusão a essa posição de
fazer-se de distraído, que encontrou nos sobreviventes da
guerra. Essa mesma posição não tem fronteiras, na Argentina a
encontramos a partir da criança que rouba no colégio e diz
“não fui eu”, até os crimes de Estado ocorridos na
Argentina da ditadura militar. Todos crianças generalizadas.
Quando
o Outro é aniquilado ou destruído no laço? Quando, no lugar
do Outro, está localizada a adição? Quando o Outro é uma
criança abusada? Que responsabilidade cabe ao analista frente
aos novos sintomas que oferecem como solução a não relação
sexual, a anulação da castração? Podemos considerar esses
sintomas como arranjos de suplência da relação sexual
faltante? Que responsabilidade cabe ao analista frente ao mundo
no qual impera a criança generalizada? Como compensar o autismo
do gozo para que o resultado seja uma posição responsável e não
cínica?
O
imperativo freudiano “Onde isso era um sujeito advém” não
é um imperativo cínico, porque transforma a satisfação
pulsional onde o sujeito goza só pelo laço ao Outro. Ao
imperativo categórico kantiano, Freud, que não foi nem ingênuo
nem idealista, lhe responde com o imperativo ético do supereu.
Mas Freud não faz do supereu o imperativo ético da psicanálise.
Ele responde
com Wo Es war, soll Ich
werden.7
Notas:
-
“La
política procede por identificación, manipula los
significantes amos, busca atrapar al sujeto” (Miller,
2005, p. 21).
-
N.R.:
Trata-se de uma referência ao Big Brother, o olho
televisivo que tudo vê.
-
Título
original do filme: "l'Enfant" (Bélgica/Francia,
2005). Direção
Jean-Pierre e Luc Dardenne.
-
No
Seminário Clínica del discurso universitário, ditado por Juan Carlos Indart
na EOL, foram trabalhados vários materiais clínicos à
partir desta perspectiva.
-
Recordemos
que isto é antinômico ao situado por Miller (2004) como
discurso hiper moderno no qual o gozo já não está velado
pelo ideal, é ele quem comanda.
-
Clínica
da não relação sexual, “Lacan con Mencio”, seminário
ditado por J. C. Indart en la EOL, 2003. Notas
da autora.
-
Trata-se
do mesmo imperativo supracitado: “lá onde era o isso, o
sujeito deve advir”.
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Texto
recebido em: 20/07/2007
Aprovado
em: 15/10/2007
|