Em “Os complexos familiares na formação do indivíduo”, Lacan (1938) formula que o destino psicológico da criança depende da relação que esta estabelece entre si e suas imagens parentais. Partindo deste pressuposto, a constelação familiar exerceria uma função causal no complexo nodal das neuroses, em sua gênese, a partir do próprio complexo de Édipo. Segundo Prado (2009), a história de cada neurose se reporta à pré-história do sujeito, à trama que envolveu e estruturou as relações de seus pais, e que ressoará na história que o sujeito construirá. O modelo introduzido por Freud se ancorou, desde sempre, na construção, feita pelo sujeito, de um saber mitológico para se haver com a trama edípica. O mito é, portanto, a trama que aponta um enunciamento do impossível de se dizer sobre o desencontro da relação sexual, através do qual a criança se debruçará formulando teorias sobre a sua concepção. Entretanto, há a impossibilidade de equivaler à cópula dos pais a cópula de significantes (Fernandes, 2006). Neste sentido, deste mito se herda o valor patogênico atribuído às neuroses, uma vez que a inscrição fálica do pai não pode transmitir o que se passa na relação sexual.