Volume IX, Número 19


ISSN 1808-709 X       Novembro de 2014 à Abril de 2015

Editorial

A distinção entre psicanálise pura e aplicada perdeu muito de sua força no discurso psicanalítico lacaniano atual. Porquê? Penso que o desejo de alcançar as camadas da população mais desfavorecidas, faz parte do esforço coletivo para construir uma sociedade menos desigual. Um outro forte motivo é o surgimento de uma ampla gama de sintomas, efeitos do discurso relativista pós-moderno e dos imperativos de gozo difundidos pela lei do mercado, que não se manifestam como sintomas individuais. Sou um toxicômano, um compulsivo sexual, um deprimido, um bipolar, um ansioso, me faz um membro de uma comunidade sintomática e não um sujeito do inconsciente afetado de um sintoma cujo sentido é singular.



Resenhas

Em “Os complexos familiares na formação do indivíduo”, Lacan (1938) formula que o destino psicológico da criança depende da relação que esta estabelece entre si e suas imagens parentais. Partindo deste pressuposto, a constelação familiar exerceria uma função causal no complexo nodal das neuroses, em sua gênese, a partir do próprio complexo de Édipo. Segundo Prado (2009), a história de cada neurose se reporta à pré-história do sujeito, à trama que envolveu e estruturou as relações de seus pais, e que ressoará na história que o sujeito construirá. O modelo introduzido por Freud se ancorou, desde sempre, na construção, feita pelo sujeito, de um saber mitológico para se haver com a trama edípica. O mito é, portanto, a trama que aponta um enunciamento do impossível de se dizer sobre o desencontro da relação sexual, através do qual a criança se debruçará formulando teorias sobre a sua concepção. Entretanto, há a impossibilidade de equivaler à cópula dos pais a cópula de significantes (Fernandes, 2006). Neste sentido, deste mito se herda o valor patogênico atribuído às neuroses, uma vez que a inscrição fálica do pai não pode transmitir o que se passa na relação sexual.