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Laboratório de Ensino

IMAGINÁRIO

Carolina Apolinario de Souza 
 

O termo imaginário, utilizado por Lacan depois de 1936, designaria o campo ou o registro da relação dual com a imagem do outro. Deste modo, o imaginário seria um conceito mais amplo que o estádio do espelho, uma vez que diz respeito às conseqüências do  fato de que o eu  é fundado numa relação especular.

Lacan mostrou num primeiro momento, que o estádio do espelho seria a passagem do especular para o imaginário, e em 1953 definiu o imaginário como o lugar do eu por excelência, com seus fenômenos  de ilusão e engôdo.

Desde Freud, sabe-se que o eu não existe desde o início, portanto, antes do estádio do espelho, a criança não teria uma imagem unificada de si mesma (o que Freud denominaria de corpo auto erótico e Lacan de fantasma do corpo esfacelado).

O outro funciona como espelho, pois ao ver realizado nele, o que hoje  não pode realizar, a criança antecipa sua futura organização motora. O eu, ganha consistência a partir da relação com o outro, pois é o outro que serve de testemunha para que a criança se reconheça no espelho. (Roudinesco, 1988). A visão da forma total de seu corpo, lhe dá um domínio prematuro e imaginário em relação ao domínio real de suas funções motoras. Assim, o corpo esfacelado encontra sua unidade em  sua própria imagem antecipada. (Lacan, 1986). A partir daí, ao ver-se no espelho, a criança assume que é uma figura separada do outro.

Se entendermos que a identificação imaginária põe em jogo a questão da semelhança e da aparência, podemos afirmar que tanto na fase especular como posteriormente em suas relações intersubjetivas, o sujeito se constitui através de uma relação imaginária com o outro, tomando-o como modelo. Nesse sentido, só há interação no  campo imaginário, no sentido de que falamos para um semelhante que supomos capaz de nos entender.

No  texto  O estádio do espelho encontrado nos Escritos,  Lacan afirma que:

O estádio do espelho é um drama cujo alcance interno se precipita da insuficiência  para  antecipação, que para o sujeito, tomado no equívoco da identificação espacial, urde os fantasmas que se sucedem de uma imagem esfacelada do corpo para uma forma que chamaremos ortopédica de sua totalidade (Lacan, 1998: 100)

A imagem tem portanto um poder morfogênico, já que o sentimento do próprio corpo vem de uma matriz que é a imagem de um outro que tem domínio e liberdade motora. Lacan diz por isso que o  eu é constituído do exterior para o interior. (Julien, 1993)

Segundo Lacan, encontramos a relação imaginária na formação do je (sujeito do inconsciente), pois é somente através do imaginário que o sujeito pode aceder às determinações simbólicas. Fazendo uma dialética entre imaginário e simbólico, o ensino de Lacan aponta uma clivagem entre eu em sua dimensão imaginária (moi) e o je, sujeito marcado pelo simbólico (Miller, 1987). Apesar dessa disjunção entre o que pertence ao domínio imaginário e o que pertence ao domínio simbólico, Lacan aponta que esses dois registros estão sobrepostos para todos os seres inscritos na linguagem. O  registro imaginário não pode separar-se do simbólico,  pois o sujeito só consegue constituir-se diante da confirmação dada pelo olhar desejante do outro. (Julien, 1993).

Sobre  a relação entre  imaginário e  real,  Lacan afirma. que  no fenômeno de ilusão, o imaginário inclui o real e ao mesmo tempo, o forma, já que em  toda  relação do sujeito com o objeto está implícita uma relação imaginária. Citando Lacan: "Vocês podem tornar  imaginário o que é real à vontade". Lacan diz ainda que nessa relação entre imaginário e real, as relações estabelecidas com os objetos dependem do lugar do sujeito no mundo do simbólico, no mundo da palavra. 

Bibliografia  

DOR, J.; Introdução à leitura de Lacan, Porto Alegre: Editora Artes médicas, 1990

JULLIEN. P.; O retorno de Freud a Lacan - a aplicação do espelho, Porto Alegre, Editora Artes Médicas, 1993   

KAUFFMAN, P.;  Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: O Legado de Freud a Lacan, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996.

LACAN, J.; Escritos,  Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,  1998

LACAN, J.;O seminário, livro 1: Os escritos técnicos de Freud (1953-1954),  Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.

LACAN, J.;O seminário, livro 2: O eu na teoria de Freud na técnica da psicanálise  (1954-1955),  Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1987.

LAPLANCHE & PONTALIS.; Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997

MILLER, J. Percurso de Lacan: uma introdução, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1987

OGILVIE, B.; A formação do conceito de sujeito, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.

ROUDINESCO E; História da psicanálise na França. A batalha dos cem anos, volume 2: 1925-1985, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,1988.

ROUDINESCO E PLON; Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.

 

 

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