Isepol - Instituto Sephora de Ensino e Pesquisa de Orientação Lacaniana

A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS (1900) Sobre os sonhos Freud, S. "La interpretación de los sueños"[1900] in Obras Completas Vol. I, Madrid, Biblioteca Nueva, 1973, p. 343-720.
resenhado por Waldir Beividas beividas@psycho.ufrj.br com a colaboração na digitação das anotações por Marta Maciel Levy
Apresenta-se aqui uma resenha " sintética " do imenso tratado de Freud sobre os sonhos. A ponderação das escolhas dos conteúdos registrados é sempre um ato " arbitrário ", ou ao menos " motivado " por interesses de pesquisa nem sempre equidistantes de cada linha do texto, nem sempre " conscientes ".
A intenção local da resenha nada mais aspira do que ser um mero instrumento auxiliar para alunos de graduação, cuja disciplina toma o sonho como tema, ou cujo interesse se volta a ele. Para os alunos e demais navegadores da internet, em geral, os conteúdos aqui lançados não pretendem ser nada além do que meros indicadores da imensa produção do criador da psicanálise, no que se refere aos sonhos.
Nem todos os itens e capítulos receberam quantitativamente os mesmos comentários. Trata-se de uma resenha em expansão, sujeita a modificações, aprimoramentos, inclusões e supressões. Nesse sentido, quaisquer sugestões, críticas, outras ênfases do texto freudiano, que aqui ainda ficaram omitidas, são bem vindas, no endereço acima, do resenhador. Com os aperfeiçoamentos que se podem obter paulatinamente, a matéria - isto é, o conhecimento do sonho como um ato psíquico singular - só tende a ganhar maior consistência.
Mesmo diante de toda a polêmica que suscitam as traduções da obra de Freud, tomei aqui o texto da tradução espanhola, feita a partir do original em alemão, por Luis Lopez-Ballesteros y de Torres, tradução cuja leitura, nas expressões do próprio médico vienense, "me produce siempre un vivo agrado por la correctíssima interpretación de mi pensamiento y la elegancia del estilo" (1923, vol.III, p. 2821). As citações aparecem entre aspas: às vezes, foram traduzidas por mim; outras vezes, mantive-as em espanhol, pela clareza e proximidade com a nossa língua.
CÁPITULO I: A LITERATURA CIENTÍFICA SOBRE OS PROBLEMAS ONÍRICOS (P. 349-405)
- Técnica psicológica (nova) - sonho: produto psíquico cheio de sentido (p.349) - A compreensão "científica" dos sonhos: pouco progresso nos dez séculos que antecederam.
- Primitivas concepções: sonho como produto sobrenatural (seres sobrehumanos) - revelações: divinas ou demoníacas. Com determinada intenção: anunciar o porvir do sujeito - premonição.
- Estudos de Aristóteles: não revelação divina mas demoníaca: i.e. obedecem leis do nosso espírito. Já antevia o sonho como ampliação de pequenos estímulos percebidos no sono (elevação de temperatura - chamas / sofrimentos).
- A concepção pré-científica dos antigos - completo acordo com sua visão de mundo: projetar como realidade no mundo exterior o que somente possuia dentro da vida ánimica.
- Dificuldade de escrever uma história sobre o conhecimento científico do sonho: cada autor sempre começara a escrever desde a origem os problemas; não há bases sólidas para se prosseguir e continuar.
- Não tendo tido grande ocasião de me ocupar com o sono (estado de repouso) - problema essencialmente fisiológico mesmo se no caráter deste estado deva achar-se contida a transformação das condições de funcionamento do aparato anímico - Freud descarta a bibliografia sobre o tema (p.352).
a) Relação do sonho com a vida desperta
- Divergência de opiniões sobre a R entre sonho e vigília (vida desperta):
Fichte/Strümpell/Burdach: o sonho não repete a vida diurna; liberta-nos dela.
Haffner: no princípio o sonho continua traços da vida desperta.
Weygandt: a maioria dos sonhos nos conduzem à vida desperta ao invés de nos libertar dela.
Maury (1855): sonhamos o que dissemos, desejamos, ou fizemos.
Maas (1805): o conteúdo mais freqüente: nossas mais ardentes paixões.
Fechner (1860): sonho - "outra cena"
Delage (1891): o psiquismo reprimido vem à luz no sonho.
Robert (1866): sonho com poder de cura.
Schopenhauer/ Jessen (1855): sonho tem relação com a personalidade do sonhador, conformidade com seu caráter.
Pfaff (1868): diga-me o que sonhas e te direi o que és.
Griesinger (1871): "realização de desejos".
Volkett (1875): temos no sonho uma falta (falha) de atenção toda particular pelo que é sexual.
Scholtz (1887): "transformação alegórica".
Harvey de St.Denis (1867): os sonhos mais bizarros encontram mesmo explicações das mais lógicas quando se sabe analisá-los.
[Obs. J. V. Rillaer [Les illusions de la psychanalyse, Bruxelas, Mardaga, 1980] elenca esses autores para dizer que as concepções mais especificamente freudianas são as mais contestáveis e que a maior parte das "teses" freudianas foram enunciadas antes dele.] ? Seu texto merece leitura atenta e crítica].
b) O material onírico: A memória do sonho
- Trata-se de um material vivido, reproduzido e recordado: "coisa geralmente reconhecida e aceita".
- Só que de início não reconhecemos todo o material como tendo pertencido à experiência.
- A livre disposição do sonho sobre lembranças inacessíveis à vida desperta: fato singularíssimo e de suma importância teórica.
- O sonho testemunha possuir conhecimentos e lembranças de que o sujeito não tem a menor suspeita na vida desperta. Inclinamos a pensá-lo atividade produtiva autônoma.
- Uma das fontes do não lembrado: vida infantil: precisão das lembranças infantis no sonho.
- Outra peculariedade: a seleção incide sobre dados {indiferentes e insignificantes.
{secundários - escassa importância
- "singular predileção da memória onírica pelo indiferente".
- "A conduta da memória onírica é seguramente de altíssima importância para toda teoria geral da memória." (p.360).
c) Estímulos e fontes do sonho
1. Estímulo sensorial externo (objetivo)
2. Estímulo sensorial interno (subjetivo)
3. Estímulo somático interno (orgânico)
4. Fontes de estímulos puramente psíquicos.
1- ESTÍMULO SENSORIAL EXTERNO: Luz intensa / ruído / odor / frio / pressão - contato
- Investigações comprovam coincidência {estímulo: conteúdo do sonho /analogia}
- Porém o estímulo não é "traduzido" na sua forma real mas substituído por uma representação qualquer:
a)Sino de igreja - despertador (Maury)
b)Imagem dramatizada: sinos das coleiras dos cavalos - despertador
c)Imagem cenografada: porcelana que cai e trine - despertador
2-ESTÍMULO SENSORIAL INTERNO: Caos luminoso do campo visual escuro / zumbido de ouvidos / excitações da retina (Wundt). Sensações subjetivas visuais, auditivas.
3-ESTÍMULO SOMÁTICO INTERNO: - Já Aristóteles cria: sonhos indicam começo de enfermidade - [função diagnóstica]
- Strümpell: no sono a alma chega a uma consciência sensitiva muito mais ampla e aguda do corpo.
- Tissié: horríveis pesadelos - enfermidade do coração angústia. - enfermidade do coração e pulmão - Os orgãos enfermos imprimem ao conteúdo do sonho um selo característico. P. exemplo: transtorno da digestão.
- Leitura preferida pelos autores médicos pois faz da sensação orgânica a origem dos sonhos e o atrativo de favorecer a ligação etiológica dos sonhos sem as perturbações mentais.
- Krauss (psiquiatria) sensação orgânicamente condicionada: musculares / respiratórias / gástricas / sexuais / periféricas - Transubstanciação das sensações em imagens oníricas.
- Dessas três origens ou fontes, Freud não as nega mas considera-as "insuficientes" para explicar por completo "a contingência de que nos parece gozar a determinação das imagens oníricas".
4. FONTES PSÍQUICAS DE ESTÍMULOS
- Se a etiologia dos sonhos ficasse totalmente esclarecida pela atuação do interesse desperto (vigília) e dos estímulos (externos/internos) teríamos conseguido resolver o enigma das fontes oníricas. Mas continuam existindo enigmas na sua fonte.
- Na maior parte da literatura sobre o sonho: imensas lacunas no que se refere à "derivação do material de imagens de representação mais característicos para o sonho".
- Tendência geral: reduzir a participação psíquica na gênese do sonho. Tissié: Os sonhos de origem psíquica não existem.
- Freud: "Más adelante veremos cómo el enigma de la formación de los sueños puede ser resuelto por el descobrimiento de una insospechada fuente psíquica de estímulos. Mas por lo pronto no hemos de extrañar el exagerado valor que para la formación de los sueños se concede a los estímulos no procedentes de la vida anímica, pues, a parte de que son los más fáciles de descubrir y pueden ser experimentalmente comprobados, la concepción somática de la interpretación de los sueños corresponde en un todo a la orientación intelectual dominante hoy en la psiquiatría. En esta ciencia constituye regla general acentuar intensamente el dominio del cerebro sobre el organismo, pero todo lo que pudiera suponer una independencia de la via anímica de las alteraciones orgánicas comprobables o una espontaneidad en sus manifestaciones asusta hoy al psiquíatra, como si su reconocimiento hubiera de traer consigo nuevamente los tiempos del naturalismo y de la esencia metafísica del alma. La desconfianza del psiquíatra ha colocado al alma como bajo tutela y exige que ninguno de sus sentimientos revele la posesión de un patrimonio propio. Pero esta conducta no demuestra sino una escasa confianza en la solidez de la concatenación causal que se extiende entre lo somático y lo psíquico. Incluso donde lo psíquico se revela en la investigación como la causa primera de un fenómeno, conseguirá alguna vez un más penetrante estudio hallar la continuación del camino que conduce hasta el fundamento orgánico de lo anímico. Mas cuando lo psíquico haya de significar la estación límite de nuestro conocimiento actual, no veo por qué no reconocerlo así". (p.374)
d) Por que ao despertar esquecemo-nos dos nossos sonhos?
1-Esquecemos imagens débeis e recordamos outras mais enérgicas próximas delas.
2-Retemos melhor o que é dado perceber repetidamente e as imagens oníricas surgem no geral uma única vez.
3-O desprovido de sentido nos é tão difícil de reter como o confuso e desordenado e o sonho carece, na maioria, de ordem e compreensibilidade (ex: vogais e consoantes dispersas versus palavras.)
4-Strümpell: outros fatores derivados da relação dos sonhos com a vida desperta envolvimento total da atenção desperta pelo mundo sensorial.
5-O escasso interesse que lhe concede o sujeito.
Mas porque se recordam os sonhos apesar disso? - Como se os recordam?
- um sonho que pensamos estar esquecido pode ser recordado no transcorrer do dia com ocasião de uma percepção que roce casualmente o conteúdo esquecido.
- Strümpell (1877): "Pode ocorrer com facilidade que a consciência desperta intercale involuntariamente em nossa lembrança algo alheio ao sonho e desse modo imaginamos ter sonhado uma multidão de coisas que nosso sonho não continha." (p.376).
Obs.[J.V. Rillaer [op.cit] usa a citação para enquadrar nela o próprio Freud]
- Jessen (1855): Completamos os sonhos involuntariamente e inadvertidamente preenchendo as lacunas das imagens oníricas. Um sonho "coerente" só raras vezes ou talvez nunca é como a memória nos mostra. Corrigimos a incoerência dos sonhos quase que forçosamente.
- V. Egger: O esquecimento total do sonho é sem gravidade, mas o esquecimento parcial é partido(?): completamos pela inauguração os fragmentos incoerentes, tornamo-nos artistas sem o saber...
- Freud: Visto que para comprovar a fidelidade de nossa memória não possuímos outro controle senão o objeto, e este nos falta inteiramente no caso do sonho, fenômeno que constitui uma experiência pessoal e para o qual não conhecemos fonte distinta de nossa memória ? Que valor podemos dar ainda à sua lembrança?
e) Peculariedades psicológicas do sonho
- Fechner (1860) Elementos de psicofísica: a cena dos sonhos é outra que a da vida de representações desperta.
- Freud: Não foi ainda esclarecido o que Fechner significava com essa mudança de endereço da atividade anímica nem sei de pesquisadores que tenham seguido o caminho apontado
- [aqui Freud rebate " antecipadamente " a J. Van Rillaer (cf. acima).
- Seria de toda forma errôneo dar uma interpretação anatômica no sentido de uma localização fisiologica do cérebro ou como estratificação histológica do córtex cerebral. Em vez disso será frutuoso e profundo: um aparato anímico composto de várias instâncias.
- Uma das principais: coibição dos conceitos (vigilia) dispersão desses em imagens como representações involuntárias, dispersas (inclusive mesmo as idéias abstratas que se plastificam (Silberer). Isso se dá no estágio de adormecimento imediatamente anterior ao sono - "sonho".
O sonho pensa predominantemente em imagens visuais.
O sonho alucina: substitui pensamentos por alucinacões.
- O sonho dramatiza uma idéia: monta uma situação como presente.
Expressão emprestada de Spitta
-Lemoine: a incoerência das imagens oníricas é o único caráter essencial.
Hegel: o sonho carece de toda coerência objetiva compreensível
Dugas: O sonho é a anarquia psíquica afetiva e mental
- Freud: Entre os rendimentos extraordinários que pudemos extrair da comparação é o da memória o mais patente. Sonhos como de Maury (guilhotina) parecem demonstrar que o fenômeno onírico pode acumular em brevíssimos instantes um conteúdo de percepção muito maior do que o que nossa atividade psíquica pode abarcar na vida desperta. (p.387)
f) Sentimentos éticos no sonho
- Alguns investigadores - o sonho mantém a natureza moral da vigília [1]
- o sonho a ignora em absoluto. [2]
Freud opta pela segunda:
[2] Radestock: predomina a "indiferença" ética; o juízo é debilíssimo
Jessen: realizamos sem remorsos alguns dos maiores crimes
Volket: ninguém ignora o desenfreio (sexual) que a vida onírica mostra
[1] Schopenhauer: o homem virtuoso o será em sonhos: sonhamos conforme nosso caráter
Platão: os homens melhores são os que só em sonho se lhes ocorre e que com os outros ocorre despertos.
Pfaff: conta-me o que sonhas e te direi o que há dentro de ti.
Hildebrant: permanece o "imperativo categórico" de Kant a preservar a natureza moral do homem no sonho.
- no sonho: "representações involuntárias" (imorais/absurdas)
- mostra a essência do homem. Hildebrant: "conselheiro"que mostra as debilidades morais
- Freud. Representações involuntárias - representações afogadas durante o dia.
g)Teorias oníricas e função do sonho
"Um conjunto de juízos sobre o sonho, que tente explicar, desde um determinado ponto de vista a maior soma possível dos caracteres observados em sua investigação e fixe ao mesmo tempo sua situação com respeito a um mais amplo campo de fenômenos, merece o nome de teoria onírica ;… obedecendo nossa acostumada orientação teleológica devemos preferir aquelas (teorias) que introduzem o conhecimento de uma tal função (função do fenômeno onírico)" p. 393.
Tipologias
Grupo 1
P. exemplo. Delboeuf: os sonhos fazem perdurar no sonho a total atividade psíquica de vigilia. Diff: qual a diferença entre sonho e reflexão? Falta-lhes deduzir uma função: Para quê sonhamos?
Grupo 2.
Fisiológicos e Médicos:
- Aceitam a queda da atividade psíquica e debilitação da coerência, mas defendem que na vida onírica somente se manifesta uma atividade anímica, paralizada pelo repouso. (teoria dominante-médicos)
- O fenômeno onírico como uma vigília incompleta e parcial (fisiólogos e filósofos modernos). Não há função para o sonho: é um processo somático, nulo.
- O sonho como uma reação-totalmente supérflua-à perturbação do repouso ocasionada pelo estímulo. Delage admite que no sonho se exterioriza o reprimido / mas interrompe essa chegada quando dá ao sonho um papel insignificante, como produto de pensamento errante sem fim, sem direção que se fixa em lembranças que guardaram tanta/quanta intensidade conforme a atividade atual do cérebro e mais ou menos abolida pelo sono.
Grupo 3.
Outras teorias aceitam que a alma sonhadora realize funções psíquicas e uma função útil do sonho.
- estado em que a alma se recompõe e acumula novas forças
- sonho como uma espécie de férias psíquicas.
- atividade de alívio e curativa do sonho. Suprimir as tensões da vigília.
- A tentativa mais original e de maior alcance para explicar o sonho como atividade especial da alma, que só em estado de sono pode se desenvolver é a de Scherner (1860): a fantasia se eleva no sonho livre de todo domínio da razão / norma e a um ilimitado império.
- o sonho (memória do) não é apenas reprodutiva, mas produtiva
- predileção pelo desmesurado, exagerado, monstruoso
- a fantasia onírica carece de imagem(?) abstrata - cria imagens de intensa e plena plasticidade
- especial repugnância da fantasia em expressar um objeto pela imagem correspondente, mas escolher outra distinta desde que possível para representar a parte almejada: Atividade simbólica da fantasia
- a fantasia onírica não copia objetos na totalidade mas apenas seu contorno e ainda com liberdade:
duas criações plásticas mostram algo de inspiração genial. (p.398-9)
- Mas o material para tudo isso são os estímulos orgânicos, exemplos:
todo o organismo- casa
largas ruas - intestino
dor de cabeça - repugnantes aranhas ou sapos no teto
pulmão - estufa
bexiga - objetos redondos
pênis - bocal de clarinete/pipa
vagina - estreita fenda
Como força central: atividade simbolizante da fantasia
Freud: a atividade da fantasia simbolizante não é amarrada por Scherner a uma função útil do sonho. A alma joga com os estímulos que se lhes oferece um tanto caprichosamente (ou mecanicamente). Freud defende Scherner sobre a questão do arbitrário (p. 400) e critica os fisiologistas. (p.401)
CAPÍTULO II: O MÉTODO DA INTERPRETAÇÃO ONÍRICA (P. 406-421)
Procedimentos populares:
1.tomar o sonho globalmente como um simbolismo
- Dificuldades. passagens enigmáticas de fragmentos de sonhos.
- Interpretação Simbólica
2.Interpretação por Método Decifrador: o sonho como escritura secreta no qual cada signo é interpretado por uma "chave secreta" (+ou- analogia mecânica) tradução mecânica.
- Dificuldades.:Qual a garantia da chave secreta ou do livro dos sonhos?
3.Freud toma a segunda via:
Porém: fragmenta o sonho em "sintagmas" e para cada sintagma figurativo ou verbal toma-o como a ponta de um iceberg e procura adentrar nas associações e elementos de vigília e/ou experiência vivida do sujeito (infantil...)…e… Pede ao paciente que relate o sonho, sem preocupação de organizá-lo ou dar-lhe coerência. Noutros termos, para que a interpretação analítica ocorra: "A realização desse trabalho exige certa preparação psíquica do paciente. Duas coisas perseguimos nele: uma intensificação de sua atenção sobre suas percepções psíquicas e uma exclusão da crítica… e que comunique tudo o que atravesse seu pensamento e não se deixe levar a suspender (retener) umas ocorrências por acreditar que sejam insignificantes ou sem conexão com o tema dado, e outras, por parecer-lhe absurdas ou desatinadas…Como se vê, trata-se de provocar um estado que tem com o adormecimento anterior ao repouso - e seguramente também com o estado hipnótico - algo em comum, uma certa analogia na distribuição da energia psíquica (da atenção móbil)" p. 409.
Freud se põe aqui a analisar-se no seu "SUEÑO DEL 23-24 DE JULIO DE 1895" (p. 412-419), que ficou conhecido como O Sonho da Injeção de Irma.
- "Uma vez levada a cabo a interpretação completa de um sonho, este se nos revela como uma realização de desejos " (p. 421).
CAPÍTULO III: O SONHO É UMA REALIZAÇÃO DE DESEJOS (P.422-8)
"Luminosidade de um súbito descobrimento"(p. 422).
É um fenômeno psíquico acabado, e precisamente uma realização de desejos; deve ser incluído no conjunto de atos compreensíveis de nossa vida desperta e constitui o resultado de uma atividade intelectual altamente complexa.
Nosso trabalho se dirigirá a averiguar se existem ou não sonhos distintos daqueles de realização de desejo
Há sonhos que evidenciam "sem nenhum disfarce" seu conteúdo (realização de desejos) Sonhos de crianças pequenas são com frequência.
"Com que sonha o ganso? Com o milho"
"Toda a teoria que atribui ao sonho o caráter de realização de desejos se acha contida nessas duas frases"(p. 428).
Caminho mais curto teria sido o de consultar a linguagem popular:
Esta concebe freqüentemente o sonho como o benéfico realizador de desejos - "isto não me teria ocorrido nem em sonho" - exclama encantado aquele que vê superada na realidade suas esperanças. CAPÍTULO IV: A DEFORMAÇÃO ONÍRICA (P. 429-46)
Existem com efeito muitos sonhos de conteúdo penoso que não mostram o menor indício de uma realização de desejos: sonhos de angústias, pesadelos angustiosos (pavor nocturnus). Os sonhos de angústia poarecem realmente excluir a possibilidade de uma generalisação da sua tese (desejo).
Mas não é muito difícil contornar essas dificuldades: a teoria repousa não sobre o conteúdo manifesto mas se baseia no "conteúdo ideológico" que o trabalho da interpretação nos revela atrás dos sonhos (conteúdo latente).
É bem possível que também os sonhos de angústia se revelem (depois da interpretação) como realizações de desejos.
Por que não expressa diretamente seu sentido?
Deformação onírica - de onde provém?
Sonho: Meu Tio - "Meu amigo R é meu tio. Sinto um grande carinho por ele. Vejo diante de mim seu rosto, porém algo mudou e como alargado, ressaltando com especial precisão a barba ruiva que o enquadra."
-- Único tio de Freud (José = ânsia de dinheiro - infração - não era perverso apenas imbecil ) -- R é imbecil. (O rosto era condensado R e meu tio). Mas R. tem conduta intocável!
-- Vestígios de vigília: conversa com N. (você pode ser nomeado pois contra mim pesa uma denúncia de delinqüência ).
-- Tio José - imbecil e delinqüente - representa no sonho os dois colegas.
-- Se R é imbecil e N. delinquente, fico livre de ambas as reprovações, não tenho nada em comum com eles dois e posso esperar confiante minha nomeação.
-- A ligeireza com que me decidi a denegrir dos dois meus colegas, aos quais respeito e estimo, apenas para desembaraçar-me dos obstáculos de meu caminho para o professorado : desejo de que assim fosse .
"terno carinho para com ele" (afeto falso e exagerado)
- Não pertence aos pensamentos latentes. Acha-se em oposição a ele e é muito apropriado para encobrir seu sentido."Provavelmente não é outro seu destino" (p.433). O carinho não se refere às idéias latentes mas à minha "resistência": Resisto a interpretá-lo porque a interpretação contém algo contra o qual me rebelo (que R é um imbecil). O sonho fica "deformado" até à inversão: o carinho serve precisamente à "deformação":
"a deformação demonstra ser aqui intencional, constituindo-se num meio de dissimulação" (p. 434). "Nos casos em que tal realização (de desejos) aparece disfarçada e irreconhecível haverá de existir uma tendência oposta ao desejo em questão consequência do que o desejo não podia se manifestar senão encoberto e disfarçado" (434).
- deformar os atos psíquicos -- dissimular. Situação análoga a do escritor:
O escritor, temeroso da censura atenuará e deformará a expressão de suas opiniões, ... por meio de alusões , ocultar seus juízos sob um disfarce, inocente em aparência:
"Quanto mais severa é a censura, mais chistosos são com frequência os meios de que o escritor se vale para dar a seus leitores a pista da significação verdadeira de seu artigo"
-Freud justifica e defende o conceito de censura no exemplo da censura postal "borrando aquellos pasajes que cree inaceptables"…"La censura postal suprime tales pasajes con una tachadura, y la censura onírica los sustituye, en este caso, por um murmullo inteligible" (nota p.434).
--"La absoluta y minuciosa coincidencia de los fenómenos de la censura con los de la deformación onírica nos autoriza a atribuir a ambos procesos condiciones análogas de la formación de los sueños, dos poderes psíquicos del indivíduo (corrientes, sistemas), uno de los cuales forma el deseo expresado por el sueño, mientras que el otro ejerce una censura sobre dicho deseo y le obliga de este modo a deformar su exteriorización" (p. 435)
Desejo: 1. instância - Censura: 2. instância.
Freud propõe assentar como hipótese : "O privilégio de que dita segunda instância goza é precisamente o de acesso à consciência" (enquanto que o desejo permanece no latente que "não são conscientes antes da análise") (p.435).
"Entrevemos aquí una especialísima concepción de la "esencia" de la conciencia; el devenir consciente es para nosotros un especial acto psíquico, distinto e independiente de los procesos de inteligir o representar, y la conciencia se nos muestra como un órgano sensorial, que percibe un contenido dado en otra parte" (p.435).
..."Sospechamos aquí que la interpretación inírica puede proporcionarnos, sobre la estructura de nuestro aparato anímico, datos que hasta ahora habíamos esperado en vano de la filosofia" (p. 436) (Freud protela essa via).
"el contenido penoso no sirve sino de disfraz de otro deseado" ... "penoso para la segunda instancia, pero que al mismo tiempo cumplen un deseo de la primera" (p.436) Freud analisa alguns "sonhos penosos"
Sonho "salmão defumado" (p.436/7)
"Quiero dar una comida, pero no dispongo sino de un poco de salmón ahumado. Pienso en salir para comprar lo necesario, pero recuerdo que es domingo y que las tiendas están cerradas. Intento luego telefonear a algunos proveedores, y resulta que el teléfono no funciona. De este modo, tengo que renunciar al deseo de dar una comida" Interpretação A : Após algumas resistências: foi visitar uma amiga (pela qual sente ciúmes frente aos elogios que o marido lhe dá). Por sorte está muito "seca y delgada" (que lhe perguntou quando iria convidá-la para um jantar "en su casa se come siempre maravillosamente"
-- "deseo de no colaborar al redondeamiento de las formas de su amiga" Mas e o "salmão defumado" de que ela dispunha em casa?
(Não podia ser pois era "el plato preferido de mi amiga").
Interpretação B : (duplo sentido habitual dos sonhos) e em geral de todos os produtos psicopatológicos. Seu desejo proprio é que não se realize o desejo de sua amiga. Obtemos pois uma nova interpretação se aceitamos que o sujeito não se refere no sonho a si mesma mas à sua amiga, substituindo a ela no conteúdo manifesto, ou identificando-se com ela. Como signo dessa identificação se criou um desejo insatisfeito.
A identificação é um fator importantissimo do mecanismo dos sintomas histéricos e constitui o meio com que os enfermos logram expressar em seus sintomas os estados de toda uma ampla série de pessoas e não unicamente seus próprios.Freud exemplifica pag. 439: diante de qualquer conhecimento ou informação de algo penoso a alguém, a histérica a absorve para si: "se tais causas provocam ataques como esse também eu posso tê-los, pois tenho idênticos motivos". Assim, pois, a identificação não é uma simples imitação, mas uma apropriação baseada na mesma causa etiológica, expressa uma equivalência e se refere a uma comunidade que permanece no inconsciente. (p.439): a sonhadora ocupa no seu sonho o lugar de sua amiga porque esta ocupa na mente do marido o lugar que lhe caberia e porque quisera ocupar na estima do mesmo o lugar que a outra ocupa. Sonho da morte de Carlos (sobrinho menos estimado) único filho de sua irmã que já perdera a Otto (mais estimado): "quererá isso dizer que preferi ver morrer a Carlos em lugar de Otto, muito mais estimado por mim?":
A morte de Otto trouxe ao velório o "professor" (amor secreto) daí: "se agora morresse outro sobrinho se repetiria a mesma cena: o professor viria novamente dar pêsames à irmã: o sonho não significa outro desejo do que o de retornar a ver o homem amado.
Da pag. 439 a 445 Freud dá uma série de exemplos de sonhos "penosos": demonstrar que também sonhos penosos são realizações de desejos:
O penoso sentimento que tais sonhos despertam é simplesmente idêntico à repugnância que tende a afastar-nos - com êxito quase sempre - da reflexão ou discussão sobre tais temas. O sentimento de desprazer, que retorna no sonho, não exclui no entanto a persistência de um desejo. O caráter displaciente se liga à deformação onírica, deformando os desejos tornando sua realização disfarçada até resultar irreconhecíveis, já que precisamente existe uma repugnância ou uma intenção repressora orientadas contra o tema do sonho ou contra o desejo que dele emana (p.445): "o sonho é uma realização (disfarçada) de um desejo reprimido".
O sonho apresenta sempre, sobre a base e com o auxílio de material sexual infantil reprimido, desejos geralmente eróticos como realizados em forma encoberta e simbolicamente disfarçada.
Sonhos de angústia : Tais sonhos não correspondem a uma nova faceta do problema onírico, mas ao problema geral da angústia neurótica. No estudo sobre a neurose de angústia (1895) afirmei que a angústia neurótica procede da vida sexual e corresponde a uma libido desviada de seu fim, e que não chegou a seu emprego. Esta fórmula se demonstra a cada dia mais verdadeira. Em todo caso tratarei novamente dos sonhos de angústia e sua compatibilização com a teoria da realização de desejos (cf. cap. VII).
Resumo:
Mesmo se outros (Griesinger/Scherner) já tivessem intuído a porção de desejo no sonho, Freud é o primeiro a tomar essa hipótese como ESSÊNCIA ou função ESSENCIALMENTE PSÍQUICA do sonho. Sonho: realização disfarçada de desejos reprimidos: Esquematicamente representado em termos de modalidades de discurso:
CAPÍTULO V -MATERIAL E FONTES DOS SONHOS (P. 447-655)
a) O recente e o indiferente - preferência do secundário
O recente: enlace com o dia imediatamente anterior :"dia do sonho"
- Todo sonho parte de um acontecimento/estímulo do dia do sonho para explorar o material em qualquer época da nossa vida. - Exemplos vários p. 448/450.
- Idéia anterior a Freud: o sonho privilegia no seu conteúdo aquilo que na vida diurna possui apenas um caráter secundário. (p. 453).
- Freud: na verdade esse indiferente/secundário é apenas disfarce, mais um fenômeno da DEFORMAÇÃO (censura) por DESLOCAMENTO (p. 455).
- A inclusão dos restos de processos secundários como fenômeno de DEFORMAÇÃO. Consequência da censura na comunicação entre manifesto e latente.
- Conclusão: não existe estímulo onírico indiferente, nem tampouco sonhos " inocentes " : "tal é com efeito minha opinião cabal e exclusiva" (p.458).
- O sonho não se ocupa nunca de coisas supérfluas ou nímias sem consentimos que nosso repouso fique perturbado por algo que não valha a pena (p. 459)
b) O infantil como fonte onírica
- O sonho continua vivendo o menino com seus impulsos infantis.
- "Quanto mais nos aprofundamos na análise dos sonhos, mais freqüentemente descobrimos os vestígios de acontecimentos infantis que desempenham, no conteúdo latente, o papel de fontes oníricas" (p. 467)
- "Em minha coleção de sonhos existe um grande número cuja análise nos conduz a impressões infantis obscuramente recordáveis ou esquecidas por completo, pertencentes, com grande freqüência, aos três primeiros anos de vida do sujeito" (p. 471).
- "O sonho possui com freqüência vários sentidos. Não apenas podem-se justapor nele várias realizações de desejo, como também que um sentido, ou uma realização de desejos pode encobrir uma outra, até que debaixo de todas encontramos a de um desejo de nossa primeira infância."(p.480)
- Vários sentidos: POLISSÊMICO
c) Fontes oníricas somáticas
- No cap.I Freud: série de dúvidas não tanto com respeito à exatidão dessas fontes mas sobre a sua suficiência.
- Por prediletas que sejam essas teorias somáticas e por mais atraente que pareçam, Freud quer descobrir (e acha fácil fazê-lo) "seu ponto débil." (p.482).
- As experiências de Mourly Vold mostram a Freud o quão pouco contribui no esclarecimento de cada sonho o conhecimento dos estímulos experimentalmente produzidos e quão escassa é a utilidade de tais experimentos para a inteligência dos problemas oníricos.
- A teoria de Strümpell e Wundt não nos indica motivo qualquer que regule a relação entre estímulo externo e a representação onírica eleita, a "singular seleção" das cenografias, das dramatizações, das representações…
- Por outro lado, os estímulos somáticos não provocam obrigatoriamente sonhos.
- Se os sonhos dependem da intervenção de estímulos somáticos, e com uma chave (Scherner), então deveríamos sonhar continuamente, a noite toda, com os orgãos.
- Se a vontade de voar é sonhada por razão da subida/descida dos lóbulos do pulmão que respira, deveríamos sonhar estar voando a noite inteira.
- Se por meio de um procedimento que os demais investigadores não aplicaram aos sonhos examinados por Scherner, conseguimos mostrar que o sonho possui um valor próprio a título de ato psíquico, que o motivo da sua formação está constituído por um desejo e que o material imediato da sua construção de conteúdo é o proporcionado pelos acontecimentos do dia anterior, essa teoria suplantará as outras (sonho como reação psíquica, inútil e enigmática de estímulos somáticos).
- Questionada essa teoria Freud quer "incorporar" a sua teoria à dos estímulos somáticos:
- A acumulação do material somático a fontes oníricas psíquicas não modifica em nada a essência dos sonhos (realização de desejos) seja qual for a forma determinada pelo material atual.
- Pelo contrário a realização do desejo (inclusive de continuar dormindo) é tal que se pode sonhar algo que drible a dor (estímulos negativos do corpo) produzindo um sonho que autorize a continuar dormindo (ex: sonho do cavalo-furúnculo no escroto)
- Sonhos de angústia (desprazer) Realização de desejo? Sim, Freud, pois lá desejos reprimidos (latente) cuja realização resiste ao segundo sistema. E quando se realiza, exterioriza-se como desprazer. (p.491).
CAPÍTULO VI -A ELABORAÇÃO ONÍRICA (P.516-655)
- O exame das relações entre conteúdo manifesto e latenta nos dá as pistas por onde entender os mecanismos da elaboração onírica (do trabalho do sonho).
- "As idéias latentes e o conteúdo manifesto se nos mostram como duas versões do mesmo conteúdo, em dois idiomas distintos, ou melhor dito o conteúdo manifesto se nos aparece como uma versão das idéias latentes em uma distinta forma expressiva, cujos signos e regras de construção temos de aprender pela comparação do original com a tradução".(p.516 - grifos meus).
- O conteúdo manifesto é dado como um hieróglifo; não uma paisagem pictórica mas uma "escritura hieroglífica" (cada imagem: uma sáilaba), para cuja solução temos que traduzir cada um de seus signos à linguagem das idéias latentes. Erraríamos de pronto se quiséssemos tratá-la apenas como imagens pictóricas e não como caracteres da escrita hieroglífica.
a) Condensação
- O Sonho, isto é, seu conteúdo manifesto é conciso, pobre e lacônico em comparação com a amplitude e riqueza das idéias latentes.
- O montante de condensação é "rigorosamente indeterminável" (p. 517).
- Os elelmentos escolhidos para o conteúdo manifesto são-no por serem os que apresentam maior número de contato com a maioria das idéias latentes: são "pontos de convergência" por introduzir, com respeito à interpretação uma "multiplicidade de significações" (p.520) cada um dos elementos superdeterminados e multiplamente representado nas idéias latentes.
- Conteúdo manifesto (tradução abreviada) menor do que conteúdo latente
- Omite elementos do conteúdo latente
- Permite a manifestação apenas fragmentária (alusões)
- Combina vários elementos dos pensamentos latentes - encavala-os. Sobreposição semântica
- Lacan assimila a condensação à metáfora - (sobreposição de significantes -com base na similaridade
- dando origem à metáfora)
- Sonho da monografia botânica p.518. Multiplicidade de significação. Pontos nodais.
- A representação condensada - {a que se presta ao maior número de contatos pontos de convergência (nodais) de multiplicidade de significações sobredeterminado
- Cada elemento do sonho manifesto: multiplamente determinado.
- Uma representação de pessoa pode ser uma imagem coletiva com traços contraditórios. Na verdade é uma pessoa coletiva, mista, fusão de imagens um dos principais meios de que se serve a condensação>
- Atrás de Irma: imagem coletiva com traços contraditórios - pessoa coletiva:
TRIMELAMINA - fator sexual (das patologias neuróticas)
- estima a Fliess - tributo a informações preciosas
- Ele me compreende
- A constituição de pessoas coletivas e mistas - um dos principais meios de condensação onírica
- Condensação: efeito da censura, mas também meio de lhe escapar.
- Não apenas como eludir a censura uma(?) característica do pensamento inconsciente.
- Condensação com palavras - criações singularíssimas de modos de expressão
- O sonho se faz chistoso porque encontra fechado o caminho mais reto e imediato para expressão dos seus pensamentos, ficando assim obrigado a rodeios.
Knotenpunkte
pontos nodais
pontos de convergência
- A representação condensada é a que se presta a um maior número de contatos. São um verdadeiro foco de convergência, de reunião de numerosas idéias latentes.
- A representação condensada é um elemento comum intermédio, isto é, apresenta-se como um conector semântico, um pólo de atração de sentido e significações das idéias latentes.
- Cf. exemplos de condensação:
monografia botânica - Norekdal - Autodidasker - Marcinowski (p. 527ss).
- Condensação: cria desatinados produtos verbais. A emergência no sonho de uma palavra que se apresenta como " falta de sentido " mas que, despojada do seu pouco sentido ou desdobrada revela uma multiplicidade de significações vetoriadas pelo desejo.
b) Deslocamento
- Os elementos que se apresentam como aparentemente essenciais no conteúdo ianifesto não o são no latente: o sonho é diferentemente centrado.
- Freud chama o deslocamento de uma nova relação de "significado totalmente inconsciente, entre as idéias latentes e o conteúdo manifesto" (p. 533).
- Na elaboração onírica há um "poder psíquico" despoja de sua intensidade os elementos de elevado valor psíquico, e cria além disso, pela sobredeterminação de outros elementos menos valiosos, novos valores que passam então ao conteúdo manifesto. Isto é, há uma transferência e um deslocamento das intensidades psíquicas, um deslocamento da focalização de um elemento importante psiquicamente que passa a incidir sobre elementos periféricos.
- Constitui a parte essencial da elaboração dos sonhos, um dos meios principais para a consecução da deformação onírica: is facit cui profuit (fez o que mais lhe aprazia) (cf. p. 534).
- O deslocamento nasce pela influência da censura. (defesa endopsíquica). O deslocamento, juntamente com a condensação são os dois obreiros a cuja atividade devemos atribuir principalmente a conformação dos sonhos (p. 534)
- A intensidade dos elementos das idéias latentes nada tem a ver com aquela do conteúdo manifesto entre o material onírico e o sonho ocorre efetivamente uma completa "transmutação de todos os valores psíquicos". (p.547)
- A forma do sonho ou do sonhar é utilizada com surpreendente frequência para a representação do conteúdo encoberto.
- Deslocamentos: substituições de uma representação determinada por outra associada-contígua a ela
- Outra variante: permuta da representação verbal
Resumo: CONDENSAÇÃO E DESLOCAMENTO OPERAM JUNTOS
A)Condensação
- efeito da censura
- compressão de imagens/palavras
- sobreposição de imagens/palavras
- não tem limites
- múltipla representação
- foco de convergência/pontos nodais de multiplicidade de significações
- conector semântico
- cada elemento multiplamente determinado
- Lacan - metáfora
- imagens coletivas
- singularíssimas produções verbais (cômicas)
B)Deslocamento
- efeito da censura
- despoja a intensidade afetiva de elementos centrais e transfere-as a elementos periféricos
- Descentramento das intensidades psíquicas
- Transmutação de todos os valores psíquicos
- Lacan - metonímia
c) Os meios de representação do sonho
- Idéias Latentes: complexo de idéias e lembranças de complicadíssima estrutura.
- Quase regularmente: junto a um processo mental - seu reflexo contraditório unido por associação contrastiva.
- Que representações têm nos sonhos expressões "sim, porque, tão, ainda que, ou ou" e todas outras conjunções sem as quais é impossível um discurso?
- O que o aparente pensar do sonho reproduz é o conteúdo das idéias latentes e não as relações de ditas idéias entre si. (p.536)
Semântica e não a sintaxe
- As relações lógicas das idéias latentes entre si não encontram no sonho uma representação especial.v - Como se dão então no sonho as relações entre o material onírico?
1-Coerência lógica ==> Simultaneidade
ab ==> a <==> b
- As combinações oníricas não se constituem com elementos totalmente arbitrários e heterogêneos do material do sonho senão com aqueles que também se acham intimamente ligados nas idéias latentes.
- É o procedimento genérico de representação do sonho. Sempre que há elementos próximos uns dos outros há uma "íntima conexão" entre as idéias latentes.
2-Relações causais
- Resolvem-se por sucessão:
frase acessória: sonho preliminar
frase principal: sonho principal.
- Ás vezes as partes não significam relações de causa mas de diferentes pontos de vista - diferentes topicalização.
3-Relações alternativas (ou...ou) não existem
- O sonho opera com aditivas (e...e). Realiza todas as possibilidades mesmo incompatíveis. Não há alternativa mas justaposição
- Exemplo:
4-Contradição/ antítese
- o sonho prescinde disso "como se para ele não existisse o não"(p.540). Reúne numa única unidade as antíteses ou as representa com ela. Toma a liberdade de representar um elemento qualquer pelo desejo contrário a ele
- ambos elementos representados pelos mesmos fatores. Aqui utiliza-se dos trabalhos do filólogo K. ABEL sobre "o sentido contraditório das palavras primitivas" (1848).
5-Analogia/coincidência/contato/comunidade
- representados por uma "síntese". Síntese (serve para eludir a censura):
A) Identificação: só uma pessoa passa a ser representada: as outras (traços visuais)/palavras atitudes) são colocadas na primeira;
B) Formação mista: quando apresenta traços misturados entre as pessoas - Esta persona mista e de identificação se torna então apropriada, por estar livre de censura, para passar ao conteúdo manifesto e deste modo temos satisfeito, mediante o emprego da condensação, as exigências da instância censora" (p.542). 6-A tópica do EU - "os sonhos são absolutamente egoístas" (o eu deve ser sempre encontrado em algum lugar). Em todo o sonho intervém a própria pessoa do sujeito. Mesmo se no conteúdo manifesto não apareça o eu, mas apenas uma " pessoa estranha " podemos aceitar sem o menor vacilo que o eu se ocultou atrás de tal pessoa. O eu pode estar embutido numa figura familiar ou num complexo de figuras. - Pode haver representação múltipla do eu ou identificado a outra pessoa. Assim pois podemos "representar multiplamente nosso eu no sonho" (p. 543) 7-Formação mista objetal - A possibilidade de criar formações mistas é um dos fatores que mais contribuem a dar ao sonho seu "freqüente caráter fantástico" pois constroem no conteúdo manifesto "elementos que jamais puderam ser objetos de percepção" (p.543) - freqüente caráter fantástico; - traços de mais de um objeto fundidos; - espécie de luta entre 2 imagens visuais; 8-Antítese (Freud se retifica) - "Inversamente" ou "pelo contrário" - Freud se retifica aqui dizendo que há uma possibilidade de antítese quando o inversamente não chega por si mesmo ao conteúdo manifesto, mas se expressa com a " inversão " a posteriori de um fragmento do mesmo. - Há uma freqüência disso que se apresenta sobretudo nos sonhos "provocados por sentimentos homossexuais reprimidos" (cf. exemplos p. 545). - A inversão ou transformação de um elemento em seu contrário é um dos meios de representação que o sonho emprega com maior freqüência por ser-lhe de múltipla utilidade, servindo em primeira mão para dar corpo à realização de desejos contrária a um determinado elemento das idéias latentes. Exemplo: …Meu tio sinto um enorme carinho por ele (cf. p. 545) - "Portanto quando um sonho nos recusa tenazmente seu sentido, temos de tentar a inversão de determinados fragmentos de seu conteúdo"(p.543). 9-Sucessão temporal (Deslocamento temporal) - Tática temporal: no princípio do sonho: o desenlace/conclusão do processo mental no fim do sonho: as causas do primeiro. 10-Diferenças de intensidade - As diferenças de intensidade dos diversos produtos oníricos formam toda uma escala que vai da mais aguda impressão até uma "enfadonha vagueza" (p. 546). - Aguda impressão (forte) - Enfadonha vaguesa (fraco) - O fator de realidade carece de qualquer influência sobre a determinação da intensidade das imagens oníricas. - Entre o material onírico e o sonho ocorre efetivamente uma completa transmutação de todos os valores psíquicos. - Os elementos que mostram maior intensidade exigem maior trabalho de condensação. 11-Distinta clareza -Claros -Obscuros - " a coisa " - A parte mais obscura/lacunar/confusa do sonho geralmente encena uma "representação" do conteúdo encoberto, recalcado (vagina-oco-escuro...). É a face oculta do sentido. Exemplo: nos sonhos dos "serviços de amor" o papel do murmúrio (cf. nota pag. 434). É a "coisa". c) o cuidado da representabilidade - Representabilidade por palavras: o cuidado da representação por meio do material psíquico peculiar de que o sonho se serve. - permuta de expressão verbal - grande parte do trabalho intermediário que na formação dos sonhos tende a reduzir as diversas idéias latentes a uma expressão unitária e breve, no mais possível, fica realizada nessa forma por meio de uma adequada modificação verbal dos elementos latentes (~ como o dos poetas). - A palavra como ponto de convergência de multiplas representações é , por assim dizer, um "equívoco predestinado". Problemas então: a-Se deve ser tomada no sentido positivo ou negativo b-Se deve ser interpretada como história (como reminiscência) c-Simbolicamente d-Literalmente - Cuidado da representação: quase sempre por imagens visuais: entre as diversas conexões acessórias às idéias latentes essenciais, será preferida a que permita uma representação visual e a elaboração onírica não evitará o trabalho de fundir primeiro numa distinta forma verbal a idéia abstrata irrepresentável plasticamente. d) Simbolismo do sonho - tal simbolismo é mais amplo que o sonho (cultura, mitos, antiguidade) - guarda-chuva: homem - crianças: genitais - ser atropelado: coito - escadas, edifícios, fossas: genitais - genitais masculinos por pessoas e genitais femininos por paisagem - a maioria dos sonhos adultos atesta a matéria sexual e a expressão de desejos eróticos (É o "instinto" mais reprimido desde a infância) - Freud não assume a afirmação de que todos os sonhos reclamam interpretação sexual. (p.588). e) A representação simbólica no sonho. Novos sonhos típicos. - Cf. os vários exemplos de sonhos às páginas 559-592 f) Alguns exemplos. O cálculo e o discurso oral no sonho - Cf. os vários exemplos e comentários às p. 592-604 g) Sonhos absurdos. Rendimentos intelectuais no sonho - Cf. exemplos e comentários p. 604-626. h) Os afetos no sonho - Cf. exemplos e comentários p. 626-644 i) A elaboração secundária - Além da deformação onírica a censura arranja interpolações/ampliações e até juízos "isto é apenas um sonho"(para poder continuar o sono): "tapando com suas peças e remendos as soluções de continuidade do edifício do sonho". - A elaboração secundária é também a nossa primeira interpretação (como em devaneio) do sonho: organiza, a seu modo uma coerência para o sonho. CAPÍTULO VII -PSICOLOGIA DOS PROCESSOS ONÍRICOS - Sonho comovedor do " Pai, não vês que estou queimando? " - As palavras procedem de outras pronunciadas em vida, enlaçadas em circunstâncias intensamente afetivas - febre - sonho: processo cheio de sentido, passível de ser incluído na "coerência da atividade psíquica do indivíduo".(p.656) - Realização de desejo? Sim. A-como se ainda vivesse B-o pai prolonga o sono em obséquio a essa realização de desejo. - Freud desenvolve aqui uma série de novas hipóteses relativas à estrutura do aparato anímico. A) O esquecimento dos sonhos - O esquecimento tem uma natureza tendenciosa. - fragmentado pela infidelidade da memória: perdido talvez a parte mais importante do conteúdo - A lembrança é sempre fragmentária e infiel. - Tudo o que no sonho significa ordem e coerência é um dado suplementar, posterior, no intento de reproduzí-lo. Produz-se uma "elaboração secundária" pelo pensamento normal - Porém essa deformação (secundária) também é parte da elaboração por que passam regularmente as idéias latentes em conseqüência da censura. - O importante é que há outra deformação anterior já na instância latente dos sonhos. - Por isso nessas deformações, não há arbitrariedade nenhuma: as mudanças se acham associadas ao conteúdo que substituem e servem de caminho para ele. - A dúvida (da reprodução - dúvida como índice de acesso direto a uma das idéias latentes proscritas) exata do sonho ou de suas partes, é também uma derivação da censura da resistência (que se opõe ao acesso das idéias latentes à consciência): segue-se disso a prudente conduta de nunca atacar os elementos internos do sonho mas apenas os mais débeis e confusos. A dúvida é uma derivação e instrumento da resistência psíquica. - A psicanálise é justificadamente desconfiada : tudo o que o esquecimento suprimiu do conteúdo manifesto pode ser reconstruído pela análise: natureza tendenciosa do esquecimento do sonho. - A experiência psicanalítica nos dá outra prova de que o esquecimento dos sonhos depende muito mais da resistência do que da diferença entre o estado de vigília e o de repouso (como os autores supõem). - Os sonhos não são objeto de um "esquecimento" maior ou menor do que o dos demais atos psíquicos e sua aderência à memória equivale exatamente à das funções anímicas restantes. - Há porém no sonho um nó impossível de desatar (umbigo do sonho) o ponto que está ligado ao desconhecido. - Quando reconhecemos a resistência como fator de esquecimento, fica a pergunta: E o quê então tornou possível a formação do sonho diante da resistência? - Resposta: a resistência perde parte da sua atuação à noite. O estado de sono diminui a censura endopsíquica, permitindo a formação dos sonhos. Assim, como a Censura Russa, deixa apenas passar dados fragmentários, mutilados e carregados de tarjas negras. - Sempre que um elemento psíquico se acha unido a outro por uma associação absurda e superficial existe ao mesmo tempo entre ambos uma conexão correta e mais profunda, que sucumbiu frente à censura da resistência. B) A regressão - Cf. comentários de Freud às p. 670-679, introdução de um esboço de "aparato anímico" de sucessivas instâncias - Balanço: sonho: ato psíquico completo e importante. - força propulsora: desejo por realizar - Tem aspecto próprio: impossível reconhecer o desejo - singularidades absurdidades: censura psíquica na formação - Elaboração: por condensação/deslocamento e o cuidado da representação visual: todos operando de maneira sincronizada e/ou sobreposta. - Regressão: a) tópica - (retorno das instâncias anteriores) b) temporal -retorno às formações psíquicas anteriores c) formal - as formas de expressão habituais são substituidas pelas primitivas correspondentes - " … el acto de soñar es por sí una regresión a las más tempranas circunstancias del soñador, una resurrección de su infancia, con todos sus impulsos instintivos y sus formas expresivas. Detrás de esta infancia individual se nos promete una visión de la infancia filogenética y del desarrollo de la raza humana (…) Parece como si el sueño y la neurosis nos hubieran conservado una parte insospechada de las antigüedades anímicas, resultando así que el psicoanálisis puede aspirar a un lugar importante entre las ciencias que se esfuerzan en reconstruir las fases más antiguas y oscuras de los comienzos de la Humanidad (adición de 1918) (p. 679). C) A Realização de desejos - Três procedências do desejo - Sistema Pré-consciente 1. Provocado durante o dia, e não ter sido satisfeito- perdura à noite como desejo reconhecido insatisfeito - Regressão Pré-consciente - Inconsciente 2. Surgido durante o dia, rechaçado pela censura- perdura a noite como desejo insatisfeito e reprimido - Sistema Inconsciente 3. Isento de relação com a vida diurna- emerge do reprimido - O desejo insatisfeito durante o dia não basta para criar o sonho à noite (no adulto), se não vier rebustecido por outros fatores: o desejo consciente só se constitui em estímulo do sonho quando consegue despertar um desejo inconsciente de efeito paralelo com o que reforçar sua energia. - Desejos de nosso inconsciente, sempre em atividades imortais (metáfora dos titãs). - Cf. comentários de Freud p. 680-693 D) A interrupção do repouso pelo sonho. A função do sonho. O sonho de angústia (cf. p. 693-702) E) O processo primário e o secundário. A repressão. (cf. p. 702-713) F) O inconsciente, a consciência, a realidade - A Realidade psíquica é uma realidade, uma forma especial de existência que não deve ser confundida com a realidade material. - "Lo inconsciente es lo psíquico verdaderamente real: su naturaleza interna nos es tan desconocida como la realidad del mundo exterior y nos es dado por el testimonio de nuestra conciencia tan incompletamente como el mundo exterior por el de nuestros órganos sensoriales" (p. 715)