Introdução
Minha pesquisa1 foi perpassada pelo propósito fundamental de delimitar a especificidade da concepção psicanalítica do sintoma, assim como suas repercussões para o campo da clínica. A descoberta freudiana do inconsciente é, sobretudo, a descoberta da causalidade sexual do sintoma e de sua implicação com o modo paterno de tratar o real da inexistência de uma correspondência unívoca entre significante e significado. Acredito que, apesar de já termos passado do centenário do surgimento da psicanálise, esta é uma hipótese que precisa ser ininterruptamente demonstrada, dado o embate que se estabelece com os discursos predominantes na atualidade, momento em que nos defrontamos com o acirramento da rejeição do inconsciente promovida pelo discurso da ciência, agravada pelo avanço da lógica capitalista e do imperativo do consumo.
Embora a noção de sintoma tenha sido incorporada da medicina, para a psicanálise o sofrimento sintomático não é índice de uma anomalia anatômica, nem se reduz a um mal intrusivo que deve ser erradicado para recompor o bem-estar do indivíduo. Isso porque a experiência analítica não investiga o sintoma como uma entidade isolada, mas sim a partir da estrutura psíquica que organiza a relação de cada sujeito com o mundo. Freud teve o mérito de mostrar que são nos sintomas que os neuróticos encontram satisfação, apesar de todo prejuízo funcional que acarretam. Por isso, a relação do neurótico com seu sintoma é sempre a de uma tensão paradoxal, ou, como sublinha Lacan, comporta uma “satisfação às avessas” (Lacan, 1957-58).
Portanto, a forma psicanalítica de conceber o sintoma não o remete a uma patologia anatomicamente localizável, inferível estatisticamente pela racionalidade médica, mas, a uma organização que enlaça os registros do simbólico, do real e do imaginário. Analisá-lo é convidar o sujeito a percorrer o encadeamento significante que constitui seu desejo, explorando-o em todo seu potencial de tecido linguajeiro.
Em vista destas constatações preliminares, o enfoque teórico-conceitual realizado neste estudo abrangeu as elaborações freudianas sobre o tema, assim como o retorno a Freud efetuado por Lacan ao longo da década de 1950, ou seja, o período de seu ensino caracterizado pela valorização da lógica simbólica e dos significantes primordiais da constituição psíquica. Recorremos às produções orais e escritas desta fase e, ocasionalmente, à comentadores do campo freudiano. Nossa abordagem privilegiou o papel crucial conferido pelos autores aos complexos de Édipo e de castração na formação do aparelho psíquico, quando a função paterna intervém de modo decisivo.
Desse modo, trabalhamos a metáfora paterna e a significação fálica, que são os operadores estruturais essenciais para a produção do sujeito do inconsciente, enfatizando a questão da sexuação pela via do falo e da ação fundadora da alteridade sobre a constituição do ser falante. Para afinar a discussão, a etapa final de meu estudo foi dedicada à tentativa, que considero passível de avanço permanente, de verificar as incidências de uma abordagem baseada na hegemonia da clínica do significante. Com este objetivo, nos debruçamos sobre as entidades clínicas clássicas da psicanálise – histeria, neurose obsessiva, fobia e a psicose paranoica – que são respostas a questão do desejo, cuja mensagem é o sintoma. Exploramos estas situações clínicas a partir dos casos paradigmáticos da literatura freudiana, a saber, Dora, Homem dos Ratos, pequeno Hans e Schreber. Assim, desdobramos os principais elementos de cada situação clínica com o intuito de discriminar seus elementos estruturais no bojo da clínica do significante e, por conseguinte, extrair as contribuições de Lacan à leitura de Freud.
As elaborações freudianas sobre o sintoma
Ainda nos primórdios da psicanálise, Freud (1893; 1894) já parece ressaltar o lugar do sujeito em relação ao seu sintoma quando propõe sua etiologia traumática. Daí sua célebre afirmação, ainda na parceria com Breuer, de que “os histéricos sofrem de reminiscências” (Breuer et Freud, 1893, p. 43). A resposta histérica é inicialmente atribuída à vivência de um evento com valor de trauma psíquico ou, mais precisamente, às recordações de tal trauma. Dessa forma, a meu ver, ainda numa etapa embrionária da teoria psicanalítica, Freud já nos ensina dois aspectos essenciais para a psicanálise: 1º) Que, no psiquismo, vale mais o modo como uma experiência é representada na mente do que o evento em si; 2º) Que, frente à impossibilidade de elaborar a situação traumática relativa ao sexo, o neurótico se divide como uma medida defensiva do ego que imprime a divisão psíquica.
Como sabemos, a princípio, Freud insiste na veracidade factual da circunstância traumática. No entanto, a espetacular frequência de narrativas de sedução precoce protagonizadas pelo pai o leva a considerar o caráter fantasmático do enredo. Assim, ele deixa de acentuar a dimensão realística e passa a enfatizar a sexuação em si mesma como constituinte das marcas psíquicas originárias do aparelho psíquico, sem, contudo, abrir mão do papel sempre traumático desempenhado pela castração na constituição subjetiva. Além disso, a fala histérica revela para Freud a importância do papel da função paterna como aquele que introduz a sexualidade, experimentado fantasmaticamente na histeria como sedução do outro. O neurótico mente sobre o encontro traumático com o sexual porque, no nível do inconsciente, esta é a única forma de dizer a verdade acerca dessa casuística, já que a realidade da castração implica uma falta em si mesma irrepresentável. Desde então, a doutrina freudiana passa a se pautar na tese de que o psiquismo se estrutura a partir do mito edipiano, que funda o desejo como um desejo infantil inconsciente. O complexo edipiano, e não a realidade factual, indica o conflito psíquico que dá origem aos sintomas.
Enquanto a tradição cientifica suspeitava da confiabilidade dos sonhos devido à aparência enganosa de seu relato, em “A interpretação dos sonhos”, Freud (1900) inaugura a psicanálise sustentando a inteligibilidade de todas as formações do inconsciente como expressões do desejo. Portanto, sintomas, sonhos, atos falhos e chistes são entendidos como satisfações distorcidas da sexualidade recalcada, resto do autoerotismo não inteiramente suprimido pela intervenção paterna, realizando de alguma forma o desejo inconsciente. O fato de não serem reconhecíveis como tal dever-se-ia ao processo de recalcamento. Nesse afrouxamento das fronteiras entre o normal e o patológico, Freud observa que o neurótico, assim como o sonhador, se defende de seu desejo o tempo todo, mas as derivações do inconsciente mostram que tais defesas necessariamente fracassam e o recalcado retorna por circuitos indiretos através de deslizamentos semânticos de condensação e deslocamento (Freud, 1900, 1915b).
Ao definir que a matriz do inconsciente e de suas formações é o complexo de Édipo, Freud localiza a importância dos laços libidinais com o mundo externo para a constituição do ser desejante. Assim, o estatuto freudiano do desejo refere-se a uma busca ininterrupta do objeto perdido. Freud (1895[1950], 1900) assinala que a falta de um objeto que proporcione a plena satisfação só pode ser subjetivada num circuito que situe o papel fundante desempenhado pela alteridade na estruturação do psiquismo. O movimento desejante define-se justamente como uma tentativa de reencontro do objeto perdido (Freud, 1905). Assim, as formações do inconsciente são tentativas do mundo erótico da representação de apreender o inefável que funda o desejo. A satisfação advém desse puro movimento de aproximação possível no campo do sentido.
A obtenção da satisfação por meio da ação de outrem faz com que o aparelho psíquico se constitua como uma organização capaz de atingir certa satisfação a partir do universo dos objetos parciais e dos sentidos oferecidos pela cultura. No lastro da experiência mítica de satisfação, a figura materna dá realidade ao desejo ao significar o grito da criança desamparada como um apelo. Assim, os trilhamentos pulsionais se inscrevem no psiquismo pela mediação de um outro que veicula o jogo das representações compartilhadas na realidade social. A subjetivação do objeto perdido se estabelece justamente pela elaboração fantasmática no drama edipiano pela interdição do objeto incestuoso. A resposta neurótica frente à instauração da proibição das satisfações parciais caracteriza-se pela regressão da libido e sua fixação nos estádios anteriores de escolha objetal, na forma de fantasias sexuais infantis recalcadas (Freud, 1917). A fantasia, como diz Freud (1911), é a “moeda neurótica”, um destino dado aos investimentos com a finalidade de se esquivar da ferida narcísica imposta pela socialização.
Tal processo permite construir novos destinos à força pulsional, em conformidade com a moral sexual civilizada (Freud, 1908). Em “Totem e tabu”, observamos que Freud (1913[1912]) efetua uma conexão lógica entre a origem da moralidade e o complexo de Édipo. Daí, percebe-se que a ficção em torno do assassinato do pai tirânico da horda primitiva consiste em uma invenção que indica a função simbólica assumida pelo pai pela via da interdição dos dois crimes edipianos e do sentimento de culpa, articulando a falta de objeto, a diferença geracional e a lei que confisca o excesso, ao mesmo tempo em que direciona para o que é permitido na atmosfera da civilização.
Se até os anos de 1920 o caráter universalizante do complexo de Édipo centrava-se na constituição do desejo fundamentalmente por seu caráter incestuoso e interditado, em 1923, no artigo “A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade”, ao introduzir a fase fálica, Freud passa a problematizar a temática edipiana a partir da teoria da castração. Neste texto, o inventor da psicanálise ressalta que a descoberta da castração materna retorna fantasmaticamente para o menino como temor narcísico de ter seu órgão genital castrado e que para a menina, diferentemente, a constatação da questão feminina sob a rubrica da castração é fonte de desapontamento e da transferência do investimento libidinal para a figura paterna como objeto de amor.
Para os dois sexos, o pai edipiano encarna aquele que supostamente possui o falo, por isso serve como o modelo identificatório que submete o excesso pulsional à norma fálica, sobretudo para o menino, para o qual ele encarna o agente imaginário da ameaça de castração. Portanto, pelas vias da hierarquia geracional e da diferença sexual, a lei da interdição do incesto e o complexo de castração inscrevem a ausência de um objeto que arremate o circuito desejante.
Assim, a ordem fálica rege a sexualidade infantil, veiculando uma falta que localiza o mal-estar no sexo. A partir da puberdade, com o afrouxamento das relações familiares e a consolidação da barreira contra o incesto, novos objetos amorosos se candidatam a preencher o vazio deixado pelo objeto perdido com a renúncia da sexualidade infantil (Freud, 1924). Para a psicanálise, a saída do Édipo encaminha a criança para uma série de possibilidades estruturantes, tornando-a capaz de se posicionar no mundo como sujeito sexuado, com a aquisição dos ideais sociais, mais separada do núcleo familiar.
Também na década de 1920, a experiência clínica, sobretudo com a neurose obsessiva e a melancolia, impõe a Freud a convicção de que há algo no sofrimento sintomático que extrapola as fronteiras do princípio do prazer e diz respeito aos efeitos da pulsão de morte, a pulsão por excelência (Freud, 1920). O texto “O ego e o id” (Freud, 1923a) resulta justamente de uma elaboração teórica sobre o fenômeno clínico da necessidade de punição, ressaltando que o caráter compulsivo e culpabilizatório da relação do sujeito obsessivo com seu sintoma revela um potencial mortífero excessivo na forma de um ruidoso superego, que transborda qualquer regulação homeostática no jogo das representações. Freud postula a necessidade de punição como indicativa da dimensão pulsional do sintoma, para além de seu sentido interpretável e do trabalho psíquico que a sexualidade exerce sobre a pulsão. A identificação paterna encaminha o sujeito para o desejo genital marcado pela castração e comandado pelas leis da escolha sexual no pacto social. Ao dar sentido à diferença sexual, a ordem fálica engendrada pela função paterna permite a vitória da sexualidade sobre a morte. As neuroses atestam precisamente o fracasso dessa regulação em razão de impasses com a instância paterna no nível da decepção edipiana.
Com efeito, Freud acentua em diversos momentos de sua obra o caráter sobredeterminado dos sintomas. No entanto, também ressalta que sua interpretação esbarra no limite do irrepresentável. O mito do Édipo explica essa falta de sentido para o neurótico pela interdição paterna do objeto incestuoso. Os restos dessa operação se manifestam sob a forma da aniquilação repetitiva. Para a psicanálise freudiana, o sintoma neurótico é sempre sintoma sexual, porque é tecido na trama da lógica fálica, no contexto dos entraves enfrentados para a assunção da castração – o que leva Freud (1937) a eleger a ameaça de castração para os homens e a inveja do pênis para as mulheres como o maior obstáculo para o final de uma análise. Portanto, o sintoma corresponde a uma satisfação substitutiva da pulsão sexual, índice do recalcado, ao mesmo tempo em que revela uma fixação pulsional mortífera como resíduo da operação edipiana.
Na tentativa de recobrir a dimensão da perda do trono de “sua majestade o bebê”, o sujeito recorre a uma antiga posição libidinal a qual, em tese, já deveria ter renunciado (Freud, 1914). Portanto, nas neuroses, o funcionamento autoerótico é retido no psiquismo, a despeito de sua inadaptação essencial aos interesses coletivos e à sobrevivência do ego. A doutrina freudiana mostra que é preciso partir do sintoma para reconstituir o conflito sexual fantasmático que o engendra nos entraves do complexo de Édipo. Apenas o rebaixamento do recalque e a extração de sua matriz fantasmática conduzem o sujeito a outro rumo menos aprisionado pelo sofrimento sintomático, pois somente desse modo o ego passa a ter à disposição a libido anteriormente fixada nos sintomas (Freud, 1917). No entanto, como as exposições freudianas realizadas a partir de 1920 nos ensinam, não se pode desconsiderar a existência de um núcleo insondável e insolúvel pela interpretação que caracteriza a repetição pulsional no inconsciente que é responsável pela inércia e insistência dos sintomas.
Retornando a Freud com Lacan: a lógica do significante
Tendo como base a teoria freudiana do complexo edipiano, Lacan propõe uma articulação de fonte estruturalista, respaldada no primado do simbólico e nos efeitos da linguagem sobre o vivo. Ele passa do modelo filogenético ao linguístico e repensa o inconsciente freudiano como um lugar mediado pelo significante no registro da língua. Para Lacan (1957-58), os complexos de Édipo e de castração consistem precisamente na conquista simbólica que promove a assunção do próprio sexo pelo sujeito no campo da linguagem, permitindo que o homem assuma o tipo viril e a mulher a função feminina. Nesta pesquisa, circunscrevi os dois operadores estruturais que constituem, para Lacan, o sujeito do inconsciente na ordem simbólica – Nome-do-Pai e significante falo. A função paterna é elevada à categoria do significante responsável pela metaforização do desejo da mãe e da localização do gozo. Daí depreendemos que, na leitura lacaniana, o pai é o nome freudiano para esta ordem simbólica que vem permitir um acesso, jamais inteiro, ao real, fornecendo um tratamento ao gozo pela via do inconsciente. Assim, garante uma explicação inconsciente para a falta de sentido inerente aos campos da fala e da linguagem, ou, nas palavras de Lacan, ao fato de que “na medida em que o homem é apanhado na dialética significante, há alguma coisa que não funciona” (Lacan, 1956-57, p. 393). Por isso, salientar a prevalência do simbólico neste período do ensino de Lacan não pode ser outra coisa senão destacar a primazia do Nome-do-Pai.
A intervenção paterna é uma metáfora, na medida em que nomeia o lugar vazio marcado na simbolização primordial, que é introduzida pela alternância entre a presença e a ausência materna na lógica fálica (Lacan, 1957-58). Assim, o Nome-do-Pai inscreve a falta de gozo ao articular a proibição da mãe como objeto sexual. Sua função é resumida pela homofonia na língua francesa entre “não do pai” e “nome do pai” – no francês, nom-du-père (Lacan, 1957-58). Ou seja, no momento em que metaforiza a falta materna como falta do falo, introduz uma separação na relação entre mãe e criança. A instância interditora é representada pelo pai como aquele que tem o falo convoca a criança a desistir da pretensão eminentemente imaginária de ser objeto fálico que preenche a falta materna, agindo como uma barra que instaura o regime das significações sociais no lugar do capricho materno (Lacan, 1957-58). Desse modo, o sujeito pode assumir uma posição sexuada no interior da dialética entre ter e não ter o falo e, com isso, avançar rumo a novas escolhas de objeto.
Pela via da significação fálica, que resulta da operação da metáfora paterna, cria-se um novo sentido que conduz o sujeito a um lugar inédito na trama desejante. Isso porque a economia do desejo se funda na simbolização da ausência de um objeto que o satisfaça. No entanto, embora não seja articulável em si mesmo, o desejo é articulado, devido à sua ligação intrínseca à presença do significante no homem (Lacan, 1957-58). É a gramática fálica que fala por ele: o desejo é percebido como falo. O falo é uma máscara, que, ao que nos parece, forja uma significação sexual ao impossível de ser simbolizado. Assim, por meio da transmissão da castração simbólica, o sujeito é ejetado desse circuito imaginário com o desejo materno do falo.
O significante falo é o representante de uma falta própria à articulação significante. É, por definição, o significante do desejo, uma fabricação de sentido para o sem sentido, estabilizando, assim, as relações entre significante e significado (Lacan, 1958). Tal estatuto do falo como significante fundamental implica o sacrifício de algo de real, uma “libra de carne” da vida é metaforizada, esta parte de si mesmo que o domina imaginariamente e da qual o sujeito precisa ser privado para que possa ascender à função de significante (Lacan, 1960). Ao metaforizar a relação de gozo mãe-criança, a função paterna permite o deslocamento do império do amor e das reivindicações fantasmáticas para o universo das trocas simbólicas e dos ideais geridos pelo programa civilizatório. A simbolização do falo como significante opera esta exteriorização, que negativiza todo autoerotismo das relações intrafamiliares.
O grafo do desejo foi apresentado entre 1957 e 1958, no Seminário 5: as formações do inconsciente – é, portanto, o ápice da formalização lacaniana acerca da lógica do significante. De fato, o grafo contempla os quatro elementos que estruturam o Édipo: o desejo da mãe, o Nome-do-Pai, como o significante que, via função fálica, barra o gozo da relação imaginária, assim como seu produto, o sujeito barrado, além dos resíduos de sua satisfação autoerótica como objeto da mãe, que, não tendo sido metaforizados, retornam fantasmaticamente nos sintomas. Assim, dessa espécie de máquina simbólica, é possível extrair os pontos cardeais da estrutura que constitui o sujeito na linguagem. Através de uma rede de matemas que explicam como A incide sobre S, engendrando um circuito do qual todos saem barrados pelo significante e, portanto, esvaziados quanto ao gozo, mostrando que a subjetivação da castração depende de algumas circunstâncias específicas.
A possibilidade de construir um esquema da estruturação do sujeito no simbólico decorre, para Lacan (1957-58), do fato de que a necessidade da criança só pode se exprimir pelo significante, através da demanda, o que implica em uma primeira nomeação ou atribuição de sentido. A mãe deixa de ser apenas aquela que lhe oferece o seio, sendo reconhecida pela criança também como um sujeito falante, marcado pelo mal-entendido inerente à linguagem. Por isso, a resposta da mãe (como Outro originário) inaugura a articulação significante, produzindo as primeiras significações que constituirão o sujeito como insígnias a posteriori. A demanda torna-se recíproca, de modo que localiza-se aí a identificação primária correlativa ao que Lacan chama de primeiro tempo do Édipo, quando a criança é convocada a ser o falo imaginário que tenta suprimir a falta materna.
Enquanto a demanda pede a satisfação com o objeto, o desejo, como vimos, busca o objeto perdido. A não-resposta à demanda deve-se à sua rebeldia a qualquer redução à necessidade devido à impossibilidade inerente à estrutura da linguagem de tudo significar, o que é simbolizado pela proibição paterna, no que Lacan chama de segundo tempo do Édipo. Com isso, o território desejante se estabelece como algo arrancado pela fala do plano das necessidades míticas. No entanto, o poder constituinte do desejo do Outro sobre o sujeito é enigmático, opaco e ininteligível para este, de modo que o sujeito é levado a interrogar o Outro sobre o que este espera dele (Che Vuoi?). Ao contrário de uma resposta oracular que preencheria o vazio do desejo, a mensagem recebida é a significação fálica, como o significante da falta do Outro, S( ), como a transmissão significante da castração que se opera no terceiro tempo do Édipo.
No entanto, a lacuna significante imposta pelo Outro é vertiginosa para o sujeito. A fantasia se impõe como sua principal resposta ao desejo: ao mesmo tempo em que tampona a falta e mantém o regime da demanda no inconsciente, é uma organização que estrutura as relações do sujeito com a realidade (Lacan, 1957-58). Trata-se de uma organização do gozo submetido à soberania do significante (Miller, 2000), na medida em que o sujeito se esvaece na posição de objeto diante da carência de significante que lhe responda sobre seu lugar ao nível do Outro (Lacan, 1958-59).
Alguns desdobramentos clínicos
Verificamos que o primeiro ensino de Lacan se norteia pela hipótese de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. A partir desta premissa, Lacan valoriza a descoberta freudiana da homogeneidade estrutural entre sintomas neuróticos, sonhos, atos falhos e chistes, como o passo que propiciou a extração dos princípios simbólicos que regem o que é decifrável no inconsciente. Justamente por isso, a psicanálise contrasta com qualquer psicologia das profundezas, uma vez que, para esta corrente, os processos inconscientes não se fundam em nenhuma assunção de arquétipos de natureza pictórica: seu material funciona segundo certos preceitos intralinguísticos.
Em Lacan, o inconsciente freudiano é repensado prioritariamente como um lugar mediado pelo significante no registro da língua. Em “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”, ele afirma que o sintoma “se resolve por inteiro numa análise linguajeira, por ser ele mesmo estruturado como uma linguagem, por ser a linguagem cuja fala deve ser libertada” (1953b, p. 270). Onde há fala, há linguagem, isto é, uma ordem constituída por leis. Na experiência analítica, o sintoma, por ser tecido como linguagem, é uma fala endereçada ao Outro, como uma espécie de mensagem simbólica que aguarda significação.
No grafo do desejo, Lacan (1957-58) situa a significação sintomática em s(A), como uma mensagem invertida que o sujeito recebe do Outro. Graças a esse enlaçamento com a alteridade, sua significação pode ser estabelecida. No cenário analítico, o analista é convidado a ocupar o lugar desse Outro suposto saber do desejo inconsciente daquele que o procura demandando o sentido de seu sintoma. Assim, por compartilhar as leis da linguagem, o sintoma funciona muito mais a partir dos significantes que dos significados. Ele não se esgota em um sentido, mas remete a outra cadeia associativa recalcada. Sua interpretação desvela, acima de tudo, sua relação com os significantes originários da constelação familiar, que constituíram seu desejo nas vias do desejo do Outro.
Sabemos que a maneira como a língua foi ouvida e falada é decisiva para a estruturação da realidade subjetiva de qualquer indivíduo. Para a clínica lacaniana, o sintoma é um significante que remonta às significações recalcadas da história do sujeito (Lacan, 1955-56). Percebemos, assim, o reconhecimento de Lacan de que o sintoma comporta um sentido aprisionado no circuito estabelecido em seu código familiar, pelos ditos do Outro e que sua ancestralidade simbólica se atualiza nos significantes da demanda recalcados na cadeia significante inconsciente. Sua interpretação desvela, acima de tudo, sua relação com os significantes originários da constelação familiar que constituíram seu desejo a partir do discurso do Outro.
Lacan (1957-58) acentua o fato de que todas as formações do inconsciente dependem do metabolismo do significante na fantasia e de suas incidências na metáfora e na metonímia – figuras de estilo que redefinem para Lacan os conceitos de condensação e o deslocamento lançados por Freud em 1900. O sintoma, assim como os demais fenômenos do inconsciente, mascara o desejo que em si mesmo é impossível de ser representado, fazendo as vezes de função fálica ao estabilizar as significações para o sujeito. Através do sofrimento sintomático, o sujeito mascara sua divisão, a qual remete ao insuportável do encontro com a castração. Pode ser designado como uma fixação significante do desejo, como uma relíquia que diz respeito à alienação do sujeito aos significantes do Outro.
As modalidades estruturais se classificam pelo critério de presença/ausência da inscrição do Nome-do-Pai. Todas enlaçam os registros do real, simbólico e imaginário, como alternativas à falha da regulação fálica do gozo – no caso das neuroses de modo localizado na montagem edipiana, nas psicoses, por sua rejeição radical. Freud (1940[1938]) distinguiu os mecanismos defensivos contra a realidade da castração nas neuroses, nas psicoses e nas perversões denominando-os, respectivamente, como recalque (Verdrängung), rejeição (Verwerfung) e desmentido (Verleugnung). Estas grandes categorias designam, para Lacan, três formas gerais de resposta à questão do desejo consolidadas a partir dos efeitos constituintes da falta de significante sobre o sujeito.
Os sintomas são indicadores desses embaraços estruturais, formam uma aparelhagem compensatória que regula as relações do sujeito com o gozo. Sua importância para o campo psicanalítico deve-se menos ao seu aspecto fenomenológico e muito mais à sua inserção na dinâmica que sustenta a realidade para cada indivíduo. Em minha pesquisa, examino com mais precisão as estruturas neurótica e psicótica, em razão de seu enfoque eminentemente clínico. De qualquer modo, cabe ressaltar que as estruturas clínicas não designam meros quadros descritivos baseados na fenomenologia sintomática, mas delimitam algumas modalidades frequentes de soluções fantasmáticas face à questão do desejo. Portanto, não escorregam na armadilha das generalizações universais, destacando, como Freud (1912) bem ressaltou, a originalidade do particular de cada caso e sua irredutibilidade a qualquer modelo previamente estabelecido.
Para Lacan (1955-56), a estrutura psicótica é exemplar no que diz respeito às consequências da falta essencial do Nome-do-Pai e de toda sua operação lógica, revelando o funcionamento significante no sujeito sem este ponto de ancoragem. Na resposta psicótica, ocorre uma tentativa de rejeição radical da falta desejante devido ao que Lacan chama de foraclusão do Nome-do-Pai. No âmbito da jurisprudência, este termo é aplicado para indicar que um processo, não tendo ocorrido nos prazos estabelecidos pela lei, perde seu lugar no registro simbólico, assim como a possibilidade de recurso. De fato, transpondo semelhante lógica para o tema da psicose, pode-se considerar que, neste caso, a possibilidade da subjetivação da castração escapou de forma irreversível. Desse modo, o que é abolido da inscrição simbólica retorna diretamente do real com poderes devastadores. A metáfora delirante surge como uma saída bordada em um uso neológico do sentido que articula o imaginário na tentativa de forjar alguma integração simbólica – daí a afirmação freudiana de que o delírio é uma tentativa de cura (Freud, 1914).
Reportando-se à paranoia de Schreber, Lacan ([1958]1998) ressalta que o evento decisivo para a precipitação desta psicose foi sua nomeação para o cargo de juiz-presidente do Tribunal de Apelação. Neste momento, Schreber é convocado a tomar posse de um lugar ao qual é conferido considerável autoridade simbólica. Assim, o gatilho desta crise psicótica é a evocação de um terceiro chamado a responder em uma estrutura dual na qual a função simbólica, terceira, se encontra ausente. Enquanto o gozo para o neurótico fica, como vimos, localizado em torno do significante falo a partir da fantasia, na psicose, o gozo invade o corpo. Sem o significante Nome-do-Pai para nomeá-lo, o paranoico se vê como objeto perseguido pelo Outro gozador. Lacan (1955-56) indica que, nesses casos, o analista deve operar como o “secretário do alienado”. Ou seja, ao invés de escavar os sentidos inconscientes, a direção de tratamento deve preconizar o fornecimento de um ponto de apoio que favoreça a sustentação dos significantes aos quais o psicótico recorre para contornar o real e alcançar alguma estabilização.
O delírio tem efeito moderador de gozo, já que o inconsciente não funciona, encontra-se a céu aberto (Lacan, 1955-56). A experiência da autonomia do significante tem efeitos de fragmentação corporal, frente à qual a compensação delirante tenta garantir ao sujeito alguma identidade. No caso de Schreber, a mobilização do gozo que o invade ganha uma primeira significação em torno da ideia de como seria belo ser uma mulher no momento da cópula. Se, primeiramente, o lugar do Outro gozador é ocupado por seu médico (Dr. Fleschsig), progressivamente uma estabilização é alcançada por seu deslocamento para a figura divina. A crença megalomaníaca de que seria o motivo futuro de uma redenção do universo fornece a significação que o estabiliza definitivamente.
Já as neuroses situam-se plenamente no nível da estruturação significante do complexo de Édipo. Portanto, surgem do circuito criado pela metáfora paterna. Segundo Lacan (1957-58), o neurótico chegou à crise edipiana, mas, ao mesmo tempo, não pôde superá-la. Isso equivale a dizer que o pai operou como detentor da potência fálica, privando a mãe do objeto de desejo, para depois lançá-lo em sua dimensão significante. Este mecanismo permite que a criança abdique da posição de objeto do gozo. Contudo, a saída neurótica prova que a presença da inscrição do significante Nome-do-Pai não garante inteiramente a metaforização da vida autoerótica.
Como vimos, a neurose diz respeito a uma certa estrutura subjetiva em que os percalços intrínsecos à maneira como a criança passou pelo Édipo respingam nas fantasias e nas produções sintomáticas ao longo da vida adulta. Nestes casos, o complexo de castração não é inteiramente articulado pelos neuróticos (Lacan, 1957-58). Dito de outro modo, os fragmentos e os detritos incompletamente recalcados no Édipo ressurgem nos sintomas neuróticos devido ao fracasso do Nome-do-Pai em instalar a absoluta hegemonia da ordem simbólica sobre o circuito imaginário. A experiência analítica tenta promover a desidentificação com este último circuito.
Como consequência, o que caracteriza a estrutura neurótica é a negação (Verneinung) das vicissitudes traumatizantes da sexualidade humana através da manutenção do regime da demanda, das fixações incestuosas que visam suturar o desejo materno. Por isso, o neurótico não está no ponto onde ele deseja, mas sim, em alguma parte de sua fantasia: sua nomeação só pode ser indicada desse modo. Tal formulação é expressa por Lacan (1958-59) em sua observação de que a fórmula $<> a remonta à notação . Ou seja: o se insinua de forma oculta e reversível sob o $ da fantasia, enquanto que sob a, localiza-se o eu ideal, relativo ao esforço fantasístico de restauração da imagem narcísica de si mesmo, como uma forma de situar-se o lugar em relação à falta constituinte do desejo.
No que tange à fobia, esta é definida por Freud (1909a) como a neurose da infância par excellence. Para Freud, Hans é, indiscutivelmente, um pequeno Édipo: tanto seu discurso quanto seus hábitos revelam a vivacidade da ambivalência emocional em relação à figura paterna, bem como o vínculo incestuoso com a mãe. A fobia é concebida justamente como a saída sintomática que protege o sujeito contra a angústia de castração, localizando-a no medo de um objeto específico.
Em seu comentário sobre o caso do pequeno Hans, Lacan (1956-57) destaca que o objeto fóbico não é tanto uma defesa contra a ameaça de castração paterna, como disse Freud, e mais uma suplência à ausência do pai castrador. O medo fóbico é compreendido por Lacan um anteparo face à devoração pelo universo das demandas maternas não aplacado pelo corte paterno. Neste sentido, a fobia infantil nos remete especificamente ao primeiro tempo do Édipo, quando, ao frustrar a criança com suas ausências, a mãe evidencia seu Penisneid. Por isso, Lacan designa a estrutura fóbica como uma plataforma giratória, cujo destino na vertente neurótica ainda está indefinido. É bastante pertinente a observação de Miller (1993), ao localizar a fobia como uma espécie de testemunho do encontro da criança com o desejo da mãe antes da intervenção do significante paterno. Ou seja, seu contexto permite reconhecer a realidade subjetiva que antecede a falicização do objeto do desejo pela metáfora paterna. Sem este anteparo, a potência materna é encarada como pura devoração.
Já o impasse histérico encontra-se, para Freud (1933[1932]), situado no processo psíquico que caracteriza a constituição feminina pela passagem do objeto paterno à escolha genital definitiva, quando outro homem atualiza a potência fálica originalmente identificada à figura paterna. Dessa forma, os relatos de sedução paterna descobertos por Freud nos primórdios da psicanálise atestam que as incidências fantasmáticas desse vínculo incestuoso não são tão facilmente desfeitas no sujeito feminino como no masculino devido ao fato de que, para aquele, a ameaça de castração não possui o mesmo efeito separador. Pelo contrário, no caso da menina, é precisamente o reconhecimento da castração que a leva a refugiar-se na trama edipiana (Freud, 1933[1932]).
Em sua leitura do caso de Dora, Freud (1905b[1901]) assinala que toda propensão à vingança e à ambivalência na relação com o pai deve-se à falha deste em manter este lugar fantasmático ao ignorar sua denúncia a respeito das investidas do Sr. K. Posteriormente, como sabemos, Freud leva em consideração a fascinação demonstrada pela jovem à Sra. K como uma inclinação homossexual ocultada. Lacan (1955-56), por sua vez, localiza a questão histérica no enigma da feminilidade. Ele interpreta de modo análogo sua longa contemplação diante da imagem de Madonna: ambas encarnam para ela a função feminina (Lacan, 1951). Seus sintomas conversivos expõem o despedaçamento corporal como consequência da não realização de seu próprio corpo feminino. Ao que me parece, Freud não passa completamente ao largo desta questão, à medida que, embora não identifique os embaraços com a feminilidade na atração da jovem pela Sra. K, sublinha as dificuldades da jovem elaborar sua sexualidade no destino da atitude feminina na trama edípica (Freud, 1905b[1901]).
A problemática histérica evidencia o desafio pelo qual passa toda mulher para assumir a posição de objeto de desejo do homem. Como vimos, a menina precisa abandonar a posição de objeto que aspira satisfazer a mãe, endereçar sua demanda ao pai para, então, reeditá-la na relação com outro homem. Na partilha dos sexos, retorna a essa posição de objeto, não como aquela que preenche o desejo do parceiro, mas o causa. Contudo, como Freud (1933[1932]) destaca, por não ter o pênis, a menina não possui a mesma competência que o menino para ser o objeto que aspira satisfazer a mãe. Isso marca uma fixação pré-edipiana não facilmente superável. É nesse sentido que compreendo a observação assinalada por Lacan em “A psicanálise e seu ensino” (1957), de que a histérica não teria satisfeito a identificação narcísica que teria dado-lhe condições para atingir a satisfação na posição de objeto. Deduzo, assim, que, para a menina, a inaptidão inicial em identificar-se com a imagem do objeto fálico se atualiza nos impasses posteriores ao assumir um certo lugar de objeto na parceria sexual.
Dora encontra-se na tentativa de simbolizar o órgão feminino por intermédio da identificação com o pai2. Como para todo neurótico, a lógica do desejo histérico inaugura-se no investimento psíquico da atribuição fálica no personagem paterno. No entanto, o pai da histérica comparece fantasmaticamente em sua insuficiência como detentor da potência fálica, como um pai questionável quanto à sua potência fálica, “a carência fálica do pai atravessa todo o caso como uma nota fundamental, constitutiva de posição” (Lacan, 1956-57, p. 142).
Em conformidade com esta hipótese, observamos que o pai de Dora, tendo sido um homem imponente e bem-sucedido como industrial, é acometido por uma sequência de doenças ao longo da juventude da moça. Além disso, do último episódio de sua enfermidade, ele herda como sequela a perda definitiva de sua potência sexual. Assim, Dora começa a vislumbrar as fraquezas do pai e, em resposta, desencadeia uma série de sintomas histéricos no início da puberdade. Na situação clínica da moça, a impotência física parece ter se estendido, de alguma forma, para uma impotência simbólica no tocante ao seu dom viril.
No plano da neurose obsessiva, sua especificidade reside na relevância da ambivalência suscitada pela dimensão rivalitária do complexo paterno. O obsessivo fixa o pai como o agente perturbador de seu gozo sexual, que é experimentado mais ativamente, tal como apontado por Freud desde os primórdios da psicanálise (Freud, 1983b). Como medida de defesa contra o ódio pelo pai, a hostilidade sentida pelo indivíduo é recalcada e retorna na forma de um superego ruidoso.
Verificamos que é nesse sentido que se encaminha a interpretação freudiana do caso de Ernst, o homem dos ratos. Para Freud (1909b), o episódio do reembolso se conecta ao impasse edipiano por intermédio da figura do capitão, o qual evoca de modo superegoico o complexo paterno ao contar-lhe a história da tortura de prisioneiros com ratos, dando origem à resposta sintomática que resolve a tensão gerada pelo gozo anal-sádico despertado pelo juramento obsessivo de saldar a dívida, garantindo a total adesão ao imperativo paterno de interdição do gozo. Suas ambivalências se estendem à dama e esta também passa a ser questionada quanto ao seu valor: para o obsessivo, a mulher amada é destituída como mulher desejada.
A sobredeterminação das ideias obsessivas em torno da história dos ratos se assenta no fato de que o animal rato é, para o obsessivo em questão, uma metáfora viva dele mesmo quando criança, dado ele próprio ter sido uma criança-rato, repugnante, suja pelo gozo sádico obtido pelo ato de morder devido ao qual certa vez fora severamente punido pelo pai interditor em sua infância3.
O obsessivo é acometido pela ameaça de castração em um plano demasiado agudo e distante de desempenhar sua função simbólica reguladora do gozo. Assim, a significação do falo como significante do desejo não está resolvida e permanece enigmática para esse sujeito (Lacan, 1957-58). Seu próprio desejo se esvai e está massivamente marcado pela proibição, só pode ser conservado à distância, sempre de modo adiado. A busca de seu objeto esbarra nesta armadilha, já que só consegue tolerá-lo ao preço da eliminação da condição desejante do Outro. Isso extingue a possibilidade de sustentar-se como sujeito. Contudo, para não execrar efetivamente o Outro e manter-se como sujeito, o obsessivo procura preservá-lo de forma exacerbada na forma da idolatria e do enaltecimento. Lacan (1957-58) considera o obsessivo como solidamente instalado no significante: desse modo, se esquiva do confronto com a falta do Outro, contornando S( ). As manifestações sintomáticas vinculadas a esta estrutura – cerimoniais, rituais, precauções etc. – são manobras que fortalecem a consistência do Outro pelo paradoxal triunfo do significante sobre a falta.
Com isso, queremos demonstrar que, na relação fantasística do neurótico obsessivo com a autoridade paterna, predomina da relação rivalitária e competitiva vigente no segundo tempo do Édipo. O pai comparece como detentor da posse do pênis, por isso estamos no território das neuroses. No entanto, prevalece sua face privadora do gozo incestuoso, interditora da tríade imaginária mãe-criança-falo. O pai do obsessivo é a encarnação do pai morto, onipotente, não permissivo. Todo peso da lei recai sobre esta estrutura, na qual a versão doadora do pai do terceiro tempo do Édipo ainda não se fez presente. A lógica obsessiva de eclipsar o desejo pretende reiterar a vontade paterna.
A partir da discussão acerca de um artigo publicado por Bouvet sobre o atendimento de um caso de neurose obsessiva feminina, Lacan (1957-58) também indica que, na dinâmica obsessiva, o atributo fálico parece estar de alguma forma ligado à mãe: por este motivo, no plano da demanda inconsciente, o obsessivo quer ser o que a mãe deseja. Na neurose obsessiva, a ênfase na lei paterna recai sobre a coerção e não sobre a metaforização da falta do Outro. Embora a assunção da castração não prescinda dessa primeira incidência como ameaça imaginária, o aprisionamento neste momento edípico consome o obsessivo numa encruzilhada: tendo percebido corretamente a dependência desejante da mãe em relação ao pai, precisa sacrificar-se à autoridade da lei paterna. No entanto, ainda retém a mensagem da insatisfação materna sobre aquilo que ela é suposta esperar dele. Por isso, esse sujeito é parasitado pela tentativa de preencher o desejo de falo materno. A relação do obsessivo com o pai se fixa nessa ambiguidade típica da dinâmica edipiana, já que este supostamente detém o que ele almeja, isto é, o desejo da mãe.
Em “O mito individual do neurótico”, Lacan observa que o complexo de Édipo geralmente tem valor “de jeito nenhum normativizante, mas frequentemente patogênico” (Lacan, 1953a, p. 40). Isso se justificaria na medida em que, na época moderna, há um inevitável hiato entre o pai percebido pelo sujeito real e a função simbólica que deveria ocupar. A plenitude do valor simbólico atribuído à sua função, que implicaria em si mesma um completo recobrimento do simbólico pelo real, é estruturalmente impossível. Almejo destacar, com isso, que essa forma de subjetivação, edipianizada, presidida pela identificação paterna, emerge no contexto das práticas discursivas que organizam a modernidade, uma vez que a descoberta do inconsciente só foi capaz de acontecer num contexto caracterizado pela expulsão de Deus do mundo (Coelho dos Santos, 2001).
A época moderna recusa a autoridade religiosa e o sentido fundado na fé, instituindo a família nuclear de base patriarcal, a qual, por sua vez, é fundada na tradição e na hierarquia geracional. Ao mesmo tempo, como ressalta Coelho dos Santos (2001), da fé divina medieval, o homem moderno herda a internalização da crença inconsciente no pai. A função paterna deslocada para o pai de família já sofre os efeitos da estrutura que inaugura a modernidade como desinvestimento da força agregadora da religião e pela descrença na verdade como revelação oracular divina. Chegamos, assim, a um dado estrutural de suma importância: o pai de família nunca encarnará plenamente o poder simbólico do Nome-do-Pai. A condição neurótica anuncia justamente esta defasagem, evidenciando que a metáfora paterna, relativa à função simbólica do pai morto, não pode se inscrever completamente.
Lembremos que a psicanálise opera, por excelência, sobre a modalidade específica de constituição do homem moderno, isto é, do sujeito da ciência que idealiza despir-se dos sentidos tradicionais e míticos ancorados na fé divina. Por desconfiar do que é particular e contingente, esse novo sujeito aspira despojar-se de todas as qualidades subjetivas por meio do recalque da dívida significante com a tradição e a autoridade. A atitude denegatória em relação aos aspectos qualitativos da subjetividade leva à supressão do aspecto pulsional e da fantasia pelo saber científico. Assim, a emergência do sujeito da ciência conduz inevitavelmente a um paradoxo, pois seu surgimento é concomitante à sua própria sutura pelo discurso científico.
Lacan equipara o sujeito do inconsciente freudiano ao sujeito da matemática do significante. De fato, a primazia concedida à máquina simbólica no ensino de Lacan coloca em primeiro plano o automatismo da repetição próprio ao encadeamento significante no inconsciente. A articulação entre os significantes prescinde de qualquer significação, configurando-se como uma pura injunção formal a despeito do sujeito que surge daí na condição de efeito. No entanto, esse elo capital entre o advento da ciência moderna e a psicanálise é fundamentalmente marcado por um movimento de subversão desta última, na medida em que a descoberta freudiana do inconsciente como a verdadeira realidade psíquica testemunha o fracasso do sujeito da ciência em comparecer completamente destituído de qualidades.
Nas palavras de Coelho dos Santos, “a modernidade é um paradoxo: cortou a cabeça do Rei, baniu as antigas hierarquias feudais, mas manteve viva a família” (Coelho dos Santos, 2001, p. 262). O advento do Estado moderno restringe o domínio exercido pela crença no poder de Deus, do Rei e do Papa, instaurando um mundo laico, inspirado pela razão e pela defesa dos direitos do indivíduo. Destacamos assim que, nos tempos modernos permanece um resto do funcionamento antigo resgatado pela psicanálise: a ciência não conseguiu sepultar completamente a ilusão, mas apenas a recalcou.
Problematizações finais
Finalizamos este texto com algumas problematizações. Considerando que Freud delineia a modalidade de constituição subjetiva do homem moderno baseada na internalização da autoridade paterna como suporte dos valores e ideais, o sintoma pode ser entendido como um derivado indicativo do fracasso desta operação simbólica. No entanto, como situar as novas manifestações sintomáticas cada vez mais predominantes na contemporaneidade – tais como a obesidade, a toxicomania, a depressão, a anorexia e a bulimia? Estes são quadros clínicos não parecem tão referidos a um Outro consistente como metáfora simbólica. As categorias estruturais clássicas não dão conta destas patologias, na medida em que o excesso de gozo não-regulado pelo Nome-do-Pai é prevalente. Torna-se necessário avançar na vertente de gozo do sintoma, para além de sua vertente de mensagem, o que só encontramos na continuidade do ensino de Lacan, a partir das formulações acerca do objeto a.
No simbólico, a pulsão é representada no inconsciente pelo conjunto de representantes da representação da pulsão, ou seja, por significantes. Lembremos que Freud (1915a) concebeu este componente da pulsão como isento de seu aspecto quantitativo. Na lógica do significante, o afeto representa justamente uma irrupção do real no tecido simbólico, quando, como diz Lacan, “as cavilhas não entram nos buraquinhos” (Lacan, 1958-59, p. 157). Portanto, concluímos que neste primeiro ensino a angústia é entendida como inerente ao fato de que significante e significado não guardam uma relação fixa de sentido. No “Seminário 10: A angústia”, Lacan afirma que:
Por natureza, o sintoma não é como o acting out, que pede a interpretação, pois – esquecemos isso em demasia – o que a análise descobre sobre o sintoma é que ele não é um apelo ao Outro, não é aquilo que mostra ao Outro. O sintoma, por natureza, é gozo, [...] gozo encoberto [...], ele se basta. (Lacan, 1962-63, p. 140). |
Quero destacar aqui, ainda que num nível especulativo, uma mudança de ênfase. É preciso que a transferência analítica se estabeleça para que o “gozo autístico” encerrado no sintoma se abra aos intercâmbios da fala, o que não é dado de saída. A formalização do objeto a como um resto pulsional inapreensível pela articulação significante na constituição do sujeito no campo do Outro acentua o fato de que, embora a articulação significante faça aparecer no real a criação simbólica, não o encobre por completo: falta a possibilidade de que a máquina simbólica inclua todo o vivo. Esse resto se traduz pela experiência da angústia e está imbricado no sintoma. A introdução do objeto a, o qual ulteriormente será considerado objeto mais-de-gozar, jáprenuncia a crescente valorização do conceito de gozo na sequência da produção lacaniana (Coelho dos Santos, 2005).
Logo, o fato de que o sintoma possua uma estrutura idêntica à da linguagem não implica que ele possa ser reabsorvido por completo na ordem significante (Miller, 1998). Definir o sintoma como uma mensagem, como significado do Outro a ser remetido à articulação significante, não abarca toda sua dimensão. É fundamental pôr em relevo de forma específica sua vertente de gozo. A experiência da angústia denuncia que o inconsciente não é pura articulação de significantes, também é pulsional. A ênfase na sequência da obra de Lacan se desloca para a relação do significante com o que está fora da simbolização. No nível de das Ding, o alcance do gozo é posto no campo do impossível e transgressivo. Já a teoria do pequeno objeto a surge como alternativa ao referir-se a um gozo fragmentado pelos pequenos objetos a, nos contornos da pulsão.
Portanto, as formalizações lacanianas que se seguem principalmente a partir dos anos de 1970 e que valorizam uma clínica da ordem da invenção, de um novo modo de uso do gozo mais contingente e menos rigorosamente restrito à hegemonia do Nome-do-Pai, parecem ser uma importante chave de leitura como dispositivo teórico-conceitual para pensar as formas de mal-estar da atualidade (Coelho dos Santos, 2005), por priorizarem uma perspectiva do sintoma como forma de tratamento do real incurável pela via das suplências ao fracasso radical da mediação simbólica e não tanto como enigmas passíveis de decifração.
Notas
1 - Este texto integra minha dissertação de mestrado, cujo título é “O sintoma e seu estatuto na psicanálise: considerações sobre a clínica do significante”, defendida em 2012 no Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação da Profa. Dra. Tania Coelho dos Santos e com o financiamento do CNPq.
2 -
Lacan (1955-56) atenta para o fato de que o impasse histérico é uma resposta à problemática estrutural concernente ao fato de que não há equivalente para o falo para a realização simbólica do sexo feminino. Isso porque o plano simbólico carece de material que o represente especificamente: o órgão genital feminino é designado imaginariamente como simples ausência do pênis. O sexo da mulher comparece como um ponto inassimilável, um vazio, um buraco irredutível na ordem do significante.
3 -
Já adulto, sua mãe recorda-lhe um episódio de sua vida infantil que ele mesmo não conseguia rememorar: após ter mordido alguém, possivelmente uma babá, foi seriamente punido pelo pai. Enquanto ainda apanhava, é tomado por uma forte raiva e não conhecendo impropérios, xinga-o com os termos mais inusitados: “Sua lâmpada! Sua toalha! Seu prato!”. Ao que o pai interrompe definitivamente a punição e exclama: “o menino ou vai ser um grande homem, ou um grande criminoso” (Freud, 1909b, p. 170).
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Resumos
From the freudian unconscious to the hegemony of the significant in Lacan: an articulation between symptom, desire and structure
My research was permeated by the fundamental purpose of defining the specificity of the psychoanalytic concept of the symptom, as well as its implications for the clinical area. Although this notion has been incorporated into the medicine, for psychoanalysis, the discomfort symptoms does not indicate an anatomical anomaly, but signals a form of subjective organization. This study covered the Freudian elaborations on the theme, as well as the return to Freud made by Lacan in his first teaching, which is characterized by the appreciation of symbolic logic and of the significant primordial psychic constitution. Then, we investigated the paternal metaphor and phallic signification, which are essential structural operators for the production of the subject of the unconscious. In order to enhance the discussion of a practice based on clinical hegemony of the signifier, we are dedicated to the investigation of clinical structures of classical psychoanalysis, deploying its main elements from the paradigmatic cases of freudian literature.
Keywords: psychoanalysis, symptom, unconscious, desire, phallus, structure.
De l'inconscient freudien à l'hégémonie du signifiant chez Lacan: une articulation entre symptôme, désir et structure
Ma recherche a été traversée par l'objectif fondamental de délimiter la spécificité de la conception psychanalytique du symptôme, ainsi que son impact sur le champ de la clinique. Bien que cette notion a été intégrée de la médecine, pour la psychanalyse, la souffrance symptomatique n'indique pas une anomalie anatomique, mais elle est plutôt une structure subjective. Cette étude a porté sur les élaborations freudiennes sur ce thème ainsi que le retour à Freud de Lacan dans son premier enseignementqui est caractérisé par l'appréciation de la logique symbolique et des signifiants primordiaux de la constitution psychique. Ainsi, nous travaillons la métaphore paternelle et la signification phallique, celles qui sont les opérateurs structurelsessentiels pour la production du sujet de l'inconscient. Afin de renforcer le débat sur une pratique soutenue dans l'hégémonie clinique du signifiant nous nous dédions à l'étude des structures cliniques classiques de la psychanalyse, en déployant ses principaux éléments à partir des cas paradigmatiques de la littérature freudienne.
Mots-clés: psychanalyse, symptôme, inconscient, désir, phallus, structure.
Citacão/Citation: OLIVEIRA, F.L.G. Do inconsciente freudiano à hegemonia do significante em Lacan: uma articulação entre sintoma, desejo e estrutura. Revista aSEPHallus, Rio de Janeiro, vol. VI, n. 12, mai. a out. 2011. Disponível em www.isepol.com/asephallus
Editor do artigo: Tania Coelho dos Santos.
Recebido/Received: 12/11/2011 / 11/12/2011.
Aceito/Accepted: 14/01/2012 / 01/14/2012.
Copyright: © 2011 Associação Núcleo Sephora de Pesquisa sobre o moderno e o contemporâneo. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados/This is an open-access article, which permites unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the author and source are credited.
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