O termo violência não é frequente nos Escritos e nas aulas do Seminário de Lacan, especialmente se o considerarmos em uma perspectiva conceitual. Ou seja, pode-se encontrar, certamente, Lacan utilizando a palavra “violência” em seu ensino, mas sem conferir-lhe um estatuto de conceito psicanalítico. Com Freud é assim também, ainda que tenha produzido elaborações importantes sobre o mal-estar da civilização e sobre a guerra.
Com outros psicanalistas que vieram depois de Freud e antes de Lacan, os chamados “pós-freudianos”, não me parece tampouco haver uma conceitualização sobre a violência, embora alguns, como Anna Freud e Melanie Klein ou educadores influenciados pela psicanálise como August Aichhorn, tenham trabalhado com crianças e jovens classificados de “delinquentes” (muitos deles vítimas dos horrores da guerra ou do abandono de suas famílias)2. Nesse contexto, se há um termo que ganhou peso conceitual na psicanálise e tem relação com a violência, é o termo “agressividade” que, sem dúvida, foi concebido de modos diferentes a partir de Freud até Lacan. Mas “agressividade”, em nossos tempos, ressoa como uma palavra ainda muito limitada para se ler e lidar com as proporções com que a violência nos invade.
A dimensão enlouquecida que a violência tomou em nossos tempos, sua insistência, nos leva a incluí-la em nossas elaborações conceituais e a lidar com ela. A concepção psicanalítica da “agressividade” é ainda frutífera, particularmente se a tomamos como Lacan pode trabalhá-la.3Mas também considero importante dar-lhe, se posso dizer assim, um upgrade, para que ela possa servir a nossas contribuições a propósito da violência hoje e para que a psicanálise não seja desprezada pelas estratégias atuais de combate à violência. Trata-se, então, de utilizar o termo “violência” para nos fazermos escutar, embora essa possibilidade de uma participação no combate contemporâneo sobre a violência não deva implicar a perda de nossos princípios e o abandono de nossos conceitos.
A violência “insolúvel” e o “nosso” insolúvel
A violência enlouquecida de nossos tempos não se apresenta diretamente em nossa prática de consultório. Ela se apresenta a nós, psicanalistas, certamente nas convocações que nos faz o Outro social. Somos convocados para ajudá-lo a enfrentar isso que, sob a forma de atos violentos, se lhe impõe muitas vezes como um “problema insolúvel”. Não sustento, nem considero uma posição sustentável por nenhum psicanalista, que a psicanálise de orientação lacaniana vá solucionar o problema da violência do mundo. Mas, ao mesmo tempo, o futuro da psicanálise não me parece afastado do que podemos dizer sobre a violência e inclusive de nossas intervenções a propósito dos atos violentos.
Não é psicanalítico, se assim posso dizer, sobretudo na orientação lacaniana, tratar o insolúvel como se fosse solúvel. Freud (1913), nós sabemos, fez de um crime o próprio princípio da cultura – e não foi um crime qualquer, mas um parricídio. Convocado a responderà questão do porque a guerra, a explicarporque os homens matam-se uns aos outros, Freud (1933) desenvolveu uma perspectiva da guerra como interminável, embora dizê-la interminável não é o mesmo que considerá-la justificável.
Lacan, por sua vez, localizou a função constituinte da agressividade em relação ao outro e, mais ao final de seu ensino, não somente antecipou o progresso da segregação e do racismo em nossos tempos, como também afirmou que a função constituinte da linguagem para os seres humanos não os afasta de alguma coisa que a linguagem segrega, ou seja, não consegue processar, representar, simbolizar.4
Por fim, a psicanálise pós-freudiana, quando se propôs a ampliar os espaços de aplicação das descobertas clínicas e a solucionar problemas gerados pela violência e a segregação, terminou fazendo a descoberta freudiana muitas vezes tomar o rumo oposto, ou seja, de uma normalização que esmaga as diferenças e se impõe como válida para todos (Laia, 2010).
Se a violência, inclusive em sua apresentação atual como “enlouquecida”, é localizada muitas vezes como “insolúvel” pelo Outro social, sustento que a psicanálise de orientação lacaniana possa ler seriamente esse “insolúvel”. Trata-se de inventar uma posição que ao mesmo tempo poderá responder a isso sem desmentir o real que esse “diagnóstico” de “insolúvel” me parece ressaltar, embora nem sempre da melhor maneira. Trata-se, então, de bem dizê-lo porque, talvez devido ao aspecto maldito da violência, o diagnóstico sobre sua insolubilidade é um “mal-dito”, ou seja, não consegue dizer muito bem alguma coisa, não consegue abordá-la precisamente, nem examiná-la de modo rigoroso.
Lacan ensina-nos que tomar um problema seriamente não é apenas fazê-lo com seriedade, mas sobretudo colocá-lo em série, desdobrar os encadeamentos que ele faz funcionar ou aqueles de onde provêm. Trata-se então de lidar com a insolubilidade da violência considerando-a como se fosse um precipitado, um resto que não se dissolveu, nem vai se dissolver, nessa solução para o mal-estar chamada “cultura”. Nesse contexto, a orientação lacaniana de tratamento da violência enlouquecida de nossos tempos é diferente das propostas que buscam idealisticamente resgatar as crianças e jovens extraviados para o “bom caminho”, seja este caminho balizado pela religião, a comunidade, o trabalho ou a política. Ao mesmo tempo, o rumo que se pode desdobrar da orientação lacaniana é também diferente de tratar a insolubilidade da violência com a força que se propõe, por exemplo, eliminá-la dos espaços em que ela se apresenta, confiná-la simplesmente nas prisões ou nas periferias das cidades, tomando-a como o contrário do humano e sempre respondendo-lhe com outra violência que, como vemos tantas vezes, acaba por gerar ainda mais violência.
A violência é coisa humana: por mais animalesca e hedionda que seja, continua sendo humana. Pode-se abordá-la, a partir da psicanálise de orientação lacaniana, como um dizer extremo, um dizer-limite porque muito envolvido com atos que se impõem quando as palavras falham. Embora seja um dizer, ocorre diante de um precipício demarcado por uma ausência de referenciais e que muitas vezes se abre diante dos sujeitos tragando-os sem muitas chances de defesa. Nesse contexto, os atos violentos literalmente se precipitam como se fossem “legítimas defesas”. É muito frequente que, ao se perguntar a um jovem infrator sobre o que o fez atuar tão violentamente, ele responda algo assim: “não sei, aconteceu de repente, do nada, pintou pra mim e, quando eu vi, já estava feito”.
Lacan nos oferece o matema da fantasia para cingir esse tipo de apagamento do sujeito diante de alguma coisa que se lhe impõe:. Mas a violência enlouquecida de nossos tempos me parece exigir de nós um giro nesse matema. É, contudo, um giro que não lhe implica uma mudança completa, tampouco seu abandono. Trata-se, ao contrário, de um giro que o esclarece, mostrando ainda mais o que está em jogo na fantasia. Lacan (1963) inclusive já o havia feito no escrito em que conjugou a moralidade de Kant com a perversidade de Sade: a --> $ - o sujeito barrado ($) surge no campo do Outro por uma operação em que tenta livrar-se da barra que marca sua castração oferecendo-se como um instrumento, um objeto (a) de uma vontade de gozo que não deixa de lhe ser obscura.
Um ato violento, precipitando-se como um dizer-limite, mostra-se muitas vezes impermeável a uma conversação, a uma disposição para compreendê-lo, a uma escuta interessada em descobrir seus motivos. Esse tipo de ato, nas circunstâncias abordadas neste texto, costuma também angustiar muito o Outro social e se impõe quando o sujeito barrado ($) fica na posição de objeto (a), reage e, porque se articula a algo enigmático para esse sujeito, a única resposta que este encontra depois para justificar seu ato violento é: “de repente... do nada... pintou”.
Com uma grande frequência, os jovens infratores não encontram palavras para seus atos e, se as encontram, são palavras que tendem simplesmente a repetir as cenas da infração tentando descrevê-las objetivamente ou que procuram dizer o que esses jovens supõem querer escutar seus ouvintes, inclusive para justificá-los como seus “carrascos” e, assim, em suas fantasias, fixarem-se como instrumentos de um gozo que lhes toma, obscuramente, seus corpos. Por isso, a perspectiva contemporânea de que tudo deve ser dito, de que falar é sempre bom e saudável ou os projetos socioeducativos atuais de restauração de uma “autoestima” graças à prática de atividades laborais ou artísticas nem sempre conseguem os resultados mais interessantes junto a esses jovens, embora possam funcionar, em alguns casos, para inseri-los em atividades sociais mais dignas que a vida do crime.
A violência enlouquecida de nossos tempos costuma exigir-nos uma presença que possa suportar o insuportável que ela impõe e – isso é o mais difícil – que possa suportá-la sem o recurso ao sacrifício, a um ideal e à força. Não é simples suportar esse horror e tampouco se pode suportá-lo o tempo todo. Por isso, Lacan, sensível ao abismo aberto pelo encontro com um resto insolúvel, oferece-nos uma dupla e paradoxal orientação: em sua clínica, um psicanalista lida com “o real impossível de suportar” (Lacan, 1977, p. 11) e, ao mesmo tempo, “tem horror de seu ato” (1980). Lacan também ensina-nos que esse insuportável e esse horror não são enfrentados sem que um analista os descubra, ele mesmo, em sua própria experiência analítica, em sua análise pessoal, seja nos modos como essa satisfação pulsional chamada gozo lhe toca o corpo, seja em seus impasses como analisante para separar-se de seu analista e “tornar-se psicanalista de sua própria experiência” (1967, p. 243).
A partir da psicanálise de orientação lacaniana, trata-se então de suportar – sem o recurso ao sacrifício, ao ideal e à força – o insuportável e o horror provocados pela violência, porque não se trata somente de tomar o ato violento como um dizer-limite, mas também a partir de uma posição-limite. Um psicanalista para Lacan se localiza em uma posição-limite porque não se produz sem o encontro com algo residual, com um resto inassimilável e que se depurou de seu trabalho como analisante. O sacrifício, o ideal e a força, contudo, são modos subjetivos para se tratar o insuportável. Por sua vez, a psicanálise de orientação lacaniana convoca-nos a tratá-lo para além da nossa posição subjetiva. Nesse mais além da posição subjetiva, encontra-se a posição do analista como objeto a. Trata-se, então, do mesmo objeto que provoca os atos violentos e no qual a substância gozo se condensa. Contudo, é também diferente das circunstâncias em que a violência se impõe como presença do Outro obscuro. O percurso por uma análise pessoal e pelas supervisões de sua prática clínica permite a um psicanalista encontrar outros tipos de descarga, diferentes da violência, para o insuportável do gozo condensado na violência. Esse percurso permite a um psicanalista encontrar um estilo singular de lidar com o insuportável sem conferir-lhe a forma do Outro obscuro convocado pelos atos violentos.
Se destaco a importância da análise pessoal para que alguém possa fazer frente ao que se precipita nos atos violentos, também sei que essa via não será percorrida por todos aqueles que de fato vão trabalhar, por exemplo, com jovens esmagados por seus próprios atos violentos. Tampouco sustento que o trabalho a ser posto em prática com esses jovens seja necessariamente um tratamento psicanalítico. Mas parece-me determinante que, nesse tipo de trabalho, haja psicanalistas para orientá-lo além da via do sacrifício, da perspectiva dos ideais e do uso brutal da força.
Wesley, o terrível5
Ele se apresentava como o “cabeça” de uma gangue reconhecida não apenas por suas infrações, mas, ao contrário e paradoxalmente, por sua desorganização, sua falta de rumo e pelo fato de seus membros inclusive matarem uns aos outros. Tratava-se, então, de uma gangue muito visada pelas gangues rivais. Ele fez fama, então, como “o matador”, “o cara que está disposto a tudo”. Ao mesmo tempo, esse jovem tão terrível e tão “macho” gostava de colocar sua mãe acima de tudo: “mãe”, costumava dizer, “é uma só, lhe devo minha vida e os cuidados – portanto, tenho com ela uma dívida impagável e somente poderei pagá-la morrendo”. Esse tipo de declaração ressoa os versos de uma canção difundida em 2003 por um grupo brasileiro de rap, constituído por prisioneiros de uma penitenciaria em São Paulo e chamado Detentos do Rap: “amor... só de mãe, o resto é ódio puro”. Com suas histórias muitas vezes reduzidas ao laço com a mãe, muitos jovens vão encontrar, na infração e na violência, perspectivas para uma separação e que, entretanto, vão apenas aliená-los ainda mais nesse tipo de “cárcere privado” tramado pelo domínio materno e pela demissão do pai na “transmissão de uma constituição subjetiva” que marca suas vidas6.
Na história de Wesley, segundo suas palavras, o pai vive “bêbado” e “não ajuda nada em casa”. Restou-lhe, então, a vida do crime como um modo de viver e ainda de cuidar da mãe doente que, ao longo de tanto tempo, lhe fora tão dedicada. Por sua vez, a mãe o reconhece de uma maneira muito peculiar: diante dos sete processos judiciais a que Wesley deve responder, relacionados ao porte ilegal de arma, a assaltos e a suspeita de homicídio, sua mãe o defende como se fosse inocente enquanto que, no seu quotidiano com o filho, não confia em suas palavras, não acredita nele.
Após começar a frequentar um atelier do Programa “Fica Vivo”!7, Wesley é detido pela polícia. Sendo menor de idade, vai ser transferido para um “Centro de Internação Provisória” (CEIP), segundo a recomendação de uma juíza para que siga uma medida judicial de proteção socioeducativa caracterizada por um “regime de semiliberdade”. Assim, Wesley é privado parcialmente de sua liberdade: é internado em uma instituição socioeducativa, mas lhe é permitido desenvolver algumas atividades educativas e de trabalho fora desse estabelecimento. Embora afastado por esse regime, conseguirá, contudo, fugir algumas vezes de onde o devia cumprir e chegará inclusive a atuar em novos homicídios. Após a primeira dessas fugas, o coordenador da oficina onde Wesley estava inscrito antes de se encontrar no regime de semiliberdade o informa que um profissional do “Fica Vivo!” começará a acompanhar seu caso na Justiça. Por sua vez, esse jovem lhe diz que, somente quando matar ainda três novas pessoas, ficará tranquilo, inclusive para que a polícia possa matá-lo. Nota-se, então, a decisão desse jovem de pagar sua dívida com a mãe entregando a seus “carrascos” a libra de carne que toma a forma do seu próprio corpo. Ao mesmo tempo, Wesley também responde dizendo-lhe o quanto gostava de saber que o “Fica Vivo!” se interessava por seu caso: adorava que alguém pudesse se interessar por sua morte, servindo-lhe como uma espécie de “testemunha ocular” de sua desgraça.
Encontrando-se uma vez mais em um regime de semiliberdade, Wesley – embora sempre disposto a fugir e a “gozar” a Justiça como um modo paradoxal de fazer-se olhado e escutado – decide pedir ao profissional do “Fica Vivo!” para lhe escrever uma carta à juíza que se encarregava de seu caso. Não lhe agradava ficar nesse regime e vislumbrava que, se pudesse trocá-lo, talvez desse outro rumo à sua vida. E lhe pede para que essa carta fosse escrita dizendo-lhe: “uma palavra muda tudo”.
Embora seja surpreendente escutar algo assim de um jovem como Wesley e embora o profissional do “Fica Vivo!” se dispusesse a encaminhar tal carta à juíza, Wesley não consegue esperar pela resposta. Sua urgência subjetiva não lhe permite esperar pela palavra que parece começar a buscar. Uma vez mais, vai fugir para, outra vez, terminar detido pela polícia. Na sua volta à instituição destinada ao regime de semiliberdade, Wesley vai dizer o seguinte ao profissional do “Fica Vivo!”: “se eu quiser fugir, fujo, e de qualquer lugar”. Mas, desta vez, ele recebe desse mesmo profissional uma resposta que localizo mais além dos ideais da justiça e da compulsão a transgressão, mais além do sacrifício do sujeito, dos ideais do aparato judicial e da força da polícia. Trata-se de uma resposta em que se pode encontrar um tom psicanalítico, um estilo lacaniano de intervenção porque convoca a responsabilidade de um sujeito por seu próprio modo de gozar. De fato, em seus atos violentos, Wesley dispõe seu corpo em um trajeto onde Freud e Lacan nos mostram a presença de uma satisfação pulsional acéfala, a presença de um gozo que não leva em conta essa “cabeça” que um sujeito poderia ser com relação ao que ele faz ainda que sem saber disso conscientemente. Por isso, Wesley não se localiza exatamente como um sujeito de seus atos violentos e consegue situá-los apenas em termos obscuros como “...de repente, ...do nada, ...pintou”. Na montagem pulsional de sua economia libidinal, ele vai aparecer muitas vezes de modo esmagado, como se não estivesse ali, como se não tivesse nada a ver com seu modo de gozo. É o que também acontece na sua “função” como o “cabeça” de uma gangue que, de fato, é totalmente desorganizada e, por isso, “descabeçada”, sem poder contar com alguém que lhe dê um rumo. Frente ao impulso e à insistente decisão transgressiva de Wesley para fugir, o profissional do “Fica Vivo!” responde-lhe o seguinte: “A questão não é fugir ou não fugir, mas ficar ou não – cabe a você a palavra final”.
Com essa intervenção, tenta-se abordar o insuportável que toma o corpo de Wesley sem simplesmente se tentar descartar ou, ao contrário, sem aumentar ainda mais o terrível que se impõe em sua vida, isto é, não são feitas concessões a esse jovem porque ele, por exemplo, seria alguém “sem sorte”, nem ele confrontado a uma violência ainda maior. Portanto, diferente do que muitas vezes tende a ocorrer nos meios jurídicos e sobretudo na ação da polícia, trata-se de uma intervenção que não procura desmentir o real insuportável que toma o corpo de Wesley e o impulsa a atuar. Sabe-se que esse sujeito foi abandonado por um pai que se desviou do caminho do ato que é perpassado por um bem-dizer, um pai que não ofereceu a seu filho os pontos cardiais nesse caminho porque, segundo Wesley, esse pai vive “bêbado” e “sem fazer nada”: o modo como tal pai escolhe o objeto oral na sua adição alcóolica e seu descompromisso com o fazer o impedem de ser uma presença capaz de se tornar vetor da conjugação do desejo e da lei na vida de Wesley porque, tomado pelo vício e pela inação, ele não consegue dedicar-se a sua mulher, nem intervir no modo pelo qual ela encarna o “desejo da mãe” para o filho.
Em tais circunstâncias, como pude também constatar numa pesquisa pautada em 101 casos inscritos no Programa de Proteção às Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM)8, um sujeito pode fazer-se prisioneiro do “amor materno” para se defender do que se lhe apresenta como “ódio puro”. Nessa escolha forçada entre o “domínio materno” e “ódio puro”, arma-se a operação de alienação onde muitos jovens infratores gravemente envolvidos com a violência urbana tentam subjetivar-se. Trata-se de uma alienação porque essas duas alternativas são de fato as duas faces de uma só moeda: o pagamento da dívida à mãe não se faz muitas vezes sem a morte do filho e essa morte, segundo Lacan já nos ensinava em 1938, é o retorno à “imago materna” corporificada, por exemplo, na terra que “acolhe” os mortos9 - nesse retorno, nota-se o quanto o “amor materno” não se encontra sempre tão longe do que se impõe como “puro ódio”. Assim, tampouco é sem razão que a via criminal adotada por esses jovens tenda a operar uma espécie de separação selvagem e, certamente, malograda, do domínio materno: com suas liberdades protegidas pela Justiça, semifechados em instituições socioeducativas ou completamente envolvidos em suas gangues, eles tentam alijar-se de suas mães pagando-lhes – com os “saldos” dos atos infratores – a “dívida” que os fizeram perseverar na precária existência de suas constituições subjetivas, mas ao mesmo tempo provocam o “ódio puro” com os atos terríveis que praticam e, em muitas circunstâncias, são somente suas mães que tendem a aparecer como parceiras dos recursos educativos e sócio-jurídicos que tentam livrá-los da vida do crime.
Terrivelmente esmagado na sua constituição subjetiva a ponto de se localizarmuito mais como se fosse somente um objeto, sem poder contar muito com a transmissão de recursos para lidar com essa causalidade do real nomeada por ele como “...de repente... do nada... pintou”, Wesley recorrerá, assim como muitos outros jovens infratores tomados por atos violentos, a um modo paradoxal de se fazer sujeito impondo-se, não sem silenciosamente dividir-se e angustiar-se, como “o terrível”. Nesse contexto, para abordar Wesley, é preciso oferecer-lhe outra versão do amor ao mesmo tempo diferente do “amor materno” e do “ódio puro”, mas que não lhe pode ser menos terrível. Essa “terribilidade”, se posso assim, tem que se apresentar como uma palavra envolvida com seu modo de gozo. É o que lhe diz, então, o profissional do “Fica Vivo!”, talvez ainda mais terrivelmente que a célebre sentença de Hamlet: “a questão não é fugir ou não fugir, mas ficar ou não – cabe a você a palavra final”.
Wesley, o pai
Após apresentar a Wesley a terrível responsabilidade envolvida na dimensão do ato, o profissional do “Fica Vivo!” indica-lhe também que, caso sinta sua falta, saberá onde encontrá-lo. Três semanas mais tarde, a mãe de Wesley procura esse profissional a pedido de seu filho dizendo-lhe: ”ele quer que você o tire de onde ele está”. Nessa retomada de contato, Wesley fala que, em breve, vai se tornar pai. Mas também sustenta que não lhe interessa que seu filho seja cuidado pela jovem que é a mãe porque já não tem mais nenhum laço com ela. Diz-se decidido a ficar com a criança após seu nascimento e não deixar jamais que a mãe o veja. Encontramos nessa “decisão” outro modo de esse sujeito postergar sua separação do domínio materno, uma vez que passa a vislumbrar como se pudesse substituir integralmente, como pai, a função de uma mãe diante de seu recém-nascido. Além dessa perspectiva, parece-me ainda possível indicar a extensão do domínio materno nessa “decisão” de Wesley porque, em outras circunstâncias semelhantes, muitos jovens que se tornam pais e dispensam as mães de seus filhos acabam entregando-os ao cuidado das avós.
Uma nova intervenção do profissional do “Fica Vivo!” se apresenta, então, em dois tempos. Primeiro, pergunta a Wesley se vai fazer do filho um fugitivo igual ao pai. Nos termos lacanianos da “Nota sobre a criança” (Lacan, 1969), essa pergunta me parece sustentar o seguinte: o que você quer transmitir ao filho é a fuga? Em seguida, lhe diz também: “o importante não é desfazer-se da mãe, mas localizá-la em seu lugar, inclusive porque você sabe muito bem não só o que é uma vida atravessada pela fuga, mas também como uma mãe sem o pai tende a ser um risco para o filho”.
Lamentavelmente, não sabemos os efeitos que essa intervenção em dois tempos teve sobre o provável exercício da paternidade por Wesley. Contudo, ao permitir-se evocar sua futura posição como pai, esse jovem me parece não apenas demonstrar uma confiança maior no profissional do “Fica Vivo!” que o escutava, como também passa a falar de temas em que ele estava muito mais tomado como sujeito e não se encontrava mais esmagado como se fosse um objeto. Cingir, então, a posição subjetiva de alguém que se encontrava obscurecido pela presença do objeto me parece ser uma orientação, a partir do ensino de Lacan, para o trabalho com jovens infratores impelidos a atos violentos em que eles, de modo malogrado, tentam aceder a uma separação frente à dimensão do pai e ao domínio materno que marcam suas constituições subjetivas.
Uma mudança ou simplesmente tudo muda para retornar ao mesmo lugar?
O profissional do “Fica Vivo!” consegue transferir Wesley para outra instituição. Quando já se encontrava nesse outro lugar, uma “guerra” explodiu na favela onde vivia Wesley, uma “guerra” entre sua gangue e uma outra. Novamente, ele se vê impulsionado a fugir e chega a dizer isso ao profissional do “Fica Vivo!”. Coloca-se como o único que poderia resolver esse terrível conflito. Após perguntar-lhe se era de fato o único capaz de resolver algo assim e confrontado, uma vez mais, com a tendência de Wesley para fugir, esse profissional lhe apresenta outra intervenção terrível: “Você sabe que pode fugir de onde quiser, não é esse o problema – a verdadeira saída é saber por que você não deseja ficar”.
Wesley tenta, todavia, o argumento de que é perigoso ficar ali porque seus inimigos sabem onde ele se encontrava. O profissional do “Fica Vivo!” o escuta sem fazer-lhe outra intervenção e tampouco vai mencionar, na nova instituição, essa ameaça de Wesley fugir. A “guerra” se torna mais intensa e a gangue de Wesley chega a propor-lhe um plano para tirá-lo de onde ele estava em regime de semiliberdade. Mas esse jovem decide pedir à mãe que vá procurar de novo o profissional do “Fica Vivo!”. Ela se faz então de mensageira das seguintes palavras de seu filho: “Ele não quer mais viver fugindo”.
Segundo me informou recentemente, respondendo uma mensagem eletrônica, Bernardo Mecherif Carneiro10,a escolha de Wesley por não fugir foi bancada, embora não se possa considerar que ele tenha efetivamente cumprido o regime de semiliberdade até o final. Não houve uma conclusão efetiva da medida socioeducativa, mas não exatamente por uma decisão de Wesley. Foi a juíza responsável pelo seu caso que o considerou um “caso insolúvel” e preferiu, então, liberá-lo do regime de semiliberdade que lhe havia destinado. Sabe-se que, em liberdade, voltou para sua gangue, mas deixou de ser o “cabeça” que de fato não conseguia definir-lhe um rumo e proteger-lhe para assumir, a partir de então, uma função de liderança no tráfico de drogas que já praticava.
Pode-se dizer que a passagem de Wesley pelo regime de semiliberdade e seu confronto com as intervenções do profissional do “Fica Vivo!” produziram o que Lacan nomeou como uma “canalhice”? No Seminário 17, o pesado termo “canalhice” vai designar a operação pela qual “alguém quer ser o Outro, [...] o grande Outro de alguém, ali onde se esboçam as figuras onde seu desejo será capturado” (1969-70, p. 68). Sem dúvida, ser o chefe de uma gangue, sobretudo a partir de uma maneira mais organizada do que lhe ocorria antes, no caso de Wesley, é um modo dese apresentar como se fosse o grande Outro. Sabe-se, inclusive por pesquisas oriundas do campo da sociologia e não somente a partir de experiências da ação lacaniana junto a jovens envolvidos com o tráfico de drogas, que os líderes das gangues envolvidas com esse tipo ilegal de mercado tendem a aparecer como “modelos de identidade” para muitas crianças e adolescentes perdidos na busca por um rumo para suas vidas, desejos e corpos, transtornados frente à precariedade da transmissão subjetiva recebida de suas famílias11. Nesse contexto, Wesley talvez terá saído do esmagamento de sua posição subjetiva para impor-se como o Outro que se faz desejável para aqueles invadidos por seu domínio.
Mas a mudança de estar na posição de objeto para o lugar do Outro encarnado não é exatamente uma mudança. Parafraseando a fórmula de Lampedusa12, trata-se de uma mudança que faz tudo voltar para o mesmo lugar de sempre porque, de fato, o domínio da mãe não se impõe sem que ela faça o Outro para seu filho capturando-lhe o desejo. Por isso, embora o lugar de Wesley como um chefe de gangue diferente do que já havia sido o localize em uma posição provavelmente mais viril, ele continua prisioneiro desse “cárcere privado” chamado “domínio materno”. Seu novo lugar de Outro não está assim tão longe do lugar da mãe.
Contudo, a passagem pelo “Fica Vivo!”, onde pode aproximar-se um pouco de sua posição subjetiva, não me pareceu dirigi-lo exatamente rumo a provável canalhice em que acabou envolvido. Sem dúvida, teria sido necessário sustentar ainda mais o processo de busca por sua posição subjetiva empreendido a partir de algumas intervenções do profissional desse Programa: para um sujeito tão esmagado por seus atos, fez-lhe falta localizar melhor sua relação com o que lhe “pintava”, aparecia “de repente... do nada”. Talvez também seu destino fosse ainda diferente se não tivesse que confrontar-se com a desistência do seu caso por parte da juíza... Se a autoridade judicial não deixa de ser, para muitos jovens tomados por atos violentos, um recurso diante da demissão experimentada por parte de seus pais, a desistência da juíza pode ter-lhe evocado o abandono do pai. Nessa repetição do que poderia lhe oferecer alguns parâmetros para seus atos, Wesley volta a insistir nesse modo malogrado de separação pela via da transgressão violenta. O fato de seguir nessa via provavelmente de modo mais organizado não o torna menos prisioneiro de um cárcere, ainda mais terrível. Trata-se de um cárcere sem dúvida muito mais dominado pela figura desse “senhor absoluto” chamado Morte e no qual Lacan nos ensinou a detectar os traços terríveis dessa máscara que a experiência psicanalítica encontra muitas vezes sob algumas formas da “imago materna”.
Notas
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Este texto vale-se de uma pesquisa empreendida em 2008 e 2009, com o apoio da Fundação de Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Programa de Pesquisa e Iniciação Científica (proPIC) da Universidade FUMEC (Fundação de Educação e Cultura do Estado de Minas Gerais). Ele é também o resultado de duas apresentações, realizadas em 25 de fevereiro e 13 de julho de 2011, graças aos convites feitos, respectivamente, pela Delegação da Cidade do México da Nueva Escuela Lacaniana (NEL-México) e pelo Mestrado de Psicanálise sustentado pelo Instituto Clínico de Buenos Aires (ICBA) na Universidad Nacional de San Martin. Assim, ao mesmo tempo retoma-se agora o que foi pesquisado, o que foi apresentado nessas duas exposições e se aproveita o que foi então discutido para dar lugar a um texto com algumas diferenças em relação as suas duas versões orais feitas na Cidade do México e em Buenos Aires. Trata-se, ainda, de uma oportunidade não só para, mais uma vez, agradecer os dois convites, mas também reconhecer como eles fizeram avançar as questões trabalhadas neste texto. Na Cidade do México, buscou-se desenvolver um tema importante para nossa atualidade e que poderia interessar a um público constituído não apenas por psicanalistas e que se faz presente nas atividades que a NEL-México organiza, com o apoio da Universidad Autónoma de la Ciudad del México no âmbito do Programa intitulado “Cultura, Direito e Psicanálise a partir das perspectivas dos movimentos Sociais do Século XXI”. A exposição no México contou com uma interessante apresentação inicial sustentada por Viviana Berger, focalizada em uma leitura sobre a violência urbana a partir da psicanálise de orientação lacaniana e destacou a psicanálise em extensão, mas não sem considerar a experiência psicanalítica proveniente da clínica. Em Buenos Aires, por sua vez, o ponto de partida foi o curso de Adela Fryd sobre “ninõs amos” (as “crianças-amos”), expressão com que essa psicanalista destaca o domínio que, particularmente em nossa atualidade, as crianças exercem em suas famílias e que é um resultado do efeito da fragilidade da função paterna e da presença avassaladora da mãe; portanto, em Buenos Aires, a exposição destacou a presença dos “ninõs amos” em situações caracterizadas pela violência urbana – embora essas situações sejam socialmente e economicamente muito diferentes dos exemplos clínico-psicanalíticos trabalhados por Adela Fryd, nota-se que elas também podem ser abordadas a partir do que a pesquisa científica empreendida nos anos 2008-2009 chamou de “demissão do pai” e “domínio materno”.
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Para Anna Freud, é interessante consultar suas considerações sobre “o mentir” e “o roubar”, assim como suas elaborações sobre os temas “Insociabilidade, delinquência, criminalidade como categorias de diagnóstico da infância”, “Deficiências da socialização” e “Transição dos modelos familiares aos modelos comunitários” em: FREUD, Anna. Infância normal e patológica (1965). Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976, p. 102-105, 147-162. Para uma perspectiva histórico-crítica da “educação psicanalítica” pretendida por Anna Freud, ver: HOUSSIER, F. Anna Freud et son école: creativité et controverses. Paris: Campagne Première/Un Parcours, 2010; LACADÉE, Philipe. Anna Freud et son école: une histoire mouvementée, inLa Cause freudienne. Paris, n.76, 2010, p.232-233. De Melanie Klein, minhas referências são os artigos “Tendências criminosas em crianças normais” (1927) e “Sobre a criminalidade” (1934), que podem ser encontrados em: KLEIN, Melanie. Amor, culpa e reparação e outros trabalhos (1921-1945). Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 197-213, 296-300. Finalmente, para a experiência pedagógica de Aichhorn iluminada a partir da psicanálise freudiana, há o livro: AICHHORN, August. Jeunes en souffrance (1925). Paris. Les Éditions du Champ social, 2000.
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Para a concepção lacaniana da “agressividade”, pode-se citar, entre muitas referências, especialmente: LACAN, Jacques. L’agressivité en psychanalyse (1948), inÉcrits. Paris:Seuil, 1966, p.101-124. Não menos importantes para o tema desenvolvido neste texto são: LACAN, J. Introduction théorique aux fonctions de la psychanalyse en criminologie (1951), in Écrits. Paris: Seuil, 1966, p.125-150; LACAN, J. Premisses à tout développement possible de la criminologie (1950), in Autres écrits. Paris: Seuil, 2001, p.121-126.
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Para a função constituinte da agressividade em relação ao outro, consultar os escritos de Lacan citados acima, na nota 2, dedicada a esse termo. A propósito das considerações mais tardias de Lacan sobre a linguagem, a segregação e o racismo, há elaborações importantes em “Alocução sobre as psicoses da criança” (1967), “Radiofonia” (l970), “Televisão” (1974), in LACAN, Jacques. Autres écrits. Paris: Seuil, 2001, p. 361-372, 403-448 e 509-546.
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Ao longo desta parte do texto e ainda depois dela, quando ditos do jovem Wesley ou intervenções relacionadas ao seu caso são citados, estarei seguindo um trabalho apresentado no dia 3 de agosto de 2007 no XV Encontro Internacional do Campo Freudiano e III Encontro Americano, por Bernardo Carneiro Micherif (relator), Ana Lydia Santiago, Bruna Albuquerque, Elaine Maciel e Marina Colares. Esse duplo Encontro aconteceu em Belo Horizonte de 3 a 5 de agosto de 2007. O título desse trabalho, que não foi publicado, é: “Liberdade, embora tardia ou da violência ao tratamento da dívida à mãe”.
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Para a noção de “transmissão de uma constituição subjetiva” valho-me de: LACAN, Jacques. “Note sur l´enfant” (1969), in Autres écrits Paris: Seuil, 2001, p.373-374.
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“Fica Vivo!” é um Programa sustentado pela Secretaria de Estado da Defesa Social do Estado de Minas Gerais, destinado ao controle de homicídios em lugares urbanos onde há um elevado índice de criminalidade. Seu nome convoca os jovens envolvidos com a violência urbana a não se enveredarem pelas soluções mortíferas da vida do crime, mas também se vale do uso que eles fazem do termo “vivo” para qualificar alguém que não faz bobagens e que, portanto, é “esperto”. Esse Programa, entre outros recursos, conta com oficinas, coordenadas por pessoas oriundas desses lugares e que já têm as habilidades que se pretende desenvolver nessas oficinas. Ao mesmo tempo, está articulado a profissionais vinculados aos campos do Direito, da Educação, da Psicologia e da Sociologia. Este Programa tem recebido muitas contribuições de psicanalistas de orientação lacaniana e vários profissionais que nele trabalham seguem as atividades promovidas, em Belo Horizonte, pela Seção Minas Gerais da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP-MG) e pelo Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais (IPSM-MG). Para um breve percurso nas propostas deste interessante Programa: FARIA, Ludimilla Féres. Uma política de transmissão a céu aberto, in Curinga, revista da Seção Minas Gerais da Escola Brasileira de Psicanálise, n. 22, junho de 2006, p. 183-187.
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Trata-se da pesquisa “A demissão do pai e o domínio materno: incidências sobre a violência urbana”, já evocada na nota introdutória deste texto. Ela se desenvolveu nos anos 2008 e 2009 e, em sua parte empírica, contou com os casos inscritos no PPCAAM, projeto sustentado pela Secretaria da Defesa Social do Estado de Minas Gerais. O recolhimento dos dados sobre esses casos foi feito por Marco Antônio Cunha Oliveira e Rosemary Maria Silveira Costa que, então, eram estudantes de Psicologia aprovados, sob minha coordenação, com bolsas, respectivamente, da Fundação de Apoio à Pesquisa no Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Programa de Pesquisa e Iniciação Científica (ProPIC) da Universidade FUMEC (Fundação de Educação e Cultura do Estado de Minas Gerais).
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A articulação entre a morte e o retorno a imago materna é preciosamente abordado nas considerações lacanianas sobre o “complexo do desmame“: LACAN, Jaques. Les complexes familaux dans la formation de l´individu (1938), in Autres écrits. Paris: Seuil, 2001, p. 30-36.
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Bernardo Mecherif Carneiro, relator do trabalho do qual pude extrair o caso de Wesley, foi também o profissional do “Fica Vivo!” que acompanhou então esse jovem. Gentilmente, ele me apresentou, em uma mensagem eletrônica, alguns dados sobre o destino de Wesley. Agradeço-lhe por essa gentileza.
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A partir da sociologia: ZALUAR, Alba. Nem líderes, nem heróis, in ZALUAR, Alba (org). Violência e educação. São Paulo: Cortez Editora, 1992, p. 19-35; ZALUAR, Alba. Teleguiados e chefes: juventude e crime, in RIZZINI ... [et allí]. A criança no Brasil hoje: desafios para o terceiro milênio. Rio de Janeiro: Editora Universitária Santa Úrsula, 1993, p.191-212. Para as experiências da ação lacaniana junto a jovens envolvidos em atos violentos, além dos dados obtidos na já mencionada pesquisa “A dimensão do pai e o domínio materno: incidências sobre a violência urbana”, cito a instigante tese de doutorado de Christiane da Mota Zeitoune, dirigida por Tania Coelho dos Santos: A clínica psicanalítica do ato infracional: os impasses da sexuação na adolescência. Tese do Programa de Pós-Graduação e Psicanálise. Rio de Janeiro: Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2010.
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LAMPEDUSA, Giuseppe Tomasi Di. O gattopardo (1955). Rio de Janeiro: Record, 2000. A frase literal dessa novela, pronunciada por Falconeri é a seguinte: “si vogliamo che tutto rimanga como è, bisogna che tutto cambi” (se queremos que tudo permaneça como está, é necessário que se mude tudo”).
Referências bibliográficas
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FREUD, S. (1933) Por que a guerra?, in Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1976, p.245-259.
LACAN, J. Kant avec Sade (1963), inÉcrits. Paris: Seuil, 1966, p.765-790.
LACAN, J. (1967)Proposition du 9 octobre sur le psychanalyste de l´École, inAutres écrits. Paris: Seuil, 2001.
LACAN, J. (1969) Note sur l´enfant, inAutres écrits. Paris: Seuil, 2001, p.373-374.
LACAN, J. Le séminaire, livre XVIII: l´envers de la psychanalyse (1969-1970). Paris: Seuil, 1991, p.68.
LACAN, J. (1977) Ouverture de la Section Clinique, inOrnicar? Bulletin périodique du Champ Freudien, n.9, avril 1977.
LACAN, J. (1980) Lettre au Journal Le Monde, inAnnuaire et textes statutaires. Paris: École de la Cause freudienne, 1982.
LAIA, S. (2010) A psicanálise aplicada à terapêutica e a política da psicanálise hoje, in Revista aSEPHallus, vol. V, n. 10, maio a outubro de 2010 (acesso em dezembro de 2010). Disponível em: http://www.nucleosephora.com/asephallus/numero_10/artigo_08_revista10.html
Citacão/Citation: LAIA, S. A violência enlouquecida de nossos tempos: considerações a partir da psicanálise de orientação lacaniana. Revista aSEPHallus, Rio de Janeiro, vol. VI, n. 11, nov. 2010 / abr. 2011.
Editor do artigo: Tania Coelho dos Santos.
Recebido/Received:19/01/2010 / 01/19/2010.
Aceito/Accepted: 25/04/2010 / 04/25/2010.
Copyright: © 2011 Associação Núcleo Sephora de Pesquisa sobre o moderno e o contemporâneo. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados/This is an open-access article, which permites unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the author and source are credited.
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