Haveria passe?1
Would there be a pass?
Jacques-Alain Miller

Psicanalista
Diretor do Departamento de Psicanálise / Universidade de Paris VIII
Membro da École de la Cause Freudienne
Fundador da Associação Mundial de Psicanálise
jam@lacanian.net

Resumo

No passe, o saber é talvez sempre suposto.É uma performance, não uma competência. São dois regimes distintos no passe, se ele é regido pelo saber ou pela verdade. O passe não se verifica no nível dos enunciados, mas no da enunciação. Trata-se de alcançar um dizer de passe que indicaria o advento do desejo do analista. O último dos Outros escritos de Lacan acentua mais a verdade que o saber, e mesmo a verdade mentirosa, ou seja, a ficção de passe. Antes, quando Lacan propunha o passe para nomear os analistas da Escola, ele aparecia como um fato. Há um deslocamento do fato de passe à ficção de passe. Por isso, neste último escrito, ele evoca, em vez de uma demonstração de saber, uma satisfação, uma experiência de satisfação. “Ficção de passe” não quer dizer que o passe não existe, mas que é mais da ordem da verdade que do saber.

Palavras-chave: psicanálise, passe, desejo do analista, analista da Escola, gozo.

 

Abstract

Within the pass, knowledge is probably always supposed. It is a performance, not a skill. The pass follows two different systems, whether it is governed by knowledge or truth. Pass is not verified by the statements, but through what is being stated. It is about reaching a form of stating the pass that would indicate the rise of the desire of the analyst. The last of Lacan’s Autres Écrits accents truth over knowledge and even privileges the lying truth, also known as, fiction of pass. In the past, when Lacan proposed pass as a mechanism of naming the AEs, it appeared as a fact. A change can be perceived in switching from fiction of pass to fact of pass. Therefore, in the last writing, he evokes, instead of a demonstration of knowledge, a satisfaction, an experience of satisfaction. “Pass fiction” does not mean that pass does not exist, means it is more of a truth than of a knowledge.

Keywords: psychoanalysis, pass, desire of the analyst, AE, enjoyment.


Prefiro falar sentado para manter o caráter de conversação de minha proposição e sublinhar que eu não profiro uma teoria – tal como a “Teoria de Turin sobre o sujeito da Escola”2, à qual se referia Bernard Seynhaeve – pois esta não me pareceria apropriada a este momento que é o começo de uma nova experiência.

Propulsão ou retenção

Seria um passe? É a questão diante da qual me reencontrei quinze ou vinte anos após ter sido convidado, antes de optar por uma decisão, ao mesmo lugar - no seio de uma coletividade - para debater esta questão: é um passe, ou não?. A resposta afirmativa a esta questão leva imediatamente a um julgamento propulsivo. Nas circunstâncias atuais, o passante adquire uma notoriedade instantânea. Se o secretariado demora um ou dois dias para transmitir a decisão porque, por exemplo, não consegue imediatamente encontrar um AE nomeado, nos inquietamos: - “o que se passa?”. Há um efeito propulsivo instantâneo da resposta sim. O discurso, até então confidencial, se torna público e, se pode dizer que com o sim, a cena se abre para o mundo, para o nosso mundinho em todo caso. Delibera-se “às avessas”3, nos subterrâneos da École de La Cause Freudienne, no sub-solo da rua Huysmans – na sala da biblioteca - conclui-se por um sim e isto se propaga nos quatro cantos do mundo. É muito singular.

Tanto o sim é propulsivo, quanto o não é retensivo: retém-se o discurso. O foguete é desmontado e não saímos do lugar. Eu testemunho assim a minha impressão, a minha emoção de retomar este lugar nesta comissão que é verdadeiramente um júri4 – é assim que Lacan a chamava – que delibera entre o propulsivo e o retensivo. Nós podemos fazer soar os instrumentos5 ou despedir a orquestra.

Tenho o sentimento – compartilhado, talvez, pelos outros colegas – que isto é novo e é devido à existência de uma Escola Una, que é realmente uma câmara de eco, de écho-le6; também é devido, sem dúvida, à existência da internet, que abole a distância entre o momento em que se vai dizer sim aos propósitos muito íntimos que nos são relatados, e a propagação quase universal desse sim.

À certeza antecipada, performance incerta

Voltar ao júri do passe é, portanto, se reencontrar, como Serge Cottet evocava, na posição de juiz, posição que exige uma decisão que responda a questão: haveria um passe?

É uma decisão que um analista não tem que tomar na sua prática. O analisante que cogita fazer o passe, marca uma certa independência de seu analista, que começa antes mesmo de sua decisão de se apresentar ao passe. Na ocasião, ele consulta seu analista, que pode tentar retê-lo, ou deixá-lo fazer, mas que não tem a última palavra. Em todo caso - face à questão: haveria passe? - o analista do passante cuja análise ainda está em andamento é bastante desprovido, ele pode responder apenas talvez. Ora, talvez, não é uma decisão. Eu percebo a que ponto eu fiquei tranquilo por quinze ou vinte anos sem ter que ir mais longe que um talvez. Ser colocado na posição de dever dizer sim ou não, muda alguma coisa. Com o talvez, o analista deixa o analisante tentar sua sorte, isso, levar em conta os casos em que o analisante se precipita no passe sem lhe demandar sua opinião ou, até, contra a sua opinião.

Parece-me que, na prática, o analista não julga o passe e, menos ainda, quando este é uma performance, não uma competência. Digo com segurança, no tom da conversação, mas é uma referência a Lacan. Enunciar “o passe é uma performance, não uma competência” tem muitas consequências. Quer dizer primeiramente que, no dia programado, é necessário estar bem disposto. O passe não é um recorde! É muito mais os Jogos Olímpicos.

Do lado do passante, seja qual for o grau de sua certeza ao apresentar-se, trata-se sempre de uma certeza antecipada e, se ela é razoável – o que não é sempre o caso –, há, necessariamente, para ele uma incerteza quanto à sua performance no dia programado, posto que muitos fatores e parâmetros entram em jogo: a qualidade dos passadores, sua adequação ao passante, a composição do júri, etc. Estamos portanto, necessariamente, em uma incerteza, visto que o passe não verifica a competência. É uma performance. Na “certeza antecipada”, é preciso acrescentar um aspecto, não eliminável para o passante, a saber, a aposta do passe, aposta que nunca se está certo de ganhar.

Há portanto uma aposta do passe que consiste em colocar em jogo sua análise, quer dizer reuni-la como uma unidade, fechá-la como una, e fazer dela uma coisa no sentido da aposta de Pascal – onde o sujeito faz de sua vida um aposta, a qual, como sublinha Lacan, já está sempre perdida: esforça-se para fazer de sua própria análise um objeto pequeno a, sob a forma do agalma, a fim de que todo mundo reconheça o seu brilho e exclame: “está lindo, é novo”, e mesmo “é um golpe no saber”, como Esthela Solano-Suárez acaba de formulá-lo. Tenta-se fazer de sua análise um agalma. Eis, finalmente, o que comanda o passe.

Poder-se-ia sustentar que o passe tem a mesma estrutura que o discurso do analista: o que domina a coisa é a análise tomada como um agalma; os passadores estão do lado do sujeito barrado que deve ser comovido pelo dito agalma; são a “placa sensível”7 – a fórmula foi relembrada – desta análise agalmática, cujo produto suposto, esperado, é o S1 do título AE. Reencontramos então as funções do discurso do analista, se seguirmos às cegas estas formas, é notável que o saber que – pelo menos no esquema – suporta este agalma é um saber suposto, não um saber exposto.

Se há fracasso no passe, é porque o que se apresentou como sendo agalma tornou-se palea; resta que este pequeno a do passe é um produto do fechamento da análise como una, que não se encontra no curso da análise.

Do “saber” de passe a uma satisfação

No passe, o saber é talvez sempre suposto. Relembrar que é uma performance e não uma competência me leva a pensar que há, da mesma forma, dois regimes distintos no passe, se este último é regido pelo saber ou pela verdade.

Há aí uma ambiguidade, pois o projeto inicial de Lacan, em 1967, se referia à elaboração de um saber de passe ao qual ele dava um aspecto quase enciclopédico: ia-se marcar os efeitos, seriar as modalidades – um parágrafo é consagrado a este ponto na “Proposição...” de 1967, ao qual nós atribuíamos grande importância nos primórdios da École de la Cause freudienne.

Entretanto, de fato, entre 1967 e 1980, a aplicação do passe na École Freudienne de Paris não provocou nenhuma elaboração de saber. O balanço foi quase nulo e Lacan o ratificou dizendo que o passe era um “fiasco”8, o que se tomou no seu sentido literal; na ausência da acumulação de um saber de passe, podia-se apenas emprestar-lhe consequências.

Então, sobre esta base, na École Freudienne de Paris, procedeu-se de outra maneira. Fizemos um forçamento no sentido do saber de passe, dizendo: “já que um saber do passe era esperado e que todo mundo fez greve durante treze anos – era esse o caso dos caciques da EFP –, nós, nós vamos passar à produção”. Instituímos por isso nesta Escola uma obrigação de produzir e de ensinar se apoiando sobre o AE e sobre o júri. Periodicamente, esta Escola era, ou é ainda, movida pelo desejo de estender igualmente esta obrigação aos passadores, e mesmo aos analistas que os nomeiam e, eventualmente, aos passantes não nomeados. Todo mundo na produção! Considerando seu ponto de partida de “tomar o avesso”, esta Escola era animada de uma verdadeira paixão da produção. Era produzir, produzir, produzir – Maurice Thorez após a Segunda Guerra mundial.

Mais adiante, no curso dos debates do início deste ano, notou-se com surpresa, com estupefação, que o júri do passe, os cartéis do passe tinham parado de ensinar, ainda que esta obrigação figure nos estatutos do ECF.

Ficamos admirados com o fato de que se viole desse modo a constituição da Escola e que os cartéis caiam numa espécie de afasia, mas, uma vez passado o tempo da censura, diz-se que é talvez um sinal dos tempos, um sinal de que houve um deslizamento do saber de passe à verdade de passe - eu falo do meu estado de espírito, eu não professo, eu não profiro, eu me interrogo.

Meu estado de espírito, regressando ao júri do passe, é que o passe não se verifica no nível dos enunciados – aliás, meus colegas notaram, eu parei de tomar notas –, mas ao nível da enunciação. Trata-se antes de alcançar um dizer de passe que indicaria que o desejo do analista adveio. Afinal, o último dos Outros escritos de Lacan coloca mais o acento sobre a verdade do que sobre o saber, e mesmo sobre a verdade mentirosa, ou seja, sobre a ficção de passe, enquanto que primeiramente, quando Lacan propunha o procedimento do passe para nomear os analistas da Escola, o passe aparecia antes como um fato. Há, pois, um deslocamento do fato de passe à ficção de passe. Por isso, neste último escrito ele evoca, em vez de uma demonstração de saber, uma satisfação, uma experiência de satisfação. “Ficção de passe” não quer dizer que o passe não existe, mas que ele é da ordem da verdade antes que do saber.

Se eu não tomo notas – por enquanto, em todo caso, constatei que se eu não era levado a fazê-lo –, é porque eu me pergunto se isso que se chama correntemente “a clinica do passe”, é algo que não está completamente ao alcance de um analista, já que ela não é a clínica tal como ela se elabora quando você é analista e que você trabalha a partir do tratamento que você dirige e não, especialmente, uma clinica do passe.

Assim, uma clínica do passe não está ao alcance do analista ouvir, logo, só se pode ouvir no passe. O que não está ao alcance do analista ouvir quando ele dirige um tratamento? É, precisamente, a báscula da enunciação, quando o analisante vai se pôr a falar a um outro diferente dele, do analista e a uma coletividade. A isso, o analista não tem acesso. É, aliás, frustrante, na ocasião; eu posso dizê-lo, já que no funcionamento que nós adotamos, acontece que o analista do passante não se dirige ao júri, ainda que ele faça parte. Isso aconteceu comigo e eu estava evidentemente muito frustrado de não poder, através do grupo, ouvir o que eu não tinha podido ouvir na análise. Por isso eu pedi à Catherine Lazarus-Matet para me fornecer muito brevemente um pequeno eco, assim... Lacan não se constrangia: ele estava no cartel e ele podia assim ter acesso a isso que não se tem acesso na análise. É isso, me parece, que explica que - mais de quarenta anos depois - o passe continua sendo um x, um desconhecido e que, de qualquer modo, só pode haver passe se ele continua um sendo um x.

O passe é sua interpretação

O passe é, portanto, sua interpretação e, acima de tudo, pelo passante. É este o conceito: não é um conteúdo, não são os enunciados. Se houvesse o saber, haveria o saber conforme. Isso que você não pode esconder no passe, quando você o faz, é a maneira pela qual você, você interpreta o passe. Como Serge Cottet evocou, é a maneira pela qual, falando de uma maneira responsável, você dá consistência ao testemunho.

Alguns interpretam o passe no sentido do condensado que devem fornecer de seus percursos. Para outros, pode ser uma exposição expansiva com uma cronologia ordenada, ou ainda pontilhada, ao contrário. Alguns derivam sua incidência da brevidade, do laconismo. Outros, alcançam uma incidência pela abundância. Certos passantes trazem sua construção e outros, não; às vezes, é um passador que faz a construção no lugar do passante, e se o passador não o faz, é o júri que o faz.

Há tantos passes quanto interpretações de passe pelo passante e, ao mesmo tempo em que este interpreta o passe, ele interpreta muitas outras coisas também: ele interpreta o conceito do inconsciente para ele, o conceito de desejo, o conceito de fantasma... é isto que, precisamente, dá uma indicação sobre o desejo do analista.

Nas novas condições que nós estamos, tais como eu as vejo evidenciadas em minha experiência, eu tinha distinguido outrora9 – foi lembrado por Patrícia Bosquin-Caroz, eu creio – o passe 1, o passe 2, o passe 3. O passe 1 é o passe na análise, quando se ultrapassou alguma coisa na sua análise. O passe 2 é o procedimento, e o passe 3 é este que se faz diante do público. Eu ordenava isto de maneira sucessiva.

Isto continua, me parece, exato, não fosse o fato de que vejo uma complicação no passe 2, o procedimento, pois ele comporta, evidentemente, uma retroação sobre o passe 1. A perspectiva de fazer o passe, a perspectiva do passe 2, tem uma incidência sobre a análise do analisante que se pode verificar e, no momento em que esta idéia, que o espírito do passe lhe ocorre, se produz portanto uma certa alteração, um certo desvio na análise ela mesma.

Enfim, há também uma retroação do passe 3 sobre o passe 2, para o júri, uma vez que este sabe que sua resposta vai ser propulsiva e que ele não pode apreciar apenas o passe 1, a análise do passante. Ele é obrigado a pensar também no passe 3. Lacan tinha fornecido a definição do AE dizendo que ele podia testemunhar sobre os problemas cruciais da psicanálise, etc., mas não tinha inscrito nenhuma obrigação. A ECF procedeu por um forçamento, que deu lugar à observação memorável de Catherine Lazarus-Matet, segundo a qual esta obrigação constituía apesar de tudo uma espécie de padrão.

Mais-além de alçar ao estrelato (starification)

Qual é este padrão? Eu vou lhe dar um nome muito comum, é “estrelizar” o passante (nota da tradução: o substantivo utilizado pelo autor aqui – starification – é comum na França atual). No tempo de Lacan havia uma  nomeação definitiva do AE sem outra exigência. Na ECF, como era uma nomeação transitória, acrescentou-se o trabalho, de modo que a questão “haveria passe?” se tornou “vamos selecionar este passante para ser uma estrela da psicanálise?”.

Há, no fundo, uma pequena tendência de que o júri do passe seja como o de uma audição ou de um casting, na medida em que ele não leva em conta somente o passe 1, mas também o passe 3, no interesse da Escola, da Escola Una, do Campo freudiano, no interesse superior da psicanálise... Este fator, é necessário dizer, é um pouco embaraçoso, pois, como resultado, há também uma retroação do passe 3 sobre o passe 1. Há como uma obrigação de ter o desejo de falar, o desejo de trabalhar. Eu diria até que seria necessário que uma análise leve ao desejo de se exibir, quer dizer que o passe tem alguma coisa do desejo do ator.

Nós tivemos testemunhos em que certos desejos que emergem e encontram sua verdade na análise são de um tipo completamente diferente. Por exemplo, o desejo de ficar oculto, de ficar discreto, etc. O que se faz nestes casos? Este desejo pode eventualmente se articular de uma maneira tal que não que não nos sentimos seguros para assumir a responsabilidade de alçar ao estrelato (starifier) aquele que é animado por este desejo. Portanto, o passe 3 tem uma incidência maior sobre o passe 2 e eventualmente sobre o passe 1.

Apesar destes impasses, destas dificuldades e destes paradoxos, o passe permanece indispensável. Primeiramente, ele assegura uma presença da instituição nas análises. Nas sociedades da IPA, esta presença é assegurada por uma ordem hierárquica complexa, pela nomeação de titulares, pela padronização  da duração das sessões, pelos controles e as autorizações, etc...; uma ordem muito potente enquadra os analistas. Tal não é absolutamente o caso para os lacanianos, onde a análise é deixada ao sabor de um grande arbitrário, sem este aparelho de controle. O que funciona como o único aparelho de controle potencial é o passe, não como um direito à vigilância, mas como a garantia de que, em todo caso, há um mais-além da sua análise; você pode verificá-lo, e será a ocasião de converter a série de sessões, a sucessão de sessões que constitui a sua análise, em um conjunto.

Este mais-além da análise é sempre ameaçado de ser um Outro do Outro. É assim, em todo caso, para a instituição IPA que é construída como um Outro completo, enquanto que na ECF, é completamente essencial que o júri do passe se apresente como animado de uma certa paixão de ignorância. É necessário que ele se apresente como surpresa. É necessário que ele se apresente como seu próprio furo no saber, como um furo no seu próprio saber, se eu posso dizer, já que o passe é também o júri ao qual se endereça. Se o Outro do passe se colocava do lado do saber do passe, se ele se colocava como um clínico geral, como armado de referências já adquiridas, isto torna o passe muito difícil. É necessário que o júri do passe aceda ao seu próprio desnudamento, que ele aceite e mesmo o manifeste. É necessário que ele se exponha como desprovido e, eu diria mesmo, um pouco confuso. É, aliás, isso nós conseguimos fazer muito bem: se nós juntarmos todos os nossos discursos, realmente, não entramos em acordo! O passe é, portanto, também sua interpretação pelo júri.

Ora, através de suas fendas, seus momentos, seus ciclos, o passe resiste há mais de quarenta anos. Basta considerar o que produziria o desaparecimento do passe para querer preservá-lo. Se não houvesse mais o passe, poder-se-ia dizer que seria um atentado contra a imagem de uma análise. Ter-se-ia a imagem de uma análise fragmentada, sem alma, se assim posso dizer, no sentido aristotélico, uma análise da qual não se poderia fazer a soma e que estaria à deriva. Assim, através de suas dificuldades, através de nossa própria desorientação é preciso que ele continue, apesar disso, e nós não devemos almejar que ele se aperfeiçoe mais além de nossos meios.

Tradução: Tania Coelho dos Santos e Flávia Lana Garcia de Oliveira.

Notas

  1. Título original do texto: “Est-ce passe?”. Publicado na revista La Cause Freudienne, numero 75 (Paris: Ed. Navarin, julho / 2010).
  2. Intervenção pronunciada na ocasião da jornada da ECF intitulada A coisa julgada (11 de abril de 2010, Maison de La Mutualité, Paris). Transcrição: Michel Héraud. Edição: Nathalie Georges-Lambrichs e Pascali Fari. Não relida pelo autor.
  3. Referência à exposição de Pauline Prost, publicada neste mesmo número 75 da revista La Cause Freudienne, p. 90-91.
  4. N.T.: O termo Jury é usado, em francês, também com o sentido de banca e não apenas no sentido jurídico, como fazemos em português. Convém ter em mente essa dualidade. Neste artigo eu penso que o mais apropriado é aproximar o júri do dispositivo do passe do júri de um programa de auditório.
  5. NT.: A expressão é “dechaîner les grandes orghes”.
  6. N.T.: No francês écho-le e École (Escola) têm a mesma pronúncia.
  7. Encontramos a expressão “placa sensível” a propósito do escravo do Ménon de Platão em Lacan J., O Seminário, livro XV: O ato psicanalítico, lição de 29 de novembro de 1967, inédito.
  8. Cf. Lacan J. “Conclusion des Assises de l’ EFP sur l’experience de la passe”, Deauville, janeiro 1978, in Lettres de l’EFP, 1978, nº 23, p. 181; cf. também Lacan J., “Conclusions , intervention dans le IX Congrès de l’EFP sur la transmission”, in Lettres de l’EFP, nº 25, junho / 1979, p. 219.
  9. Cf. Miller J.-A., “La passe bis”, in La Cause freudienne, nº 66, Paris: Navarin, maio / 2007, p. 209-213.

Recebido em 13/03/2009. Aceito em 25/04/2009.
Received in 03/13/2009. Accepted in 04/25/2009.