O analista na cidade: impasses e enlaces entre psicanálise pura e psicanálise aplicada*
The analyst in the city: impasses and linkages between pure psychoanalysis and applied psychoanalysis*


Douglas Nunes Abreu
Psicanalista
Doutorando em Teoria Psicanalítica (UFRJ)
Membro Diretor de Ensino e Pesquisa do ISEPOL/Sephora
Professor do Curso de Especialização em Psicanálise: Subjetividade e cultura (UFJF)
Coordenador de Saúde Mental e de CAPS
Diretor Técnico do CAIA, COOPSAM e CasaViva
dnabreu@uol.com.br

Resumo

O presente artigo recolhe na experiência do autor algumas indicações acerca dos impasses entre a psicanálise e a presença do analista no campo da saúde mental, tecendo os enlaces entre a psicanálise pura e a psicanálise aplicada. O modelo topológico da banda de Moebius é proposto como estrutura que comporta a doutrina da psicanálise e sua prática, tendo no corte operado pelo ato psicanalítico a emergência contingencial do caso único. Argumentamos a favor da retomada da política de formação do analista, em detrimento do foco nos dispositivos, como orientação para o saber fazer do psicanalista na cidade.

Palavras-chave: psicanálise pura e aplicada, saúde mental, banda de Moebius, ato psicanalítico, formação do analista.

 

Abstract

This paper outlines in the author's experience some indication around the impasse between psychoanalysis and the analyst’s presence in the mental health field, creating linkages between pure psychoanalysis and applied psychoanalysis. The topological model of the Moebius band is proposed as a structure that embraces the doctrine and the psychoanalysis practice, existing in the cut operated by the psychoanalytical action the emergency contingency of the single case. We argue in favor of the analyst’s development policy resumption instead of focusing on devices such as guidance for the analyst’s know-how in the city.

Key words: pure psychoanalysis, applied psychoanalysis, mental health, Moebius band, psychoanalytic action, analyst's development.

 

“Não se pode falar senão de sua própria experiência” (Coelho dos Santos, 2009/2009, p.83). Esse aforismo, que introduz a intervenção de Tania Coelho dos Santos sobre a afinidade de estrutura entre a produção de uma tese de doutorado em psicanálise e a experiência analítica do pesquisador, marca a lógica deste artigo. Não é nossa intenção desenvolver proposta tão particular à autora em questão, muito menos articular nossa pesquisa ao inacabado percurso enquanto analisando. O que nos cabe aqui é expor, a partir de nossa experiência e de nossas incidências na polis, os impasses do encontro da psicanálise com o campo da saúde mental1 para, ao final, sustentar a tese do entrelaçamento moebiano entre a psicanálise pura e a psicanálise aplicada, o ato analítico em função de corte, como vias de propor a inserção do psicanalista na cidade.

Entusiasmo é o termo que destacamos para apresentar nosso percurso como analista na cidade. A orientação psicanalítica norteou nossas primeiras experiências de trabalho em instituições de saúde mental. Primeiro no CAPS2 e, em seguida, em uma ONG3 voltada ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade (Abreu, 2008/2008). Um texto serviu de referência para incidência analítica nessas instituições: O analista cidadão (Laurent, 1999/1999). O termo proposto por Éric Laurent foi interpretado por nós, em certa medida, como um ideal da práxis psicanalítica na polis, incorporando uma crítica à posição dos analistas ocupados, em sua maioria, da psicanálise em consultório particular, standard. Naquele momento, um sentimento de reconhecimento e inserção de nossa prática, enquanto analista em prol da cidade, encheu-nos de entusiasmo, estabelecendo uma cisão entre psicanálise aplicada e psicanálise pura.

Na condição de docente do Curso de Pós-Graduação em Psicanálise: Subjetividade e Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e de responsável pela orientação de monografias de conclusão de curso na linha de pesquisa Psicanálise e Cidade, acolhemos projetos monográficos com temas relativos à intervenção do psicanalista nas mais diversas instituições públicas: educacionais, prisionais, de saúde mental, de saúde coletiva, de assistência social, dentre outras. Os proponentes constituíam-se de jovens trabalhadores decididos quanto à escolha pela psicanálise como orientação de sua práxis em empregos recém adquiridos. As indagações acerca do fazer do psicanalista se apresentavam em cada encontro de orientação monográfica, como nas aulas teóricas do curso, demonstrando o crescente interesse por produções acadêmicas e de demandas clínicas em psicanálise aplicada. O entusiasmo, ali, expresso pode ser representado na intervenção de um discente que trabalha em instituição pública de saúde mental: “Estou muito feliz por poder ser um psicanalista útil ao social, por poder contribuir para a cidade. Eu sempre quis ser psicanalista, mas não queria ficar apenas no meu consultório particular, queria trabalhar também no serviço público, na saúde mental, com as pessoas carentes que precisam de nós.”

Esse relato, ingênuo, representa o entusiasmo inesperado que parece ter ganhado força entre os analistas que passaram a preocupar-se com a utilidade pública da psicanálise (Laurent, 2007/2007). Jacques-Alain Miller desenvolveu o tema do entusiasmo por ocasião de uma série de entrevistas que visavam à avaliação dos efeitos da implantação dos CPCT’s (Centros psicanalíticos de consulta e tratamento)4 e das instituições de psicanálise aplicada ligadas às Escolas do Campo Freudiano destinadas, originalmente em caráter de pesquisa, a oferecer gratuitamente, ou por subvenção social, o dispositivo psicanalítico a populações de pouco acesso ao tratamento tradicional. Esse texto alerta para o “entusiasmo inesperado” que tomou conta dos analistas, instalando-se o que foi denominado de “nova aliança com o tempo presente”, como se finalmente o psicanalista tivesse encontrado seu lugar no mundo. Nas últimas décadas, o número de analistas intervindo em instituições públicas orientadas pela psicanálise aplicada sofreu uma grande expansão, configurando praticamente uma epidemia (Miller, 2007/2008). Em contrapartida, o interesse pela psicanálise pura perdeu seu lugar, ficando a política do passe e a formação do psicanalista relegadas a um segundo plano.

A ampliação do interesse pela psicanálise aplicada é correlata à voz imperativa das políticas de controle pelo estado sobre as práticas psi5, onde um dos “impossíveis freudianos” – psicanalisar6 – ganha nova roupagem em tempos de política do bem-estar, welfare. Os analistas não ficaram imunes aos discursos predominantes na atualidade anunciados por Lacan num programa de televisão em 1973, a saber, o discurso do capitalista e o discurso da ciência (Lacan, 1973a/2003). O primeiro subverte o discurso do mestre e engendra a lógica do consumo. O segundo, cuja estrutura se aproxima do discurso da histérica, também o subverte através do utilitarismo e do pragmatismo opaco de estatísticas acéfalas que determinam a palavra de ordem para o campo psicanalítico – curem! Trata-se da era das avaliações (Miller, 2008/2008; Miller et Milner, 2006/2006).

Esta impostura conduziu o analista cada vez mais para fora de sua política - a política do sintoma (Lacan, 1969-1970/1992). A psicanálise localiza a verdade, sempre mentirosa, como efeito de uma experiência, decorrente dos traços mais singulares do caso clínico. Aposta no ineditismo constante do ato analítico e toma como índice de final da análise a satisfação pulsional presente no gozo autista do sinthoma7. A política dos resultados terapêuticos proporciona, ao contrário, homogeneização sintomática, padronização das terapêuticas e, consequentemente, dos resultados esperados, sempre prét-à-porter.

Jacques-Alain Miller aponta que o destino da psicanálise na atualidade aproxima-se do da poesia, estando as duas doentes.8 Efeito da contemporaneidade, que ele denomina de “Megera Modernidade”. Megera é uma Deusa violenta, uma Erínia, que tem aversão pela falha, pelo furo, acusando aos gritos dia e noite a insuportabilidade diante dos equívocos que a contingência emana. Para Miller, a “Megera Modernidade” é uma nova inquisição aos poetas, ou do que resta deles, faz o mesmo com os psicanalistas, diz-nos (Miller, 2003/2005). Recentemente um representante da TCC9 anunciou, em alto e bom tom, durante um congresso que “sua modalidade terapêutica vinha sendo muito bem aceita no mercado”. É o que a ciência pede aos psicanalistas na sociedade do consumo: uma utilidade direta visando resultados garantidos e imediatos, reabilitando o sujeito aos auspícios do discurso do mestre contemporâneo. A psicanálise como fenômeno da civilização vem sendo calibrada em função de seus resultados terapêuticos, psicanálise voltada aos seus fins limpos, fins de utilidade e governança (Miller, 2008-2009). A base de sustentação da interferência do modo de funcionamento contemporâneo na psicanálise pode ser localizada nas ações do Estado que atrelam a psicanálise à saúde mental, como observa Milner ao comentar a emenda Accoyer (Miller et Milner, 2006/2006). Entretanto, esses são campos distintos, cujo encontro faz emergir impasses essenciais para nossa argumentação sobre os possíveis enlaces entre a psicanálise pura e a aplicada.

Para Luiz Tundanca (2006/2006) existe uma diferenciação entre espaço, lugar e campo. O primeiro se define como sítio/terra, espaço de cada um, das lutas e disputas, prevendo operações de exclusão e substituição, não definindo para o sujeito o seu lugar no mundo. Já lugar estaria ligado ao social e ao político, diz respeito ao múltiplo, aos laços e leis que localizam um sujeito na coletividade. Finalmente campo representa, para esse autor, intercessão e conflito no encontro do um com múltiplo. A saúde mental tem como espaços as instituições públicas ou privadas (mesmo assim regidas pelo público), tais como CAPS, Hospitais, Clínicas, PSF, Residências Terapêuticas, dentre tantas outras organizações institucionais de acolhimento e tratamento que funcionam como dispositivos de localização. Como referentes de lugar, baseiam-se em Leis, Portarias, Conselhos de Classe, dentre outros mecanismos de identificação. Quanto à definição de campo, podemos definir como política do ajustamento. Ao contrário, a psicanálise traz como espaço a fala e a linguagem, como lugar a dinâmica transferencial e como campo a política do sinthoma, perspectiva ética da psicanálise. Para Lacan, o inconsciente é a política e dele decorre a estrutura lógica que na sua face dupla acrescenta saber ao real e faz incidir a psicanálise na política (Lacan, 1966-1967; 1969-1970/1992).

Quanto aos operadores destes dois campos, encontramos a distinção em Jacques Lacan no texto “Televisão” (1973a/2003). Ele coloca em planos distintos os trabalhadores de saúde mental e os psicanalistas. Afirma que os trabalhadores de saúde mental, ao se dedicarem ao suposto aguentar as misérias do mundo, adentravam ao discurso que os condicionava fazendo referência à subversão do discurso do mestre em sua vertente capitalista, colaborando para a manutenção do status quo. Caberia ao psicanalista uma posição de denúncia do atrelamento deste discurso ao discurso da ciência na contemporaneidade e de seus efeitos na vida (Lacan, 1973a/2003). Com Lacan, Jacques-Alain Miller é categórico em afirmar que o psicanalista não é um trabalhador de saúde mental, ou seja, um agente contra a perturbação da ordem pública (Miller, 1989/1997).
As concepções de saúde para a saúde mental e para a psicanálise também são distintas. A concepção da primeira tem como objetivo reintegrar o indivíduo à comunidade social.


Se existem normas biológicas, é porque a vida, sendo não apenas submissão ao meio, mas também instituição de seu meio próprio, estabelece, por isso mesmo, valores, não apenas no meio, mas também no próprio organismo. É o que chamamos normatividade biológica (Canguilhem, 1966/2009, p.175).

A saúde mental acredita na lógica do todo (A), ficando implícita a noção de responsabilidade social (reabilitação do psico-ao-social): ideal de sujeito para o qual o real cessaria de ser insuportável. Gozar de boa saúde mental é poder andar pelas ruas sem ser atropelado no caótico sistema de trânsito atual, sair de casa e depois voltar sem perder-se no emaranhado contemporâneo das grandes cidades, saber utilizar corretamente a medicação prescrita pelo médico e engordar as estatísticas que indicam boa qualidade de vida (Miller, 1999/1999). Esse ponto de partida só faz a erupção maciça dos distúrbios e maus funcionamentos mentais. Basta conferir a crescente demanda de atenção à saúde mental pelas antigas e novas manifestações – transtornos alimentares, toxicomanias, depressões, etc. O critério da saúde mental é o conceito de adaptação: resposta universal ao mal-estar na civilização, balizada pelos manuais de psiquiatria – DSM-4/CID-10.

Para a psicanálise não existe saúde mental, visto que ela parte da lógica do não todo () e engendra a noção de responsabilidade sexual. Lacan chegou a afirmar que todo mundo é louco, delirante (Lacan, 1978/1978, p.278). “A fórmula todo mundo é louco é um princípio, que afirma ser radical a inadequação do real e do mental [...]. Ao contrário do que o otimismo governamental professa, não há saúde mental” (Miller, 2008-2009). O que interessa ao campo da psicanálise são as modalidades de resposta ao real (em sua vertente estrutural, tipológica e de modo de gozar). Diante da impossibilidade da representação de um saber verdadeiro sobre a sexualidade humana, cabe a cada sujeito localizar a verdade mentirosa, o meio-dizer, único, singular, delirante e herege, de cada caso único. Assim, falar em saúde mental torna-se cômico só podendo vir a ser tomada pela via da inserção social, vertente que nos aproxima do campo das psicoterapias (Miller, 1989/1997).

Lacan afirmava o risco que nossa ação comporta: de aperfeiçoar este laço, de nossa posição ser utilizada a serviço do mestre contemporâneo quando articulada à função terapêutica (Lacan, 1973a/2003). A orientação da psicanálise é inversa às psicoterapias, toma seu discurso ao avesso, pois não sustenta a via do ideal, da norma e do ajustamento, mesmo que sua prática oriente uma terapêutica. É contrária à sugestão ou ao sentido, visa o gozo e a fantasia, toca o campo das pulsões e se dirige ao real (Abreu, 2007/2007). Jacques-Alain Miller, a partir do grafo do desejo que Lacan trabalha no texto “Subversão do sujeito e a dialética do desejo” (1960/1998), localiza as psicoterapias no andar inferior do grafo e a psicanálise no andar superior, inaugurado pelo desejo do analista que situa a causa do desejo diante da castração (Miller, 2001/2001). Em “Variantes do tratamento padrão” (1955/1998), Lacan lembra que a psicanálise não é uma terapêutica como as outras sustentando que as variações de seu uso não implicam variação em sua ética, alertando, com Sigmund Freud (1915), para o risco do furor sanandi, definindo aqui o analista a partir de seu ato (Lacan, 1955/1998).

O termo ato analítico tem a força de ser aquele que concerne ao fazer do psicanalista, ao seu saber fazer10, indo além da nomeação da função, além do estabelecimento da sessão, seja aos moldes da psicanálise pura ou aplicada, no consultório ou na instituição, só ou entre vários. Entendemos, com Lacan, que o ato analítico é uma ação que dispensa a prescrição, deslocando a questão dos standards, do setting ou dos dispositivos de atenção (Lacan, 1967/2003). Como Miller aponta, não depende do terreno nem da natureza da clientela, mas da experiência da qual ele se engajou, prevalecendo os termos lacanianos de ato analítico, discurso analítico e o final de análise como referência para pensar a psicanálise como instalação portátil e o analista como objeto nômade, permitindo localizar sua práxis no campo institucional (Miller, 2008/2008). Retomaremos esse tema mais adiante. Por hora, vamos localizar o percurso desta discussão.

Desde Freud, os temas do futuro da psicanálise e da sua aplicabilidade foram do campo original de sua invenção, que se encontram presentes em várias passagens, como nos textos: “As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica” (1910/1996), “Linhas de Progresso da Terapia Psicanalítica” (1918/1996) e “Conferência XXXIV – Explicações, aplicações e orientações” (1932/1996). Diante da preocupação da função da psicanálise frente ao progresso científico, Freud aponta para os benefícios que o avanço da aplicabilidade da psicanálise poderia proporcionar em pessoas na condição de desamparo intenso, para a massa da população e camadas sociais em condições de alta vulnerabilidade, indicando ainda que o progresso da teoria psicanalítica faria surgir instituições onde o analista estaria presente em sua prática clínica. Freud antecipava a cautela necessária diante do amplo processo, que seria inaugurado, de revisão da técnica psicanalítica, a fim de adaptá-la às novas condições e demandas para não fundirmos o ouro da regra fundamental, a associação livre, com o cobre da sugestão direta. Não hesitou também em afirmar que os ingredientes mais efetivos e importantes continuariam a ser fornecidos a partir da psicanálise estrita.

Jacques Lacan sempre dirigiu o seu ensino à formação de analistas (Lacan, 1964/1985). Quando funda sua própria Escola, divide-a em duas seções: seção de psicanálise pura e seção de psicanálise aplicada.11 A primeira se ocupa da formação de analistas na doutrina da psicanálise. Comporta a psicanálise didática, ou seja, aquela conduzida ao seu fim a partir do desejo do analista. Visa ao estudo e à pesquisa dos conceitos psicanalíticos, à supervisão dos analistas em formação e à crítica interna de sua práxis. Mais que uma terapêutica, a psicanálise pura é da ordem de um engajamento na responsabilidade que a função de analista comporta, psicanálise em intenção. A seção de psicanálise aplicada se relaciona diretamente com a clínica e a terapêutica, procurando estabelecer articulações entre as estruturas conceituais e os termos categóricos aos resultados e indicações terapêuticas, ou seja, em extensão, sua presentificação no mundo (Lacan, 1971/2003; 1967/2003). Lacan opera uma cisão, um corte, no seio de sua própria escola. Esse estado de fenda gera uma compreensão equivocada do campo psicanalítico que desentrelaça as duas formas de psicanálise, fazendo oscilar o entusiasmo dos analistas: ora avivados pela sua incidência aplicada nas instituições, ora dedicados na trajetória pura do caminho do passe.

A título de ilustração destacamos dois momentos recentes da história psicanalítica extraídos de dois seminários de Jacques-Alain Miller: Um esforço de poesia (2002-2003) e Coisas de fineza em psicanálise (2008-2009). No primeiro, Miller convoca os analistas para criar instituições de tratamento psicanalítico na cidade fazendo frente, a partir de sua ética, ao avanço esmagador das teorias contemporâneas sobre a subjetividade humana. Um esforço de poesia, de aposta no sujeito do desejo (Miller, 2003/2005). Cinco anos depois foi o momento de intervenção inversa, rebatendo firmemente o avanço inesperado da psicanálise aplicada desarticulado da política do passe e da formação do analista. Talvez este constante apelo ao timoneiro, ao condutor do barco, que hora navega para a psicanálise aplicada, ora para a psicanálise pura, deve ser motivado, supomos, pela distância dos analistas do ensino de Sigmund Freud e Jacques Lacan. A expressão “retorno a Lacan”, utilizada por Miller (2008-2009), faz coro com a expressão “retorno a Freud” tantas vezes utilizada por Lacan. Sigmund Freud, em 1925, alertava sobre a importância de se levar às últimas consequências a teoria psicanalítica sobre a vida sexual infantil como eixo condutor de uma análise (Freud, 1925a/1996) e Jacques Lacan observava que a função principal da psicanálise é a produção de analistas (Lacan, 1971/2003), chegando a afirmar que não há outra psicanálise senão a psicanálise pura (Lacan 1964/1985). Propomos, como saída para o impasse entre a psicanálise pura e a psicanálise aplicada, um retorno a lógica estrutural proposta por Lacan.

Para ele, o sujeito do qual a psicanálise se ocupa é o sujeito da ciência, mesmo que isto represente certo paradoxo, solucionável a partir de sua noção de estrutura (Lacan, 1966/1998). Essa concepção permitiu a aproximação da psicanálise ao campo das ciências, ao mesmo tempo em que marcou de forma particular essa corrente de pensamento e o campo científico de forma geral. Se o estruturalismo expõe os objetos em rede, descrevendo o agenciamento dos elementos, isolando produtos e efeitos, desconsiderando subjetividade e temporalidade e neutralizando a causa para permitir a generalização de uma operação, o estruturalismo lacaniano, ao apresentar como objeto as experiências do psiquismo humano, reintroduz o singular de cada caso e localiza de forma particular a experiência subjetiva na lógica estrutural. A proposição de Jacques-Alain Miller diz que o engendramento da estrutura passa por uma ação que podemos dividir em estruturante e estruturada. A primeira localiza-se no plano real, ou seja, da percepção da experiência, e constitui seu estado. A segunda, no plano virtual, opera uma dedução a partir do vivido constituído como um saber necessário. O plano real modifica e constitui o plano virtual, que retroage no plano real. Uma ação que passa da descrição ao conhecimento, um movimento em continuidade, onde o contingente aparelha o necessário e vice-versa (Miller, 1964/1996).

No texto “Função e campo da fala e da linguagem” (1953/1998), também conhecido como “Relatório de Roma”, Lacan marca seu retorno ao ensino de Sigmund Freud a partir da lógica matemática, norte para a formalização de um rigor científico necessário à psicanálise. Em mais de trinta anos de transmissão, os matemas, os grafos, os esquemas e os nós serviram de artifícios para elaborações conceituais. A preocupação de Lacan com o estatuto científico da psicanálise, que ele considerava como vocação, é apresentada, em 1966, a partir da estrutura topológica da Banda de Moebius12. Este espaço lógico permite uma relação de continuidade entre o avesso e o direito podendo localizar saber e verdade numa mesma estrutura (1966/1998).

Na aula de 16 de maio de 1962 (Lacan, 1961-1962), utiliza o exemplo da formiga que, colocada em um dos lados da Banda, caminha em frente. Sem que seja percebida uma descontinuidade na superfície fronteiriça, a formiga atinge o ponto de partida pelo outro lado da banda, podendo retornar ao ponto inicial ao realizar outra volta. Ao caminhar infinitamente nesse movimento de torção que a Banda comporta, forma-se uma estrutura que permite articular saber e verdade. Um saber que localiza a verdade em seu avesso; verdade que, como causa, a ciência recusa saber.

Para reintroduzir o Nome-do-Pai na consideração científica, ou seja, para estabelecer a verdade enquanto causa para o sujeito, é o fazer princeps do analista que toma a cena: o ato analítico, cuja expressão máxima é a interpretação. Essa, para Lacan já em 1967, encontra-se em decadência, articulando de forma deficiente praxis/teoresis (Lacan, 1966-1967). A ação do psicanalista introduz uma inscrição de verdade (Lacan, 1957), tal como o neologismo que Lacan utilizou no seminário de 19 de abril de 1977, varidade, indicando a variedade das verdades singulares. Nele, Lacan aponta a variedade do sintoma enquanto tentativa de produção de verdade sobre a não relação sexual, uma verdade sempre do particular de cada caso, um saber fazer com o real, sendo toda verdade um projeto particular (Miller, 1998/1998). A intervenção do analista, seu saber fazer, realiza um corte na banda, restituindo avesso e direito e localizando a causa do desejo, num movimento de “decifração-cifração”, estabelecendo um laço inédito entre o saber e verdade própria, doxa verdadeira (Lacan, 1973b/2003; 1972/2003). Nesta perspectiva, a psicanálise aplicada não deve ser entendida apenas como a psicanálise na instituição ou fora do setting. Partindo da noção da ação da estrutura em duas ações, estruturada e estruturante, temos um enlace topológico entre a psicanálise pura e a psicanálise aplicada, numa estrutura moebiana, cabendo ao analista diante de seu saber fazer articular o particular de cada caso em nossa praxis com o campo da teoresis, contribuindo para o avanço das pesquisas e da presença da psicanálise na civilização.

O tema dos dispositivos, tão presente nos debates sobre psicanálise aplicada, ganha outro contorno em nossa proposta. Se seguirmos a definição de Gilles Deleuze (1990/1996), que propõe que um dispositivo é uma máquina de fazer ver e de fazer falar, os dispositivos adquirem, para nós, o estatuto de meio, pelo qual trilhamos para atingir nosso fim. Aos moldes do divã, do tempo e do dinheiro no setting clássico freudiano, os dispositivos contemporâneos presentes na prática lacaniana, tais como a apresentação de pacientes, a conversação, o cartel e, porque não, o passe são mecanismos de disparo. Disparo de um dizer que localiza o enganche singular de cada caso no laço social.

Para finalizar, gostaríamos de retomar o termo “entusiasmo”. Nós o fazemos pela “Nota italiana” (1973c/2003), onde Lacan articula o entusiasmo com o desejo de ocupar um lugar de semblante no discurso que lhe é próprio, como causa, para engajar o analisando diante da verdade que só se sustenta ex-sistindo ao campo do Outro (Lacan, 1973c/2003). Nesta mudança de perspectiva há um deslocamento. O entusiasmo ligado ao amor transferencial estabelece-se como transferência de trabalho. Trata-se da passagem do entusiasmo como relativo às causas sociais ou aos efeitos curativos ao entusiasmo enquanto possibilidade de exposições inéditas sobre o saber-fazer com o real (Coelho dos Santos, 2009/2009).

A difusão do discurso psicanalítico segue a radicalização das ideologias individualistas que contribuíram para absolutizar o direito ao gozo, empobrecendo as obrigações que sedimentam os laços sociais. O homem contemporâneo assemelha-se ao analista contemporâneo, desbussolado e sem qualidades, empobrecido quanto à transmissão da psicanálise (Miller, 2004/2009; Miller et Laurent, 1997/1997). Lembremos o famoso tripé: experiência enquanto analisando, conhecimento teórico e supervisão de sua prática, eixos que podem orientar a psicanálise aplicada em tempos dos comitês de ética (Miller et Laurent, 1997/1997). A intervenção do psicanalista na cidade exige uma retomada da política de formação do analista. Sua incidência política deve ser norteada pelos princípios da psicanálise pura, contribuindo para o avanço das pesquisas sobre a técnica, dispositivos, finalidades de uma análise e seus possíveis finais (Coelho dos Santos, 2008/2008).

Notas:

∗ Este texto faz parte da minha pesquisa de doutoramento em Teoria Psicanalítica, na UFRJ, sob orientação da Profa. Dra. Tania Coelho dos Santos.

1. O termo “saúde mental” neste artigo deve ser entendido como campo de intervenção sobre o mal viver, termo utilizado por Jean-Claude Milner no livro “Você quer mesmo ser avaliado? Entrevistas sobre uma máquina de impostura” (2006/2006). Este campo compreende as instituições, públicas ou privadas, onde o analista se faz presente em sua prática na cidade.

2. CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, serviço de saúde mental público da rede SUS, localizado em Santos Dumont – MG, município próximo a Juiz de Fora - MG, no qual trabalho desde 2000 e ocupo a Coordenação da Instituição e da Saúde Mental desde junho de 2006.

3. CAIA – Centro de Acolhimento a Infância e a Adolescência, organização não governamental do município de Juiz de Fora - MG, conveniada com a rede SUS e rede SUAS, da qual ocupo a Direção desde 2003.

4. Ver: HORNE, Bernardino. (2008) O que é um CPCT?, in Escola Brasileira de Psicanálise. Revista Correio. EBP: São Paulo, n. 60, 2008, p.53-56.

5. Em 08 de outubro de 2003 foi aprovada por unanimidade emenda parlamentar que regulamenta as profissões que concernem aos tratamentos psíquicos pelo Congresso Francês – Emenda Accoyer. No Brasil tramita no Senado Federal o projeto de Lei nº 7.703/06, conhecida como Lei do Ato Médico, que visa regulamentar a Resolução 1.627/01 do CFM, estabelecendo que atividades relacionadas à saúde como diagnósticos ou tratamento passam a ser de exclusiva competência do médico. Ficam assim afetadas ou subordinadas ao médico várias profissões da área da saúde, incluindo as práticas psi. Crescem no Brasil, como no resto do mundo, iniciativas de regulamentação da psicanálise, bem como portarias e manuais de orientação terapêutica governamentais para determinadas afecções, especialmente decorrentes do uso de substâncias químicas, com referências diretas às práticas psicoterápicas cognitivo-comportamentais.

6. Ver FREUD, 1925b/1996, p.307; 1937/1996, p.265.

7. Anotações de relato proferido por Tania Coelho dos Santos em sua recente intervenção no Congresso da AMP 2010 em Paris-FR, “Dictature de l’homogénéité ou droit à la jouissance autistique du sinthome”. Inédito.

8. “Quando você quiser fazer uma grande e bela obra, um livro, enfim, poderá colocar nele os seus pensamentos, sua alma, amá-lo, defendê-lo; mas artigos, lidos hoje e amanhã esquecidos, esses não valem a meus olhos senão aquilo que por eles nos pagam... Para conseguir encontrar-lhe defeitos, a crítica foi obrigada a inventar teorias com o propósito de distinguir duas literaturas: a que se entrega às idéias e a que recorre às imagens... O romance, que requer sentimentos, estilo e imagens, é a maior das criações modernas... Por isso, é o romance muito superior à discussão fria e matemática, à seca análise do século XVIII... pois bem, faça um esforço de poesia.” (Balzac, 1843/1978, p.20)

9. Terapia cognitivo-comportamental.

10. No Seminário 23: o sintoma (1975-76/2005), Jacques Lacan define o termo savoir-faire como “a arte, o artifício, o que dá à arte da qual se é capaz um valor notável” (p.59) Quando perguntado se a psicanálise seria um sinthoma (com th – grafia que redefine o sintoma de puro mal-estar para localização do sujeito no laço social), Lacan responde que não. Afirma que a psicanálise é uma prática cuja eficácia visa o enganche do sujeito na sua própria história e ao campo do Outro, mas afirma por extensão, que o psicanalista é um sinthoma (p.131) na medida em que sua decisão quanto a se colocar como causa para o analisando redefine sua posição na vida.

11. Lacan a divide em três seções, sendo a terceira chamada de “Recenseamento do Campo Freudiano” que se ocupa de publicação e divulgação dos temas de interesse da Escola. Para nosso estudo, interessa apenas as duas primeiras divisões por causa da sua relação direta com a prática clínica.

12. Espaço lógico obtido pela torção de uma fita em meia volta, fazendo a seguir, a união com a outra extremidade. Apresenta como característica principal ser não orientável. Ver Granon-Lafont, 1985/1990, p.26.



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Texto recebido em: 23/05/2009
Aprovado em: 04/05/2009